A VIDA DA ALMA
"Quem ama a sua vida perde-a; mas aquele que odeia a sua vida neste mundo preservá-la-á para a vida eterna." (Jo 12:25)
Há três verdades fundamentais concernentes à cruz de Cristo. A primeira delas implica em duas realidades: O Senhor carregou, em seu corpo, na cruz, todos os nossos pecados; o nosso velho homem foi com Ele crucificado. Os textos a seguir mostram estes fatos: Carregando Ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que
nós, mortos para os pecados, vivamos para a justiça; por suas chagas, fostes sarados. Sabendo isto: que foi crucificado com Ele o nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja destruído, e não sirvamos o pecado como escravos. 1 Pedro 2:24 e Romanos 6:6.
A segunda verdade fundamental, que envolve a obra da cruz, está relacionada com a nossa morte para o mundo. O livro de Gálatas 6:14 certifica este assunto: Mas longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu, para o mundo. Em outras palavras, Paulo gloriava-se na cruz
de Cristo na qual ele havia sido crucificado, por isso o mundo não significava nada para ele, e não somente isto, ele mesmo também, não tinha nenhum valor para o mundo.
A terceira verdade fundamental, que envolve a obra da cruz, é essencial para o crescimento de todo filho de Deus. Sem a operação da cruz na vida da nossa alma, e isto diariamente, como iremos expressar a Cristo, que é a nossa vida? Sabemos a verdade que já morremos em Cristo para o pecado; conhecemos o fato de que, pela cruz, estamos mortos para o mundo, no entanto, agora precisamos experimentar o morrer diário de nossa vida natural.
Neste momento, é importante fazermos uma diferença entre a alma e a vida da alma. A alma é um órgão criado por Deus, e ela é uma parte tremendamente importante na constituição do homem. A luz da palavra de Deus o homem é um ser tripartite.
O livro de Gênesis 2:7 esclarece este fato: Então, formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente.
A palavra vida, em destaque acima, no original, encontra-se no plural. Podemos dizer que, o fôlego de vida (espírito do homem) em contato com o pó da terra resultou numa alma vivente. Através de sua alma, o homem tornou-se um ser consciente de si mesmo. O ser humano é constituído de um corpo, uma alma e um espírito. E é exatamente a alma que expressa a nossa personalidade. É por ela que podemos pensar, sentir, raciocinar e escolher. Estas coisas representam nossa personalidade.
Podemos afirmar que a alma é a pessoa. Em seu sentido original, não há nada de errado com a alma, mesmo porque ela é uma criação divina. Seguramente dizemos que não é a nossa alma que precisa ser crucificada com Cristo.
Então, o que é a vida da alma? A vida da alma é o EU.
Sabemos que a queda do homem trouxe terríveis consequências para esta humanidade. Por causa da rebelião de Adão, a morte tornou-se uma realidade na história do homem. O mundo também ficou todo infectado pela implacável ação do pecado.
Esta rebelião também fez com que o homem se tornasse um ser independente de Deus. Assim sendo, o homem, algemado no seu próprio pecado, passou a ser dirigido por ele mesmo. A partir da queda, o homem não mais depende de Deus, conseqüentemente se tornou um escravo dele mesmo. Os seus pensamentos, as suas emoções e também a sua vontade encontram-se reféns do seu próprio EU.
Fica claro que há uma alma e também há uma vida que governa esta alma. E o que precisa ser crucificado com Cristo é a vida que governa a nossa alma. No livro de Lucas 9:24 está
escrito: Pois quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; quem perder a vida por minha causa, esse a salvará. Nesta passagem, a palavra vida deve ser compreendida como vida da alma, o EU. Se alguém ama ou deseja satisfazer a sua própria vida, ou a vida da alma, diz a palavra de Deus, irá perdê-la.
Com relação à nossa alma, aquele órgão criado por Deus, observe o que diz a Escritura: “Pois o Filho do Homem não veio para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las.” (Lucas 9:56). Para entendermos bem esta passagem, devemos compará-la como texto base de nossa reflexão: “Quem ama a sua vida perde-a; mas aquele que
odeia a sua vida neste mundo preservá-la-á para a vida eterna.” (João
12:25). Na primeira citação, o Senhor afirma que Ele não veio para destruir as almas, mas sim, para salvá-las. Contudo, na segunda Ele fala que devemos odiar a nossa "alma" ou vida. Como entender estas colocações feitas pelo Senhor Jesus?
Pensemos um pouco nestes dois versículos: No contexto original, a palavra "almas" do texto de Lucas é a mesma palavra para "vida" ou alma nas duas primeiras menções do texto de João. Nos dois casos, a palavra utilizada é "psuche". No entanto, em Lucas, a palavra "almas" refere-se às pessoas, enquanto que em João, a palavra "vida" ou alma, como está no original, refere-se à vida da alma, o EU.
Verdadeiramente Cristo veio para nos salvar, salvar pessoas, e nos livrar da condenação do inferno. Mas depois de salvos, o Senhor quer nos livrar do nosso pior inimigo, a vida da nossa alma, o nosso EU.
