Poder Que Se Aperfeiçoa na Fraqueza
“Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós.” (2 Coríntios 4:7)
Cristão é aquele em quem existe um paradoxo essencial, e este paradoxo vem de Deus. Muitos acham que o cristão verdadeiro é aquele que vive sempre sorrindo, alguém que nunca derrama uma só gota de lágrima, pois isto seria uma demonstração de derrota. Para estes, esboçar qualquer tipo de temor ou fraqueza seria evidência de total fracasso em seu viver. Pensam que ser cristão é ser participante de uma categoria especial de seres angelicais, os quais estão imunizados contra todas as tribulações deste mundo. Porém, nos enganamos quando assim pensamos.
O novo nascimento não nos outorga nenhum salvo conduto para as aflições deste mundo; pelo contrário, por termos nascido de novo as tribulações são parte integrante da promessa do Senhor Jesus para todo regenerado. Lemos, no livro de João 16:33: “Estas coisas vos tenho dito para que tenhais paz em mim. No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo.” A regeneração não nos livra das provações, pelo contrário, ela significa a nossa matrícula na universidade disciplinar do Senhor. O livro de Hebreus 12:6 nos dá luz sobre este assunto: “Porque o Senhor corrige a quem ama e açoita a todo filho que recebe.”
Afirmamos que o novo nascimento é muito mais do que uma transformação de vida: é uma genuína substituição de vida. Quando creio que a morte de Cristo foi verdadeiramente a minha morte estou dando adeus, definitivamente, a minha velha vida. Consequentemente, quando creio na minha inclusão na ressurreição de Cristo estou confessando o que está escrito em Gálatas 2:20b: “Logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim....” A regeneração implica nesta experiência fundamental: não mais eu, mas Cristo vivendo em mim.
Diante deste fato, muitos argumentam: se o novo nascimento é uma substituição real de vida, a nossa pela de Cristo, porque temos tantas fraquezas? Se Cristo é a nossa vida, por que muitas vezes nos abatemos e ficamos tristes, e até nos desesperamos? Paulo responde a estas indagações mostrando que a genuína experiência cristã é cercada de paradoxos. Em 2 Coríntios 4:8-9, está escrito: “Em tudo somos atribulados, porém não angustiados; perplexos, porém não desanimados; perseguidos, porém não desamparados; abatidos, porém não destruídos.” Onde estava a vitória de Paulo? Ele revela o seu segredo em 2 Coríntios 4:10: “Levando sempre no corpo o morrer de Jesus, para que também a sua vida se manifeste em nosso corpo.” Ser cristão é viver um intenso paradoxo.
Muitos pensam que no viver cristão só existe o Tesouro, e não o vaso; porém, a Bíblia ensina que vida cristã é Tesouro em vaso de barro. O propósito de Deus não anula o vaso. O cristão é sempre o vaso de barro onde o Tesouro é encontrado. Paulo era um homem como qualquer outro, mas a vida de Cristo se expressava nele. Em muitas oportunidades Paulo fala de sua fragilidade como vaso de barro. Ele era um homem, um homem como qualquer outro, mas a vida de Cristo podia ser tocada nele.
O apóstolo da graça afirma em 2 Coríntios 1:8-9, 4:16-17, 6:4,5,8-10: “Porque não queremos, irmãos, que ignoreis a natureza da tribulação que nos sobreveio na Ásia, porquanto foi acima das nossas forças, a ponto de desesperarmos até da própria vida. Contudo, já em nós mesmos, tivemos a sentença de morte, para que não confiemos em nós e sim no Deus que ressuscita os mortos. Por isso, não desanimamos; pelo contrário, mesmo que o nosso homem exterior se corrompa, contudo, o nosso homem interior se renova de dia em dia. Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação. ...Na muita paciência, nas aflições, nas privações, nas angústias, nos açoites, nas prisões, nos tumultos, nos trabalhos..., por honra e por desonra, por infâmia e por boa fama, como enganadores e sendo verdadeiros... como castigados, porém não mortos; entristecidos, mas sempre alegres; pobres, mas enriquecendo a muitos; nada tendo, mas possuindo tudo.”
