Oswald Chambers

 


Em 1890, um jovem de 15 anos de idade e seu pai voltavam para casa andando depois de terem ouvido Charles Spurgeon pregar. O rapaz disse ao seu pai que teria entregado sua vida a Cristo se tivesse tido a oportunidade. O pai respondeu: “Você pode fazer isso agora, meu filho.” Eles pararam ali mesmo no caminho e oraram juntos.

O rapaz era Oswald Chambers. Anos depois, ele se tornaria membro de uma igreja batista em Londres e ingressaria numa escola de artes, determinado a ser um artista, poeta e musicista por toda vida.

Três anos depois, ele sentiu o desejo de estudar e se preparar para o ministério. Então, ele largou os estudos na escola de artes e se matriculou na Faculdade de Treinamento Dunoon na Escócia. Seu desempenho acadêmico foi tão bom que foi convidado a permanecer ali como professor particular após sua formatura.

Todavia, foi nessa época em sua vida que Chambers entrou no que chamaria posteriormente de “a noite escura da alma,” um período de dúvida e desencorajamento por sua espiritualidade indecisa—uma ausência do que chamou de relacionamento pessoal com Cristo. Em vão, ele tentou alcançar uma posição santificada de satisfação pessoal, uma posição que seus amigos pentecostais denominavam de vitória no topo do monte.

Chambers escreveu um poema sobre esse tempo de sua vida. Ele diz:

Ó, Senhor Jesus, ouça o meu clamor por uma vida consagrada.

Pois mordo o pó na tentativa de fugir dessa luta tenebrosa.1

Esse tempo de noite escura terminou com um compromisso pessoal e entrega ao Espírito de Deus, algo que ele chamou de batismo do Espírito Santo.

Ele estava simplesmente tomando emprestado o vocabulário de seus amigos mais próximos por sua associação com pentecostais e com o Movimento de Santidade. Apesar de ele não falar em línguas—ele até repudiava qualquer tentativa de se provar que o

batismo do Espírito Santo era o mesmo que falar em línguas—sem dúvidas, ele foi influenciado por movimentos pentecostais nos anos iniciais de sua vida cristã. Por um curto espaço de tempo, ele representou a “Liga da Oração,” um ministério financiado pelo Movimento de Santidade na Inglaterra.

Ao escrever sobre a experiência de Chambers e buscando discernir o que aconteceu com ele usando terminologia bíblica, Warren Wiersbe, sugere que Chambers não passava de um indivíduo convertido nessa época.2

Um tempo depois, ele começou a se preparar para o ministério na Universidade de Edinburgh, Escócia. Enquanto estudou ali, foi profundamente influenciado pelo ministério de Alexander Whyte, um pregador vindo do mesmo saco que Charles Spurgeon.3

Portanto, Oswald Chambers foi inicialmente influenciado pela pregação evangelística de Charles Spurgeon; em seguida, alertado para a necessidade de total entrega ao Espírito Santo por seus amigos pentecostais; e depois mentoreado pelo púlpito de Alexander Whyte.

Mas isso não foi tudo. Posteriormente, ele foi influenciado pela vida e ministério de D. L. Moody através da organização na qual Chambers passou a servir como capelão. Com efeito, ele se tornou um missionário estrangeiro servindo com a YMCA, isto

é, a Associação Cristã de Moços.

Deixe-me ler a resolução da Associação de Moços de Paris, escrita em 1855 à medida que o movimento se organizava em torno de dois objetivos: “Unir moços que, em relação a Jesus Cristo como seu Deus e Salvador segundo as Sagradas Escrituras, desejam ser seus discípulos em doutrina e vida; e (segundo) unir seus esforços na expansão do reino de Cristo entre homens.”

Por um tempo, antes de entrar nessa Associação, Oswald viajou pelo mundo como um

pregador itinerante. Dois países foram seu foco principal, nos quais viajou no decorrer de 10 anos: Estados Unidos e Japão.