Estamos considerando a terceira verdade fundamental da obra da cruz no regenerado. As palavras de Jessie Penn-Lewis são oportunas:...Porém é possível receber luz a respeito de todos estes aspectos da cruz e experimentar uma certa libertação através da verdade e mesmo assim não conhecer, bem lá no profundo do nosso ser, a retirada do EGO
como centro em nossas vidas conforme o apóstolo coloca em 2 Coríntios 5:14. Em outras palavras, há algo mais profundo a ser tratado do que a morte para o "pecado" e para o "mundo". É o EGO, o EU.
A autora continua sua consideração perguntando: Será que a cruz já penetrou lá? É até essa profundeza que precisamos chegar para trazer a cruz. Não há outro meio do Senhor liberar os seus rios de água viva ou de sermos trazidos ao lugar de autoridade sobre o poder das trevas, porque o EU está envenenado em sua fonte pela natureza caída do primeiro Adão.
Todo nascido de novo foi vivificado em seu espírito.
Segundo a palavra de Deus, é a terceira Pessoa da triunidade, o Espírito Santo, quem torna real a vida de Cristo em nosso íntimo. Mas, a Escritura sagrada revela que a vontade de Deus também envolve a formação do caráter de seu Filho em cada regenerado. Esta verdade pode ser vista em Romanos 8:29, onde lemos: “Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes a imagem de seu Filho, a fim de que Ele seja o primogênito entre muitos irmãos.”
Levantamos uma pergunta: Onde a imagem do Filho de Deus deve ser impressa naquele que nasceu de novo? A resposta é: Na alma que está sendo liberta das garras do EU. Cristo já é a vida em nosso espírito, porém, Ele precisa expressar-se através de nossos
pensamentos, nossas emoções e também em nossa vontade. Ou seja, Deus quer que o caráter de Cristo seja manifestado em cada filho dele.
O texto de João 3:30 mostra o propósito de Deus: “Convém que Ele cresça e que eu diminua.” Colocado de outro modo, isto nada mais é do que o caminho da santificação.
Uma outra pergunta faz-se necessária: Como Deus atingirá o seu propósito de formar Cristo em nós? A resposta é simples. Deus já nos matriculou em sua escola de disciplina.
A grande questão é: estamos dispostos a ser tratados, disciplinados por Ele? Damos boas vindas às tribulações?
Estamos prontos para sofrer pelo nome de Cristo?
Será que me encaixo nos seguintes diagnósticos: Sou do tipo irritadiço, impaciente, amargurado? Procuro sempre um culpado pelo meu fracasso? A murmuração é a minha
principal companheira? Sou do tipo que acha que Deus e o mundo conspiram contra mim? Qual é a minha reação quando sou contrariado? Percebo em meu coração qualquer sentimento de mágoa, ou falta de perdão? O que é isto senão uma alma escrava do EU e de seus caprichos?
Vale salientar que, quando rejeitamos o tratamento da cruz na vida de nossa alma, estamos dando brecha para que satanás alcance vantagem sobre nós. Um exemplo apenas é
suficiente para verificarmos a seriedade deste assunto: “A quem perdoais alguma coisa, também eu perdôo; porque, de fato, o que tenho perdoado, se alguma coisa tenho perdoado, por causa de vós o fiz na presença de Cristo; para que satanás não alcance vantagem sobre nós, pois não lhe ignoramos os desígnios.” (2 Coríntios 2:10-11).
Ainda podemos levantar a questão acima, olhando pelo aspecto positivo: Qual é o principal anseio de minha alma?
Cristo ou coisas? Tenho experimentado descanso em meio às provações? Tenho gozo e paz em meio às lutas? Tenho experimentado a mansidão de Cristo?
Irmãos, devemos ser honestos e reconhecer que nós mesmos somos o maior impedimento para a revelação de Cristo em nossas almas. A vida de nossas almas ainda é tremendamente forte e, por isso, pouco ou nada experimentamos da vida ressurreta de Cristo em nosso íntimo. Enquanto continuarmos olhando para nós mesmos, para a nossa justiça, para os nossos direitos e valores não avançaremos no conhecimento de Cristo.
Não há como a Vida se expressar no filho de Deus, enquanto este estiver agarrado àquilo que já está condenado, que é a vida de sua alma.
O Senhor tem chamado os seus para seguirem o caminho da cruz. E é somente deste modo que podemos ser seus servos. Através de sua Vida se manifestando em nós podemos ser instrumentos úteis em suas mãos. O texto de João 12:26 aponta: “Se alguém me serve, siga-me, e, onde eu estou, ali estará também o meu servo.” Leremos novamente o verso 25: “Quem ama a sua vida perde-a; mas aquele que odeia a sua vida neste mundo preservá-la-á para a vida eterna.”
Uma outra pergunta para refletirmos: Quanto a cruz já trabalhou verdadeiramente em nós? Que Deus, em sua infinita graça, complete a sua obra em nossas vidas, e que, naquele Dia, Cristo possa ser visto e admirado nos santos conforme 2 Tessalonicenses 1:10: “Quando vier para ser glorificado nos seus santos e ser admirado em todos os que creram, naquele dia (porquanto foi crido entre vós o nosso testemunho).”
Toda a glória e toda a honra sejam dadas àquele que é a Vida de nossa alma!
Tomaz Germanovix
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