Robert Cleaver Chapman
Robert Cleaver Chapman: um irmão de verdade
Há quinze anos tive o privilégio de passar alguns dias na companhia de um casal idoso, chamado Frank e Freda Holmes, que trabalhava na obra de Deus na região sudeste da Inglaterra. Frank tinha sido pastor de uma igreja evangélica livre. Todavia, no final dos anos 50, deixara a denominação à qual pertencia com o fim de reunir-se com grupos de irmãos que procuravam seguir os princípios bíblicos de reunião. Uma das pessoas que ajudara Frank a tomar esta decisão foi um irmão muito querido naquela região, já falecido mais de meio século antes, Robert Chapman.
Frank Holmes, como um dos pastores na cidade de Barnstable, onde Chapman trabalhara, tinha ficado fascinado com a história deste homem de Deus. Escrevera a sua biografia depois de muita pesquisa e entrevistas com pessoas idosas que se lembravam dele. Como resultado, tomou a penosa decisão de seguir nos mesmos passos, não somente por admiração humana, mas por convicção bíblica.
Quem era Robert Chapman? O seu nome é pouco conhecido hoje, mesmo entre aqueles que estudam as vidas dos pioneiros dos chamados “irmãos”. Todavia, na sua época era bem conhecido como um grande guia espiritual. Como adolescente, Winston Churchill visitou-o. O grande pregador Charles H. Spurgeon chamou-o de: “O homem mais santo que jamais conheci”. Mesmo muito depois da triste divisão que aconteceu entre os chamados “irmãos” nos anos de 1840, John Nelson Darby, que estava do lado oposto, ao ouvir dois companheiros criticarem Chapman repreendeu-os: “Deixem aquele homem em paz, ele vive o que eu prego”, e, numa outra ocasião, disse: “Nós falamos dos lugares celestiais, mas Robert Chapman habita neles”.
Qual era o segredo da influência de Chapman sobre os outros? Um dos seus biógrafos recentes, Robert Peterson, responde: “Simplesmente, a sua devoção total a Cristo e a sua determinação a viver Cristo”.
Robert C. Chapman nasceu em 04 de janeiro de 1803. Era o sexto dos dez filhos de Thomas e Ann Chapman. Nasceu em Helsingor, Dinamarca, onde seu pai tinha uma firma próspera de importação e exportação. Parece que a família tinha apenas uma ligação formal com a religião. Como menino e adolescente, Robert mostrou muito entusiasmo em tudo o que fazia. Gostava muito do estudo das línguas. No lar aprendeu inglês, dinamarquês e francês. Tornou-se proficiente em alemão e italiano. Depois da sua conversão, aprendeu Hebraico e Grego, a fim de estudar as Escrituras nas línguas originais, e, como resultado do seu grande interesse em trabalho missionário, aprendeu Espanhol e Português!
Devido à guerra causada por Napoleão, os negócios dos Chapmans na Dinamarca diminuíram e a família voltou para Inglaterra, onde Robert completou a sua instrução formal.
Em 1818 Chapman saiu de casa e começou a estudar advocacia em Londres, provavelmente hospedando-se em casa de familiares. Depois de estudar cinco anos, formou-se como advogado. Aos 23 anos recebeu uma herança e foi-lhe possível fundar a sua própria firma, que começou a prosperar.
Todavia, três anos antes, algo muito mais importante havia acontecido. Um amigo advogado, John Whitmore, convidara-o a assistir à pregação de James Harrington Evans. Evans havia sido pastor Anglicano que saira da denominação por discordar do sectarismo. Pregou aquela noite a respeito da justificação baseada na redenção de Jesus Cristo. Robert Chapman aceitou Cristo como Salvador e Senhor. Começou a estudar a Bíblia com interesse e o desejo de obedecer a tudo o que lia. Evans passou muito tempo com o recém convertido, ensinando-o e encorajando-o nas coisas do Senhor.
No início, Robert sofreu muita oposição por parte dos membros da sua própria família e de velhos amigos. Não obstante, continuou firme. Nem todos os da sua família rejeitaram o seu testemunho. Manteve um bom contacto com a mãe, e, alguns dos seus irmãos converteram-se mais tarde. A sua prima Susan casou-se com um advogado rico chamado Thomas Pugsley, de Devon, no sudeste de Inglaterra. Querendo ouvir mais, o jovem casal viajou para Londres onde Robert teve o privilégio de os conduzir a Cristo. Chapman havia começado um trabalho entre os pobres em Londres e, como resultado, os Pugleys seguiram o mesmo exemplo quando voltaram para Devon.
Depois dos primeiros esforços de Robert em pregar, alguns amigos comentaram que ele nunca se tornaria num bom pregador. A resposta de Robert foi bem característica: “Há muitos que pregam a Cristo, mas não tantos que O vivam. O meu grande objetivo é viver Cristo”. Outro biógrafo de Chapman comentou: “Se for verdade que Romanos 1:17, ‘O justo viverá pela fé’, é o versículo de Martinho Lutero, então este versículo, Filipenses 1:21, ‘Para mim o viver é Cristo’, é o versículo de Robert Chapman”.