Paulo não era um robô, tinha sentimentos. Ele sabia que a vida de Cristo nele era a sua plena vitória. Paulo tinha plena consciência de que era um vaso de barro, porém gozava da certeza de que Cristo, o real Tesouro, era a sua vida. É muito importante enfatizarmos que não perdemos a nossa pessoalidade quando cremos na nossa morte e ressurreição em Cristo, pelo contrário, ganhamos a nossa verdadeira identidade. Ser cristão não é apenas uma questão de Tesouro, nem tão somente de vaso de barro, mas de Tesouro em vaso de barro. Watchman Nee disse: “O viver cristão não é a remoção da fraqueza, nem tampouco e meramente a manifestação do poder divino; é a manifestação do poder divino na fraqueza humana.”
Não faz parte do plano de Deus remover a nossa fraqueza, pois é através dela que Ele manifesta o Seu poder. O texto de 2Coríntios 12:7-10 é muito esclarecedor: “E, para que
não me ensoberbecesse com a grandeza das revelações, foi-me posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que não me exalte. Por causa
disto, três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de mim. Então, Ele me disse: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo. Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte.”
Como pode o Senhor expressar o seu poder em um homem fraco? O caminhar cristão implica exatamente isto. O poder do soberano Senhor flui através de vasos de barro. No
entanto, jamais devemos pensar que a fraqueza humana pode limitar o poder de Deus.
Como já afirmamos, não pertencemos a uma categoria de seres angelicais, somos humanos em cuja fraqueza Deus manifesta o Seu poder. Em 2 Coríntios 2:14-15 aprendemos que somos um frasco, e Cristo é o bom perfume: “Graças, porém, a Deus, que, em Cristo, sempre nos conduz em triunfo e, por meio de nós, manifesta em todo o lugar a fragrância do seu conhecimento. Porque nós somos para com Deus o bom perfume de Cristo…”.
Como cartas, trazemos uma mensagem: Cristo em nós. Paulo afirma em 2 Coríntios 3:2-3: “Vós sois a nossa carta, escrita em nosso coração, conhecida e lida por todos os homens, estando já manifestos como carta de Cristo, produzida pelo nosso ministério, escrita não com tinta, mas pelo Espírito do Deus vivente, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne, isto é, nos corações.”
Precisamos de luz para termos a revelação da nossa total fraqueza e incapacidade, pois somente assim o poder de Deus há de se aperfeiçoar em nós. Toda a glória é para o Tesouro, nunca para o vaso de barro. Toda a vitória em nosso viver procede da única fonte: o Tesouro em nós. O objetivo é a exaltação do Tesouro e não do vaso de barro. As palavras de Watchman Nee esclarecem ainda mais este pensamento: O Tesouro torna-se cada vez mais manifesto, mas o vaso de barro ainda é o vaso de barro. Paulo nos instrui o caminho da vitória que ele desfrutava. Em 2 Coríntios 4:10 lemos: Levando sempre no corpo o morrer de Jesus, para que também a sua vida se manifeste em nosso corpo.
As pessoas que são inclinadas a olharem muito para a qualidade do vaso de barro ou mesmo para os seus defeitos, perdem de vista a excelência do Tesouro, consequentemente, não desfrutam de um viver vitorioso.
Porém, quando fixamos os nossos olhos no Tesouro, a vitória é certa em qualquer circunstância. Amados irmãos, que fique claro: a vitória do cristão está relacionada com a sublimidade do Tesouro, e não com a qualidade do vaso que o contém.
As palavras de Walter B. Knight são oportunas: O cristão é a mente através da qual Cristo pensa; o coração através do qual Cristo ama; a voz através da qual Cristo fala; a mão através da qual Cristo ajuda. Estas palavras definem claramente um cristão. Como é bom ouvir o doce som das palavras do Senhor: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. Amém!
Tomaz Germanovix
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