Numa viagem em particular aos Estados Unidos, quando tinha pouco mais de 30 anos, alguns amigos pediram que ele ficasse de olho numa jovem moça que apelidaram de “Biddy,” a qual viajava sozinha a caminho dos Estados Unidos em busca de trabalho.

Ele ficou muito feliz em cumprir o desejo de seus amigos... e ficou de olho nela. Na verdade, 2 anos depois ele se casou com ela, a fim de poder ficar de olho nela permanentemente. Seu casamento, em 1910, criaria um ministério que nenhum dos dois tinha imaginado que aconteceria.

Biddy era uma estenógrafa, conseguindo registrar palavras a uma velocidade de 250 por

minuto. Então, ela começou a registrar tudo o que Oswald ensinava e pregava. Poucos anos depois, ele se convenceu de que a Inglaterra precisava de uma faculdade cristã que enfatizasse tanto relacionamento pessoal como excelência acadêmica. A escola foi aberta e funcionava no princípio da fé. Na verdade, a cada mês a instituição encarava a possibilidade de fechar por falta de dinheiro.

Só para você ter uma ideia de como Oswald era comprometido em orar e receber o que o Senhor desejasse prover, quando um amigo rico ofereceu financiar por completo a faculdade, Oswald respondeu: “Não, obrigado. Porque, se você fizer isso, a escola poderá funcionar por mais tempo do que Deus deseja.”

É de se esperar que Oswald Chambers não se encaixaria bem com a etiqueta religiosa de seus dias. Ele foi até apelidado de “O Apóstolo do Desleixo.” Para muitos, seu ministério parecia ser inconsistente; sua vida não parecia ser planejada nos mínimos detalhes; ele partia de uma aventura de fé a outra sem muita preocupação. Na verdade, quando a Primeira Guerra Mundial eclodiu em 1915, ele ficou incomodado em ficar na Faculdade

Cristã na Inglaterra; queria mesmo era servir nos campos de batalha, ficar perto da ação.

Mas ele não era impetuoso demais para se submeter ao Espírito Santo. Ele orou: “Senhor,

agradeço a ti por este lugar onde estou, mas a dúvida começou incomodar meu interior: este é o teu lugar para mim? Talvez isso não passe de inquietação.

Então, ajude-me a perseverar na tua vontade; tranquilize-me para que não peque contra a tua vontade.”

Um ano depois, ele se convenceu de que Deus o queria em outro país. Então, levou Biddy e sua filha pequena para morar no acampamento militar e atuar como capelão da Associação Cristã de Moços aos soldados que estavam na base em torno de Cairo, Egito. Então, fechou a Faculdade indefinidamente e partiu para o Egito com a família.

Quando lá chegou para se juntar aos demais missionários, tudo mudou.

Dentre as mudanças, ele informou os demais membros da Associação que deveriam

imediatamente deixar de lado os filmes e recitais semanais em troca de aulas de Bíblia. Ele começaria a ensinar a Bíblia aos soldados. Os trabalhadores da Associação imaginaram que os soldados sairiam em massa da casa de madeira da Associação, construída

na base militar.

Em sua comprida biografia, a qual li alguns anos atrás, Chambers afirma que toda a situação lhe era intrigante. A cidade de Cairo apelou aos seus sentidos de várias formas—cheiros agradáveis de lanchonetes e cafés à beira da rua e os sons

misteriosos das sirenes vindos das torres de mesquitas islâmicas, convocando o povo para orar.

Espiritualmente, o desafio de levar o Evangelho a milhares de homens numa base militar parecia ser quase atordoador.

Mas lá veio ele. E ao invés de um enorme êxodo, houve um avivamento. Não demorou muito para centenas de soldados encherem a cabana da Associação Cristã de Moços para ouvir suas pregações provocantes, humoradas e bíblicas.