No verão de 1831 os Pugsleys convidaram Robert a passar férias em Devon. Ele pregou em várias casas e estava muito animado neste trabalho. Como resultado desta visita a Devon, Robert recebeu a chamada para se tornar pastor da congregação de “Batistas Particulares” que se reunia na Ebenezer Chapel em Barnstable. Sentindo que esta era a vontade de Deus, Chapman aceitou, desde que lhe concedessem o direito de pregar tudo o que se encontrava na Bíblia. Em abril de 1832, Robert deixou para trás a sua firma de advocacia em Londres, distribuiu a sua fortuna pessoal, guardando para si o suficiente para comprar uma casa, e mudou-se para Barnstable, uma cidade portuária de alguns milhares de habitantes.
A fiel pregação da Palavra conduziu inevitavelmente ao ensino de verdades que não estavam de acordo com os princípios denominacionais. O livro batista local “Livro de Memórias” relata que a chegada de Chapman “levou por fim a uma nova ordem de coisas que separou a igreja da Associação [Batista] e da Denominação em geral”. A congregação de Barnstable associou-se logo a um número crescente de igrejas autónomas, reuniões de crentes que rejeitavam todo nome denominacional, reunindo-se simplesmente no Nome do Senhor.
Estas igrejas (incluindo Barnstable) celebravam a Ceia do Senhor semanalmente no primeiros dia da semana e rejeitavam a falsa distinção entre “clero” e “leigos”, crendo no sacerdócio de todos os crentes.
Robert Chapman queria uma casa onde poderia oferecer hospitalidade ao povo do Senhor. Um detalhe interessante é que Chapman insistiu em limpar e engraxar os sapatos dos seus hóspedes todas as noites. Chapman pedia aos seus convidados que deixassem os seus sapatos ou botas fora dos seus quartos para que ele pudesse limpá-los. Quando as pessoas contestavam, Chapman não cedia. Um hóspede lembra-se de Chapman ter dito: "Não é costume nos nossos dias lavar os pés uns dos outros; o que quase corresponde a esse mandamento do Senhor é limpar os sapatos uns dos outros.
Ele comprou uma casa em New Buildings, Nº 6, que veio a ser a sua residência nos 70 anos seguintes! Nunca se casou. Dedicou o resto da sua vida ao evangelismo e trabalho pastoral naquela cidade e região necessitadas. Devido à necessidade de ter mais lugares para hospedar os servos do Senhor, a casa no outro lado da rua New Buildings nº 9, foi comprada uns anos depois.
Em 1838 um grupo de Batistas Particulares que havia saído da Ebenezer Chapel, exigiu que a igreja entregasse o prédio. Chapman examinou os documentos relacionados ao corpo jurídico do prédio. Não encontrou nenhuma exigência quanto à pregação das doutrinas relacionadas à denominação dos Batistas Particulares. Chapman sentiu, porém, que seria um melhor testemunho entregar o edifício e isto foi feito. A igreja passou a reunir-se em acomodação temporária por quatro anos, até que o Senhor providenciou em 1842 um outro prédio, chamado originalmente Bear Street Chapel e hoje Grosvenor Street Chapel.
O Senhor abençoou os Seus servos. Chapman trabalhou com vários irmãos e irmãs tais como Thomas Pugsley, Robert Gribble, Senhorita Bessie Paget, Henry Heath e mais tarde William Hake. Dois jovens que se converteram nos primeiros anos na Ebenezer Chapel eram William Bowden e George Beer. Os dois tornaram-se missionários por muitos anos na Índia.
A igreja cresceu. Já em 1851, 150 pessoas participavam na Ceia do Senhor, 100 crianças na Escola Dominical e 300 pessoas na reunião de ensino no domingo. No ano de 1870 mais de 700 pessoas assistiam ao domingo. Como resultado dos trabalhos de muitos servos de Deus, mais de 80 igrejas semelhantes foram fundadas na região.
Missionário e Exemplo
Além dos trabalhos locais, Chapman teve grande desejo de ver países católicos romanos, tais como Irlanda, Espanha e Portugal, alcançados pelo Evangelho. Visitou Espanha e Portugal em 1838, 1863 e 1871. Uma visita prolongada à Irlanda foi feita em 1848. Na maior parte das vezes andava a pé e pregava gastando até seis meses em cada visita.
Chapman tentou ser um pacificador nos conflitos que dividiram os “irmãos” nos anos 1845 em diante, mas tristemente com pouco resultado.
As pessoas deviam muito a Chapman pelo exemplo de vida que deixou. Muito também pode ser dito do seu amor para com os irmãos e mesmo àqueles que o perseguiram e o desprezaram. Até ao fim, foi um estudioso dedicado das Sagradas Escrituras. Tinha uma grande paixão pelo evangelismo dos perdidos. Pregou ao ar livre até à extrema velhice. Era amigo, conselheiro e confidente de pessoas tais como George Muller e Hudson Taylor.
A sua última participação nas reuniões especiais anuais em Barnstable foi a mensagem que deu em junho de 1902, aos 99 anos de idade. Ficou em pé por exatamente uma hora. Pediu hinos, orou, leu as Escrituras e ministrou “com muito vigor”. O Senhor chamou-o ao lar celestial no dia 02 de junho de 1903, após um curto período de enfermidade, aos 100 anos de idade. Sem dúvida ouviu as palavras de louvor: “Bem está, servo bom e fiel… entra no gozo do teu Senhor”(Mateus 25:21).
Por Robert L. Peterson & Alexander Strauch
em Agape Leadership
FONTE:
https://iqc.pt/edificacao/devocional/biografias/16081-robert-cleaver-chapman-um-irmao-de-verdade
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