O Filho - a Glória de Sua Obra
Depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da majestade, nas alturas (Hebreus 1:3)
A descrição da glória da pessoa de Cristo é seguida da descrição da obra deste Filho em quem Deus nos fala. As palavras de Deus são atos. Deus fala conosco naquilo que
Cristo é e faz. Na divindade e encarnação de Cristo, vemos o que Deus nos deu. Em sua vida, morte e ascensão, vemos como o dom de Deus entra e age na vida humana, vemos também quão completa é a nossa salvação e o que Deus agora nos pede.
A obra de Cristo é a palavra de Deus para nós.
Essa obra consiste de duas partes; uma na terra, outra nos céus. Em relação à primeira, nos é dito que "Ele fez a purificação dos pecados"; em relação à segunda, que "Ele assentou-se à direita da majestade, nas alturas". Em uma vida cristã sadia, devemos conhecer e apegar-nos a ambas partes da obra de Cristo. A obra que ele realizou sobre a terra foi somente o início da obra que realizaria no céu. A obra na terra encontra sua perfeição e glória em sua obra no céu. Como Sacerdote, ele realizou a purificação dos pecados na terra; como Rei-Sacerdote, ele assenta-se à direita da Majestade nas alturas para operar sua obra, para conceder suas bênçãos no poder celestial e manter a vida celestial dentro de nós.
"Depois de ter feito a purificação dos pecados". A purificação dos pecados que Cristo realizou antes de ir ao céu é o fundamento de toda a sua obra. Aprendamos, desde o início, que o que Deus tem para nos falar em Cristo inicia neste ponto: o pecado precisa ser purificado.¹
“Na prefiguração do Antigo Testamento, a expiação podia apenas cobrir os pecados (Sl 32:1); não podia remover os pecados. Assim, os sacerdotes que faziam a expiação estavam de pé todos os dias, oferecendo os mesmos sacrifícios (10:11), e jamais podiam sentar-se. No entanto, o Filho tirou o pecado (Jo 1:29) e realizou a purificação dos pecados uma vez por todas. Portanto, sentou-se para sempre (10:10, 12). Este livro, onde está presente o conceito de que todas as coisas positivas são celestiais, aponta para o próprio Cristo que está nos céus. Nos Evangelhos, vê-se o Cristo que viveu na terra e morreu na cruz para cumprir a redenção. Em Atos, vê-se o Cristo ressuscitado e ascendido que é propagado e ministrado aos homens. Em Romanos, vê-se o Cristo que é a nossa justiça para justificação e a nossa vida para santificação, transformação, conformação, glorificação e edificação. Em Gálatas, vê-se o Cristo que nos capacita a viver uma vida que se contrapõe à Lei, à religião, à tradição e ao formalismo. Em Filipenses, vê-se o Cristo que se expressa no viver dos Seus membros. Em Efésios e Colossenses, vê-se o Cristo que é a vida, o conteúdo e a Cabeça do Corpo, a igreja. Em 1 e 2 Coríntios, vê se o Cristo que é tudo na vida prática da igreja. Em 1 e 2 Tessalonicenses, vê-se o Cristo que é a nossa santidade para a Sua vinda. Em 1 e 2 Timóteo e Tito, vê-se o Cristo que é a economia de Deus, que nos capacita a saber como nos conduzirmos na casa de Deus. Nas Epístolas de Pedro, yê-se o Cristo que nos capacita a aceitar os tratamentos governamentais de Deus que nos são administrados mediante os sofrimentos. Nas epístolas de João, vê-se o Cristo que é a vida e a comunhão dos filhos de Deus na família de Deus. Em Apocalipse, vê-se o Cristo que anda entre as igrejas nesta era, que regerá o mundo no reino na era vindoura e que expressa Deus em glória plena no novo céu e na nova terra pela eternidade. Neste livro, vê-se o Cristo presente, que agora está nos céus como nosso Ministro (8:2) e como nosso Sumo Sacerdote (4:14-15; 7:26), ministrando-nos a vida, graça, autoridade e poder celestiais e sustentando-nos para vivermos uma vida celestial na terra.
Ele é o Cristo agora, o Cristo hoje e o Cristo que está no trono nos céus, que é a nossa salvação diária e o nosso suprimento para todos os momentos.”²
“Assentou-se à direita da Majestade, nas alturas”. Majestade aqui tem a conotação de grandeza; o que denota Deus como Aquele que é grandioso com a Sua dignidade.
E a expressão ‘nas alturas’, refere-se ao ‘lugar elevado’, ou seja, o terceiro céu, ‘o lugar mais elevado do universo’.”