Ele também deu início a uma reunião de oração semanal cujo fracasso era previsível. Começou com dois homens, mas logo cresceu e a cabana estava cheia. Pelo fato de esses homens saberem que talvez nunca voltariam para casa vivos, o Evangelho se tornou uma água de esperança viva; a oração se tornou sua única fonte de força.

Dentro de pouco tempo, o verso-chave de Oswald Chambers se tornou conhecido por todos na base. Ele pediu que fizessem um banner comprido, da largura do palco, com Lucas 11.13 escrito nele e que o pendurassem no palco. Dessa forma, todo mundo foi confrontado por este texto no decorrer do ministério de Oswald Chambers: quanto mais o Pai celestial dará o Espírito Santo àqueles que lho pedirem?

(...) Oswald Chambers disse o seguinte sobre a oração: “Oração é confiança deliberada no caráter de Deus, cujos caminhos podemos não entender quando oramos.” E: “A vida de fé não envolve tanto subir com asas como águias; ela envolve mais andar... a fé nunca sabe para onde é conduzida, mas ama e conhece Aquele que a conduz.”

Agora, diferente de seus mentores espirituais, homens como Charles Spurgeon, D. L. Moody e Alexander Whyte, Oswald Chambers permaneceu no anonimato, praticamente obscuro, durante a maior parte de sua vida. Ele até disse a um amigo numa dada ocasião: “Sinto que preciso ser enterrado por um tempo, escondido em obscuridade; em

seguida, de repente aparecerei, farei meu trabalho e partirei.” Em certo sentido, foi precisamente isso o que aconteceu.

Após 2 anos de ministério no Egito, Chambers desenvolveu apendicite. Ele não quis ir ao hospital, afirmando que as macas deveriam ser reservadas para homens feridos em batalha que realmente precisavam delas. Por fim, quando seu quadro se tornou crítico, um cirurgião fez um procedimento de emergência no dia 29 de outubro. Por algumas semanas, sua vida ficou por um fio e depois pareceu se recuperar, mas logo sofreu uma hemorragia nos

pulmões. Daí, no dia 15 de novembro de 1917, menos de 2 anos depois de sua chegada no Egito para realizar um ministério que parecia ser abençoado tremendamente pelo Espírito de Deus, para a surpresa de sua esposa, família, amigos mantenedores e homens a quem servia, Oswald Chambers faleceu. Ele tinha apenas 43 anos de idade.

Ele foi um posto missionário obscuro próximo a Cairo, Egito, ensinando tendas cheias de soldados; entretanto, sua vida, enfim, impactaria milhões de crentes no decorrer de várias gerações. E sua influência ainda não terminou. Ela veio do trabalho árduo das anotações que sua esposa fez.

Após a morte de Chambers, Biddy e sua filha voltaram para casa e, sentindo a direção do Senhor, ela pegou suas anotações dos sermões e aulas de Chambers—anotações que ela fizera como estenógrafa, escrevendo o que ele pregou e ensinou na Faculdade Evangélica, no Japão, nos Estados Unidos e no Egito. A partir daquilo que conseguiu registrar, editar e publicar, o mundo acabou ouvindo desse servo chamado Oswald Chambers. Até hoje,

suas mensagens continuam a fornecer conhecimento sábio, pessoal, desafiador e bíblico

em muitos assuntos.

Permita-me destacar alguns comentários de Chambers sobre alguns assuntos.

1. Primeiro: seu encorajamento em relação a livros.

Assim como Spurgeon antes dele, Chambers encorajava seus alunos a ler sobre muitos assuntos.

Spurgeon afirmou, certa vez, que “o homem que nunca lê nunca será lido; o professor que nunca cita jamais será citado.” Semelhantemente, Oswald Chambers era um leitor ávido e seus ensinos eram permeados com citações de outros. Numa dada ocasião, ele disse o seguinte: “Quando as pessoas dizem que um homem é homem de um só Livro—a

Bíblia—ele geralmente é também um homem de uma multidão de livros, o que faz simplesmente com que um Livro—a Bíblia—seja colocado em sua devida posição de grandeza.”

