Aprender a Cristo
“Mas não foi assim que aprendestes a Cristo, 21 se é que, de fato, o tendes ouvido e nele fostes instruídos, segundo é a verdade em Jesus.” (Efésios 4:20)
Para muitos, o título acima pode não fazer muito sentido, pois o mais lógico seria escrevermos: Aprender a respeito de Cristo ou mesmo Aprender de Cristo. Será que
há alguma diferença entre eles, ou estamos falando de uma mesma coisa? Sim, há uma grande diferença, pois o objetivo prioritário das Escrituras sagradas implica em nos revelar uma Pessoa, o Filho de Deus, e não somente ensinar verdades a respeito de Cristo. Portanto, "Aprender a Cristo" é se ocupar com Ele mesmo, e não com doutrinas concernentes a Ele, ainda que estas sejam importantes, pois elas nos conduzem a Ele.
T.A. Sparks, usando o texto de Mateus 11:29: “Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração”, nos ajuda a compreender a diferença entre 'Aprender a Cristo' e 'Aprender de Cristo'. Segundo Sparks, excluir uma palavra bem pequena faz toda a diferença e nos dá o verdadeiro sentido. O Senhor Jesus, enquanto estava aqui, pôde apenas fazer uma colocação objetiva, pois o tempo subjetivo ainda não havia chegado, assim Ele tinha que dizer, aprendei de mim. Quando o tempo subjetivo chegou, o Santo Espírito levou o apóstolo a excluir a palavra "de", e a dizer apenas aprender Cristo.
No evangelho de João, encontramos citações claras no que se refere ao ministério do Espírito Santo.
Observemos como o doce Consolador se ocupa em evidenciar a Cristo: “Quando, porém, vier o Consolador, que eu vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da verdade, que Dele procede, esse dará testemunho de mim. Quando vier, porém, o Espírito da verdade, Ele vos guiará a toda verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas que hão de vir. Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar.” (João 15:26) e (16:13-14). Está claro nestas passagens que a terceira Pessoa da Trindade tem como objetivo revelar a Cristo.
O próprio Pai celestial revelou que toda a sua atenção está voltada para o seu santo Filho: “E eis uma voz dos céus, que dizia: Este é o meu Filho amado em quem me comprazo.
E dela veio uma voz, dizendo: Este é o meu Filho, o meu eleito; a Ele ouvi.” (Mateus 3:17 e Lucas 9:35).
Deus, em sua infinita graça, tem como alvo nos conformar à imagem de seu amado Filho. Está escrito no livro de Romanos 8:29: “Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que Ele seja o primogênito entre muitos irmãos.” Deus não tem como propósito nos ensinar, apenas, muitas coisas importantes a respeito de Cristo, mas Ele quer nos fazer semelhantes ao seu Filho. Deus está infundindo em cada regenerado a imagem de Cristo, pois é da sua soberana vontade que Cristo seja formado nos seus santos.
Se somos filhos, se nascemos de novo, se confessamos a nossa morte e ressurreição em Cristo, inevitavelmente somos matriculados na universidade educativa de Deus. E esta escola celestial não tem como finalidade nos fazer peritos no conhecimento intelectual de Cristo, mas nos fazer semelhantes ao Filho de Deus.
Tanto individual quanto coletivamente, estamos sendo conformados à imagem de Cristo. Fomos predestinados a ser conformes à imagem de Cristo.
Precisamos dizer: nós não somos instantaneamente conformados à imagem de Cristo logo após o novo nascimento. Mesmo regenerados, isto é, tendo a vida de Cristo em nós, com ou em muito conhecimento bíblico a respeito de Jesus, somos tremendamente orgulhosos, carnais e cheios de justiça própria. E é devido a este fato que Deus precisa nos levar ao fim de nós mesmos. A grande verdade é que nós não nos conhecemos como Ele realmente nos conhece. Portanto, para alcançar o seu propósito, Deus nos deixa fracassar muitas vezes.
Somente as provações podem realmente revelar o que há em nosso íntimo — Cristo ou um monte de informações a respeito Dele e de sua vida vitoriosa. Saber simplesmente que Cristo venceu tudo, não nos ajuda em nada. Precisamos crer que Ele mesmo é a nossa vitória. A Bíblia nos ensina que tudo o que precisamos encontra-se em Cristo - paciência, mansidão, alegria, amor, fé, etc., (conforme apontam os textos : “Porque aprouve a Deus que, Nele residisse toda a plenitude. Todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento estão ocultos.” (Colossenses 1:19 e 2:3)
Os discípulos de Jesus conviveram com Ele por três anos e meio. Com certeza, aprenderam muitas coisas preciosas. Que privilégio tiveram! Quantas lições e ensinos eles absorveram do nosso Senhor Jesus. Andaram com o Senhor, viram como o Mestre se portava, como falava, como agia e reagia, enfim, estavam fartos de conhecimento a respeito de Jesus. Com toda esta bagagem adquirida, podiam jurar fidelidade ao Senhor. No entanto, apesar de todo este preparo, eles ainda não se conheciam o suficiente.