“Esse é o pensamento principal da redenção. Enquanto procurarmos a salvação movidos principalmente pelo desejo de obter segurança pessoal, ou estudarmos a pessoa e obra de Cristo como uma mera revelação daquilo que é belo e bom não poderemos entrar plenamente em seu poder. Deus insiste na purificação dos pecados, e deseja tão intensamente essa purificação que deu seu próprio Filho para morrer por essa causa! É no intenso desejo por purificação de pecados que será encontrada, durante toda a vida cristã, a capacidade espiritual de vir e entrar na salvação de Cristo. Isso encontra-se na raiz de todas as coisas. É o segredo da perfeição cristã. Foi somente quando Cristo realizou essa obra que o céu abriu-se para ele. A aceitação plena da purificação dos pecados, como o significado dessa palavra o demonstrará posteriormente, será, também para nós, a entrada na vida celestial.
Depois de ter feito a purificação dos pecados, "assentou-se à direita da majestade, nas alturas". É ali que o Filho vive, abrindo e mantendo aberto para nós o abençoado acesso à presença de Deus e à comunhão. É dali que ele nos conduz a essa comunhão e nos permite desfrutar dela continuamente.
No poder que ali predomina, ele torna o reino dos céus uma realidade em nosso coração. O objetivo supremo da Epístola aos Hebreus é descortinar-nos a glória celestial de Cristo como a base de nossa confiança, a medida de nossa esperança e o caráter daquela salvação interior que ele concede.
O fato de Cristo como nosso líder e precursor ter rasgado o véu e, no poder de seu sangue, ter tomado posse e assegurado nosso acesso ao Santo dos Santos não significa meramente que poderemos entrar no céu quando morrermos. Todo o ensinamento prático da epístola é resumido e aplicado em uma palavra: "Tendo intrepidez para entrar, aproximemo-nos: entremos". O fato de Cristo estar assentado no trono no céu significa que somos verdadeiramente trazidos à presença santa de Deus por meio do poder sobrenatural que a vinda do Espírito Santo concede, e ali vivemos nossa vida diária.
Foi porque os hebreus desconheciam isso, porque estavam satisfeitos com verdades básicas a respeito de fé e conversão e com uma vida no céu depois da morte que eles falharam de forma tão evidente. Saber, de fato, que Jesus está assentado à direita de Deus nas alturas seria a cura para suas enfermidades, a restauração da alegria e da força de uma vida segundo seu chamamento celestial.
A igreja de nossos dias sofre pela mesma razão e necessita da mesma cura. É tão mais fácil apropriar-se da obra de Cristo na terra do que de sua obra no céu. É tão mais fácil aceitar a doutrina de um Substituto e de uma expiação, de arrependimento e perdão do que de um Sumo Sacerdote que nos leva à presença de Deus e mantém-nos em uma comunhão de amor com ele.
Não é o derramar do sangue na terra apenas, mas é o aspergir do sangue no céu e desde o céu em nosso coração e consciência que nos trazem o poder da vida celestial. É unicamente isso que nos torna cristãos que buscam não somente entrar pela porta, mas também aqueles que diariamente prosseguem no caminho vivo que conduz cada vez mais profundamente para dentro do Santo dos Santos.
Não pense que falo de algo muito elevado. Eu falo daquilo que é sua herança e destino. A mesma porção que você tem em Jesus na cruz você tem em Jesus no trono. Esteja pronto para sacrificar sua vida na terra em troca da vida celestial; esteja pronto para seguir Cristo completamente em Sua separação do mundo e entrega à vontade de Deus; e o Cristo no céu provará em você a realidade e o poder de Seu sacerdócio celestial.
Permita que a purificação de seus pecados seja para você o mesmo que foi para Cristo o acesso ao Santo dos Santos.
Aquele que efetuou a purificação de pecados na terra, e a concede pessoalmente a partir do céu, certamente o conduzirá a toda a plenitude de bênção que isso abriu para ele e para você.
O fundamento da fé tem quatro grandes alicerces sobre os quais o edifício se assenta - a divindade de Cristo, sua encarnação, a expiação na cruz e a ascensão ao trono. Essa última é a mais maravilhosa, a coroa de todo o restante, a revelação perfeita do que Deus fez de Cristo por nós. Assim, na vida cristã, isso é o mais importante, é o fruto glorioso de tudo o que veio anteriormente.
O Espírito Santo foi enviado após a ascensão. Por quê? Para que pudesse testemunhar-nos de um Cristo celestial e pudesse trazer o reino dos céus ao nosso coração e à nossa vida.
"Purificação dos pecados". Alguém disse: "Neste momento, eu vi claramente que tudo o que o Senhor comunicaria e faria conhecido a respeito de si mesmo e do mistério de seu reino, ele o faria em pureza e santidade". Há duas maneiras de abordar a verdade mais excelente da palavra de Deus em relação à santidade e semelhança a Jesus. Uma é o desejo de conhecer plenamente toda a verdade da Escritura a fim de que nosso sistema doutrinário seja completo e perfeito. A outra é o desejo profundo e intenso de ser
libertado do pecado, tão livres quanto Deus pode nos tornar nesta vida. É unicamente a partir dessa última que nos será concedido real acesso à vida celestial de Cristo.”
(...)
(¹ A. Murray; ² W. Lee)
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