Disciplinados Para a Santidade
“Ora, na vossa luta contra o pecado, ainda não tendes resistido até ao sangue e estais esquecidos da exortação que, como a filhos, discorre convosco: Filho meu, não menosprezes a correção que vem do Senhor, nem desmaies quando por ele és reprovado; porque o Senhor corrige a quem ama e açoita a todo filho a quem recebe. É para disciplina que perseverais (Deus vos trata como filhos); pois que filho há que o pai não corrige? Mas, se estais sem correção, de que todos se têm tornado participantes, logo, sois bastardos e não filhos. Além disso, tínhamos os nossos pais segundo a carne, que nos corrigiam, e os respeitávamos; não havemos de estar em muito maior submissão ao Pai espiritual e, então, viveremos? Pois eles nos corrigiam por pouco tempo, segundo melhor lhes parecia; Deus, porém, nos disciplina para aproveitamento, a fim de sermos participantes da sua santidade. Toda disciplina, com efeito, no momento não parece ser motivo de alegria, mas de tristeza; ao depois, entretanto, produz fruto pacífico aos que têm sido por ela exercitados, fruto de justiça. Por isso, restabelecei as mãos descaídas e os joelhos trôpegos; e fazei caminhos retos para os pés, para que não se extravie o que é manco; antes, seja curado. Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor,” (Hb 12:4-14)
O texto supracitado nos mostra claramente que quando o Pai nos recebeu como seus filhos fomos imediatamente inseridos em Seu plano disciplinador. Todo cristão autêntico, sem exceção, logo após o seu novo nascimento é matriculado, necessariamente, na escola disciplinadora do Aba, rumo à soberana vocação.
Neste aspecto está em vista o supremo propósito de Deus em Cristo Jesus. Por sermos tão amantes de nós mesmos (ver Jo 12:25), tão apegados às coisas desta terra, tão propensos às trevas, o Senhor por sua indescritível misericórdia e graça providencia circunstâncias diversas a fim de nos desarraigar de tudo o que é contrário à Sua vontade, para assim, formar em nós o caráter de Seu Filho. “Deus não esfregaria de maneira tão forte, se não fosse para eliminar a imundície e as manchas que há em Seu povo”, ponderou Thomas Brooks. Qual o significado que atribuímos aos acontecimentos que nos sobrevêm? Será que julgamos tudo pela perda que sofremos, pelas dores que passamos, ou sujeitemo-nos “Aquele que é sábio demais para errar e demais amoroso para ser cruel”? Henry Law expressou-se sugestivamente: “Crente, não pense em um repouso sem perturbações, enquanto você não se livrar da carne. Há um ciclo incessante de tristeza e tentação nesta vida. Mas nunca despreze os açoites. Eles têm a voz da instrução. São aplicados pela mão de um Pai amoroso”.
Irmãos e irmãs, este é o trilhar pelo caminho da cruz. Como disse Paul Holdcraft, a cruz é um programa de vida e não apenas o centro da Teologia. A filiação inclui a provação. Toda disciplina da parte do Pai tem como objetivo nos santificar, nos tornar conformados à imagem de Cristo. Necessitamos atentar para algo sumamente importante neste aspecto: Não é para o nosso bem estar que somos disciplinados, nem para nossa satisfação pessoal, tampouco para que sejamos melhores a fim de que deixemos certos vícios de lado, ou para investir em algumas áreas de nossa vida pela qual temos falhado muitíssimas vezes; mas para sermos participantes da santidade de Deus. E sabemos que a santificação de Deus é Cristo Jesus. “Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual se nos tornou, da parte de Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção,” (I Co 1:30) Disto decorre que o propósito da disciplina dos santos é que Cristo cresça e nós diminuamos. Em vista disto, a santidade que o Senhor requer é nosso completo esvaziamento de nós mesmos para o completo enchimento da vida de Cristo em nós. “Cristo é a suficiência de Deus para nossa completa deficiência”. Leiamos Romanos 8:28-30. “Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou.” Aqui podemos ver algo mui glorioso: O Senhor nos chamou para este propósito soberano; sermos semelhantes a Cristo. Não somente revelar o Seu Filho em nós, não somente que tivéssemos a sua vida, porém, para que Cristo seja formado em nós. Aleluia! Deus deu o Seu Filho para tê-Lo de volta em cada um de seus remidos. Irmãos amados, o Senhor não deseja investir em nós no que tange à nossa