Abençoados em Cristo Jesus

 Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo (Efésios 1.3).

Grande parte da estrutura da epístola gira em torno desses dois nomes de Deus. (1) Ele é "o Deus [...] de nosso Senhor Jesus Cristo" e (2) também é o "Pai de nosso Senhor Jesus Cristo".

Depois de assumir a carne, o Salvador coloca-se como homem diante de Deus. Como tal, ele toma sua posição contra Satanás, quando este o tentou a agir de modo estranho ao Filho de Deus. "Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães. Jesus, porém, respondeu: Está escrito: Não só de pão viverá o homem" (Mateus 4.3-4).

Na primeira parte da epístola, Paulo oferece sua oração a Deus, como o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo (Efésios 1.17). O fato de que o Salvador tem Deus como seu Pai nos coloca como filhos em íntimo relacionamento com o Pai; pois nós estamos nele, que é o Filho. A segunda oração é apresentada ao "Pai de nosso Senhor Jesus Cristo" (Efésios 3.14, ARC). Nossa bênção é: "Com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais" (Efésios 1.3). Nisto, estamos colocados em uma base muito diferente da de Israel. Eles pertenciam a uma aliança na carne, e o selo de Deus foi colocado na carne deles. Eles seriam abençoados com toda bênção da carne nas regiões terrenas (Levítico 26; Deuteronômio 28). Mas tudo dependia da perfeita obediência deles à lei (Deuteronômio 11.26-32). O céu da lei de Moisés é a atmosfera; e a bênção deveria alcançar Israel de um modo notável. "O Senhor te abrirá o seu bom tesouro, o céu, para dar chuva à tua

terra no seu tempo" (Deuteronômio 28.12).

Mas nosso céu, como aqui mencionado, está muito acima daquele da lei; o Espírito Santo o chama de supercelestial.' Isso se refere à região onde nossas bênçãos devem ser encontradas.

Em si mesmas, nossas bênçãos são espirituais, tornando-se conhecidas através do Espírito Santo e por ele concedidas ao nosso espírito ou homem interior. Elas são nossas "em Cristo". Moisés morreu e aquela condição fundamental da segunda aliança com Israel foi removida por sua morte. Nosso Cristo vive para sempre para fazer intercessão por nós. Nosso direito a essas bênçãos não pode ser perdido, pois estamos vitalmente associados a ele, de quem elas fluem.

Moisés pecou antes de morrer. Nosso Cristo morreu como o Justo, pois os pecados não eram dele, e, em vista deste fato, a morte não pode tocá-lo. "Eis que estou vivo pelos séculos dos séculos" (Apocalipse 1.18).

Debaixo da lei, cada um permanecia ou caía de acordo com a sua própria obediência. "Aquele que observar os seus preceitos por eles viverá" (Gálatas 3.12). Mas nós nos firmamos na expiação e na justiça de outro. Cristo é o "Senhor, Justiça Nossa" (Jeremias 23.6), a justiça de todos os que creem.


Assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor (Efésios 1.4).

Nossas bênçãos em Cristo são em consequência do ato da eleição de Deus. Ele nos escolheu para sermos membros do segundo Adão, estando nós debaixo da morte em Adão. Era o propósito do Pai tornar seu Filho "o primogênito entre muitos irmãos" (Romanos 8.29).

Ele nos escolheu "de" e nos escolheu "em". Ele nos escolheu "de" nosso velho lugar no mundo, porque "não sois do mundo, pelo contrário, dele vos escolhi, por isso, o mundo vos odeia" (João 15.19). Ele nos escolheu "em" Cristo, de cujo corpo espiritual nenhum membro se perderá.

O tempo em que Deus escolheu o homem não foi o momento em que o homem escolheu a Cristo.

Eleição é escolha de Deus por um homem, antes que ele escolha a Deus. Se ele não nos tivesse escolhido primeiro, jamais poderíamos tê-lo escolhido.

Foi uma escolha, não para o uso de meios para a salvação, mas uma escolha de pessoas individuais da humanidade para a salvação. A escolha de Deus aconteceu antes que o mundo fosse formado. Como, por natureza em inimizade com Deus (Romanos 8.7), os homens, por si mesmos, escolheriam a Deus?

A eleição começou na eternidade atrás de nós, e alcança a eternidade que está por vir. O que pode ser comparado em valor com aquilo que Deus escolheu na eternidade, muito antes que a criação tivesse início?

