Quem é esta que sobe do deserto e vem encostada no seu amado?
“Quem é esta que sobe do deserto e vem encostada no seu amado?” (Ct 8:5)
Esse texto se refere a uma visão da noiva antes de seu arrebatamento.
Por duas vezes no Cântico dos Cânticos é mencionada a vinda da noiva do deserto. A primeira referência é no capítulo 3, verso 6 e isso aconteceu no inicio da sua união com o Senhor. Então se seguiu a renúncia de si mesma pelo Senhor. Então veio o desejo de viver pela vida do Senhor. Finalmente, ela chegou a habitar em todas as bênçãos da graça concedidas pelo Senhor.
Desse ponto em diante ela realizou um constante e considerável progresso, à medida que ia em frente, ela começou a deixar para trás aquele tipo de vida pobre espiritualmente representada pela figura de um deserto. Saindo desse tipo de vida caracterizada pelo deserto, houveram ocasiões quando ela hesitou e parou seu passo por pouco tempo. Não iremos afirmar que essas paradas eram necessárias ou inevitáveis, mas podemos ousar afirmar que eram perdoáveis. Seu desejo de viajar foi abandonado para sempre devido a sua profunda e vital união com o seu Amado. Seu passo seguia o do Senhor em todos os Seus caminhos. Devemos então inquirir, portanto, porque o Espírito uma vez mais menciona que ela vem do deserto. Nos parece em uma primeira vista que toda a sua história tomou lugar quando ela ainda estava em um deserto espiritual.
É importante observar, portanto, para entender exatamente o que o deserto representa.
Sabemos bem pela nossa experiência pessoal que um de nossos desertos é uma vida marcada pela pobreza espiritual e peregrinação. Mas outra interpretação para deserto é o mundo no qual nos deparamos com tantas provas e disciplinas. Um está na esfera do espírito; e outra na esfera física, que traz à luz pressões de diversas áreas.
À medida que encontramos livramento do deserto de nossa peregrinação interior espiritual, então vamos encontrar também liberdade do poder exterior e pressões do mundo ao nosso redor.
Quando o Espírito Santo toma completo controle de nós com Sua presença, então vamos experimentar livramento, não apenas do deserto dentro de nós, mas do deserto de fora também.
É a Cruz de Cristo que nos livra do deserto espiritual, e é o chamado de Sua volta que nos livra da peregrinação, e apego ao presente mundo – porque a promessa do Seu retorno nos convoca a estar preparados.
O Espírito Santo então, de novo, emprega um método de interrogação por uma terceira pessoa: “Quem é essa que vem do deserto?” Ele descreve uma jovem vindo do deserto, se apoiando mais e mais sobre o Seu amado. À medida que ela prossegue, ela vai chegando à uma visão e foco mais e mais claros. A questão que Ele pergunta é: “Quem é ela?” Isso leva a uma clara resposta do Amado.
Uma coisa que está bem clara nessa figura, é que o chamado e influência da Sua volta se estende a um período de tempo. É esse chamado que inspira a donzela, a amada a deixar o mundo para trás passo a passo em sua caminhada com o Senhor.
Então vemos que a revelação e a realidade do retorno de Cristo na vida do crente se inicia quando ele é afastado do mundo, e compungido pelo seu destino celestial, o deixa para trás. A face então é colocada diante do destino celestial; e as costas são dadas ao mundo. Essa jovem não é do mundo, mas se volta de todos os seus apelos a uma união mais e mais próxima com o Senhor. Foi precisamente assim que Enoque foi preparado para seu arrebatamento.
Não devemos nunca imaginar que o evento súbito da volta do Senhor e nosso arrebatamento vai causar uma mudança súbita na nossa condição espiritual. É a prontidão espiritual que vai nos deixar prontos para Seu retorno, e isso demanda uma caminhada próxima do Senhor.
O presente, então, é um tempo de preparação, e a melhor preparação é a que é vista na jovem, à medida que ela vem mais e mais do mundo e se apoia mais e mais perto do seu Amado. Esse é um reconhecimento que nela mesma ela é totalmente fraca e precisa da força e suporte Dele em sua caminhada. “Encostada no seu amado” implica que o fardo é entregue, que ela encontra suporte e descanso nos ombros fortes do seu Amado. Ela está “apoiada no seu amado” como, Jacó de outrora, a junta de sua coxa (sua força natural) está fora da articulação e não pode dar a ela nenhuma sustentação.
“Encostada no seu amado” também sugere que ela é incapaz de encontrar seus próprios caminhos nesse mundo, que é o deserto, e então ela deve depender do seu Amado. Assim, é a penas o próprio Senhor que pode conduzir o crente para a prontidão para a redenção final uma vez que “a vida que confia é uma necessidade” na preparação para o grande advento de Sua volta. Com um senso de completa incapacidade em nós mesmos, devemos constantemente nos apoiar no Senhor Jesus até que seja perguntado, com grande admiração: “Quem é esta…encostada no seu Amado?”
Extraído do livro “Song of Songs”, parte 5, Watchman Nee
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