melhoria, antes, deseja que Seu Filho ocupe o lugar de primazia em nós. O irmão Stephen Kaung deixou algo muito precioso dentro deste contexto. Disse ele: “Se pudéssemos olhar dentro do coração de Deus enxergaríamos apenas a Cristo. Se pudéssemos contemplar dentro do coração de Cristo teríamos apenas uma única visão: A Igreja”. Também foi dito por certo irmão: “A glória da Igreja não procede de si mesma, mas daquele que a comprou com seu próprio sangue. A Igreja não tem glória própria. Se tirarmos os olhos do Cabeça e olharmos para o corpo, estaremos criando uma confusão para nós. Nós estaremos criando nuvens de trevas para nós mesmos, para nossa experiência. O que deve aparecer na Igreja é tão somente o Cabeça:Cristo Jesus. Este é o objetivo da Igreja: expressar a Cristo Jesus”. Irmãos e irmãs, o que é a Igreja? É o corpo de Cristo. É a assembléia dos santos reunidos em torno do precioso nome do Senhor Jesus Cristo para a vida de comunhão com o Pai e com seu Filho. (cf. Mt 18:20 , I Jo 1:3) A Igreja é a expressão de Cristo. “no qual não pode haver grego nem judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro, cita, escravo, livre; porém Cristo é tudo em todos.” (Cl 3:11) “Quando Cristo é tudo em todos, as divisões desaparecem, as mais apreciadas qualidades aparecem, a compreensão e o perdão têm êxito, o amor une a todos, a paz e a gratidão dominam o coração, a vida se torna exemplar aos outros e Deus é plenamente glorificado”.1 E isto só será possível através da disciplina amorosa do Pai celestial para com os Seus. Alguém já disse: “Algumas pessoas vivem se queixando de que as rosas têm espinhos; eu prefiro ser grato pelos espinhos terem as rosas”. Dizem que o sândalo (uma árvore originária da Índia e outras partes da Ásia) perfuma quem a fere. Oxalá, irmãos, ao invés de entristecermos e murmurarmos, diante das circunstâncias que nos sobrevêm, sejamos os recipientes através dos quais o bom perfume de Cristo possa ser exalado. “Graças, porém, a Deus, que, em Cristo, sempre nos conduz em triunfo e, por meio de nós, manifesta em todo lugar a fragrância do seu conhecimento. Porque nós somos para com Deus o bom perfume de Cristo, tanto nos que são salvos como nos que se perdem. Para com estes, cheiro de morte para morte; para com aqueles, aroma de vida para vida. Quem, porém, é suficiente para estas coisas? (II Co 2:14-16) Permitam-me repetir irmãos: Qual o significado que temos atribuído às circunstâncias que nos cercam? Como temos reagido diante das crises que nos assaltam? John Newton nos ensina uma preciosa lição por sua própria experiência: “Valeu a pena ter ficado um pouco no fogo, por causa da oportunidade de experimentar e demonstrar o poder e a fidelidade das promessas de Deus”. Irmãos e irmãs, que possamos ver além das circunstâncias: Que possamos olhar “firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus.” (Hb 12:2) Deus teve apenas um Filho sem corrupção; mas nenhum sem provação. Amados, é porque o Pai nos ama que Ele nos corrige. É porque o Pai nos quer completamente para Si mesmo, que Ele nos disciplina para sermos participantes de Sua santidade. Disse C.H.Spurgeon: “A espada da justiça não nos ameaça mais, mas a vara da correção paternal ainda está em uso”. Nenhum filho de Deus poderá comparecer diante do Senhor sem a santificação. “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor,” (Hb 12:14) Que possamos bendizer ao nosso Senhor quando estivermos passando pela vara de sua correção. “A dolorosa tesoura de podar está em mãos seguras”, dizia John Stott. O que a nós nos concerne, o Senhor levará a bom termo e aos Seus propósitos Ele não renunciará. “Ora, o Deus de toda a graça, que em Cristo vos chamou à sua eterna glória, depois de terdes sofrido por um pouco, ele mesmo vos há de aperfeiçoar, firmar, fortificar e fundamentar”. (I Pe 5:10) “Se nada mais separar-me de meus pecados, Senhor, envia-me chaga tão cruel e calamidade tão grande que me despertem do sono mundano”, orava Robert Murray M’Cheyne. Ó amados, a despeito de vossas aflições e adversidades da vida, “deixa que Deus ordene os teus caminhos e espera nele, o que quer que aconteça; nele terás nos duros e maus dias tua suficiente Força e direção. Quem no perene amor de Deus confia sobre a Rocha Inabalável edifica”. Amém.
L.Cândido
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