Consideremos a seguinte situação: “Perguntou-lhe Simão Pedro; Senhor, para onde vais? Respondeu Jesus: Para onde vou, não podes seguir agora; mais tarde, porém, me seguirás. Replicou Pedro: Senhor, por que não posso seguir-te agora? Por Ti darei a própria vida. Respondeu Jesus: Darás a vida por mim? Em verdade, em verdade te digo que jamais cantará o galo antes que me negues três vezes.” (João 13:36-38). Todos sabemos o que aconteceu com Pedro. Fracassou profundamente. Todo o seu aprendizado concernente a Jesus foi insuficiente para fazer com que ele fosse fiel ao Senhor.
Não somente Pedro, mas todos os outros discípulos também fracassaram: Agora, vemos que sabes todas as coisas e não precisas de que alguém te pergunte; por isso, cremos
que, de fato, viestes de Deus. Respondeu-lhes Jesus: Credes agora? Eis que vem a hora e já é chegada, em que sereis dispersos, cada um para sua casa, e me deixareis só;
contudo, não estou só, porque o Pai está comigo.” (João 16:30-32). As Escrituras registram o cumprimento fiel das palavras do Senhor: “Tudo isto, porém, aconteceu para que se
cumprissem as Escrituras dos profetas. Então, os discípulos todos, deixando-o, fugiram.” (Mateus 26:56).
Como será que os discípulos do Senhor se sentiram após fracassarem vergonhosamente? Creio que eles entraram em desespero profundo. Puderam constatar que eram totalmente indignos de confiança.
Aprenderam que precisavam de algo mais além do conhecimento que tinham a respeito do Senhor. Eles precisavam de revelação em seus corações. No entanto, antes da revelação,
precisaram fracassar. Irmãos, será que é diferente conosco?
Diz-se que conhecimento bíblico sem a revelação de Cristo em nosso íntimo, é informação morta. A questão não é o quanto sabemos a respeito de Cristo, mas o quão íntimos somos Dele. O crescimento espiritual está atrelado à revelação de Cristo em nós, e não com a quantidade de informações que temos a respeito de Cristo. A maturidade espiritual tem tudo a ver com: mais de Cristo e menos do eu. É Cristo crescendo e o eu diminuindo.
Olhemos de novo para o apóstolo Paulo: “Porquanto, para mim, o viver é Cristo.” (Filipenses
1:21a). Destacamos que o apóstolo da graça não disse: Para mim, o viver é aprender de Cristo, ou mesmo; para mim, o viver é ser como Cristo. Não, ele disse de modo claro: “Para mim, o viver é Cristo.” Em outra oportunidade, ele disse: Sim, deveras considero tudo
como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por
amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo.” (Filipenses 3:8). Paulo, enfaticamente, afirma que - por Cristo mesmo - considerou refugo tudo o que ele tinha adquirido em sua experiência religiosa.
Conhecer muitas coisas a respeito de Jesus não significa crescimento espiritual. Estar cheio de informações concernentes ao Rei dos reis não representa nada. Nós precisamos conhecer o próprio Cristo em nossa intimidade, pois este é o propósito do nosso Pai para os seus santos. A marca real de que alguém está sendo governado pelo Espírito Santo é que a vida deste está, cada vez mais, ocupada com Cristo mesmo. O seu desejo íntimo é o de conhecer o Filho de Deus.
Deus não está preocupado com a quantidade de informações que temos de seu amado Filho, Ele quer ver Cristo expresso em nós. Por outro lado, o mundo está cansado de uma "igreja" hipócrita pregando sermões sobre Cristo, ele quer ver o testemunho de que Cristo
vive em nós. O evangelho de João 6:57 aponta: “Assim como o Pai, que vive, me enviou, e igualmente eu vivo pelo Pai, também quem de mim se alimenta por mim viverá.”
O Senhor está declarando neste texto que Ele vive pelo Pai, e isto significa que a vida que Ele expressava era a vida de seu próprio Pai. A passagem de João 14:9 confirma isto: “Disse-lhe Jesus: Filipe, há tanto tempo estou convosco, e não me tens conhecido? Quem me vê a mim vê o Pai; como dizes tu: Mostra-nos o Pai?”
No entanto, a segunda parte do texto de João 6:57 é surpreendente, pois Jesus disse: “Quem de mim se alimenta por mim viverá.” O que significa isto, senão que devemos viver pela sua vida? Irmãos, cristianismo é Cristo se expressando em nós, tanto individualmente
como coletivamente. Que Deus nos dê graça para aprendermos a Cristo mais e mais, amém!
Tomaz Germanovix
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