Ele também afirmou: “Livros são conselheiros e professores sempre disponíveis, sempre ao lado, tendo esta vantagem sobre professores verbais: eles estão prontos para repetir suas lições quantas vezes forem necessárias.”

2. O segundo comentário de Chambers que é digno de nota diz respeito à sua atitude para

com certos detalhes e administração.

Ele cria que todo detalhe importava e sempre buscava melhorar a aparência das cabanas e tendas usadas pela Associação Cristã de Moços no Egito.

Ele disse: “Um grande defeito em muitos trabalhos hoje é que não seguimos a admoestação

de Salomão para fazer tudo com toda nossa força.

A tendência é afirmar: ‘Mas é só por um tempinho; por que nos preocupar desse jeito?’ Mesmo que o trabalho seja por apenas cinco minutos, que seja bem feito.”

Com esse tipo de atitude, ele era o tipo de pessoa que evitaríamos.

3. Em contraste a isso, porém, é importante destacarmos seu humor e espírito alegre.

Ele gostava muito de sorrir. E ele fez algo novo, pois esperava que sua plateia risse com ele; e ele ria junto.

Um homem reclamou para sua esposa sobre o incessante humor de Oswald. Ele, na verdade, escreveu uma carta para Biddy, na qual disse: “Seu marido é o reverendo mais irreverente que já conheci!” Tipo, que categoria de missionário diz aos seus ouvintes, como disse Chambers: “Continue orando, divertindo-se e sendo você mesmo”? Essa

não é a típica pregação que esperamos ouvir.

Com frequência, seu humor desarmava as pessoas e servia para ensinar uma lição. Ele disse certa vez: “Será que realmente estamos atrapalhando Deus em sua obra, ou nos achamos incrivelmente importantes que nos perguntamos o que o Todo-Poderoso faz antes de acordarmos?”

Ele encorajava seus alunos com o seguinte conselho: “Jamais formule um princípio a partir de sua experiência. Permita que Deus seja tão original com outras pessoas como é com você.” Sem dúvidas, Oswald Chambers foi um cara original!

Ele escreveu em seu diário: “Senhor, ajude-me a continuar radiante e feliz.”

4. Um quarto assunto digno de mencionar diz respeito ao conselho de Chambers em

relação a decisões.

Ele colocou o assunto simplesmente assim: confie em Deus e faça a próxima coisa. Ou seja, “certifique-se de que está andando com Deus. Se está, não hesite fazer a próxima coisa que aparecer na sua vida.” Com esse conselho, Chambers removeu muito do mistério em torno da vontade de Deus. Confie em Deus; em seguida, com convicção e alegria, faça a próxima coisa que precisa ser feita.

Sua esposa o registrou ensinando o assunto com as seguintes palavras: “A coisa mais incrível em temer a Deus é que, quando tememos a Deus, não tememos mais nada; mas se você não teme a Deus, temerá todas as demais coisas.”

Acho interessante que Oswald afirmou uma vez que a única pregação duradoura é aquela feita com a caneta. Todavia, ele nunca escreveu um livro.

Apesar de existirem cerca de 30 livros atribuídos a

sua autoria, incluindo seu famoso devocional “Tudo para Ele,” todos eles foram organizados por sua esposa, Biddy Chambers. O devocional “Tudo para Ele” já vendeu milhões de cópias, foi traduzido para 39 idiomas e ainda continua sendo traduzido para outras línguas hoje. Quando Biddy morreu em 1966, ela estava envolvida na edição mais recente do devocional. Após a morte de Biddy, a filha do casal assumiu o trabalho e se envolveu em mais projetos literários utilizando o material de seu pai, até que morreu em 1997. As duas seguiram o conselho do marido e pai, Oswald Chambers: ore pela sabedoria de Deus através de seu Espírito, confie nele e, em seguida, faça o que precisa ser feito. O que quer que seja, pode ser o que Deus deseja que você faça.


(Por: Stephen Davey)


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