Israel foi escolhido por Jeová para ser sua nação (nunca sua igreja) uns dois mil anos após a criação e a queda, dentre todas as outras nações da terra e de todos os outros filhos de Abraão. "Em Isaque será chamada a tua descendência" (Hebreus 11.18). A eleição é de indivíduos para eterna glória em Cristo com vistas à santidade e filiação, antes que o bem e o mal fossem feitos por alguém; sim, antes da queda. É a escolha soberana daqueles em quem nenhum bem deve ser encontrado, mas somente inimizade. Deus soberanamente escolheu companheiros para seu Filho.

Fomos escolhidos "para sermos santos" (Efésios 1.4).

Então, não foi porque éramos santos, mas para que pudéssemos assim nos tornar. Não é dito que Deus previu que nos tornaríamos santos por nossa própria escolha. Como isso seria possível? "Em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum" (Romanos 7.18). Deus somente podia prever, desde a queda, nossa falta de santidade e condenação. Como poderiam aqueles em inimizade com Deus ser santos ou se tornarem santos? A santidade de alguém acontece muito tempo depois da escolha de Deus, e é a consequência dessa escolha.

A despeito da queda, o desígnio de Deus permaneceu. Somos escolhidos para salvação no final, através da santidade como o meio. Mas o Senhor tem que nos criar de novo, a fim de que possamos ser santos.


"Perante ele; e em amor" (Efésios 1.4). Deus quer dizer que seus eleitos finalmente habitarão com ele, reunidos perante seu trono (Apocalipse 7.9). Nosso privilégio e glória, como filhos, serão para sempre vermos a face do Pai (Apocalipse 22.4). A fim de alegremente habitarmos com Deus, os filhos devem ser como seu Pai, santos. E, portanto, devemos ser transformados da inimizade para o amor. A lei justamente exige dos homens o amor; amor para com Deus e para com o homem. Quando, entretanto, o homem é deixado por si mesmo, a exigência nunca é cumprida. A carne não está sujeita à lei de Deus, nem, na realidade, pode estar (Romanos 8.7).


Nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade (Efésios 1.5).

Deus, tendo determinado, a respeito do fim, sermos feitos seus filhos, também estabeleceu os meios para tanto. Esses meios foram adaptados à condição em que os caídos estavam confinados. Deus decidiu o destino de multidões incontáveis, antes que tivessem

nascido; antes mesmo que o mundo em que eles fossem viver tivesse sido criado.

Alguns admitirão que não é injusto da parte de Deus conceder meios especiais de graça para algumas nações sobre outras, enquanto ele deixa outros povos na escuridão do paganismo. Mas, se Deus, como benfeitor, pode não ter escolhido alguns para a vida eterna, porque (dizem eles) seria injusto para os outros, então ele também não pode fazer distinção entre uma nação e outra quanto aos meios da graça. Se uma estivesse em injustiça, também a outra estaria. Mas, que direito têm as criaturas sobre seu Criador? Que direito têm as criaturas caídas sobre o seu Governante, a não ser direito à condenação e à punição de seus pecados?

A Escritura nos fala de nomes dos salvos escritos no livro da vida (Filipenses 4.3). Eles são filhos de Deus, seguros da salvação. Agora, não é tanto o que eu sou, mas o que Deus é.

Três motivos são estabelecidos neste versículo: (1) A causa eficiente: Deus Pai; (2) as causas mediadoras: Cristo e o Espírito Santo; (3) a causa final: a glória de Deus. A glória de Deus, nas coisas e seres que ele criou, e o propósito principal é o mais legítimo. Como poderia Deus tornar inimigos em filhos? "Por meio de Jesus Cristo. Ele é o verdadeiro Mediador, de quem Moisés foi um tipo. Quando Israel, através de seu ídolo, atraiu a ira de Deus, quem pode permanecer diante de Jeová e implorar por misericórdia? Somente Moisés! Arão, irmão de Moisés, era o principal ofensor. Mas até por Arão, Moisés intercedeu, e ele foi perdoado.

Os israelitas nunca foram filhos. Os homens da lei eram somente escravos, esforçando-se em vão através de obras para se livrarem da condenação que, de modo justo, caía sobre eles como transgressores (João 8.34-35). De Israel é dito: "O Senhor, teu Deus, te escolheu, para que lhe fosses o seu povo próprio, de todos os povos que há sobre a terra" (Deuteronômio 7.6; 14.2; 28.9). Mas os filhos estão em mais alta posição do que o povo. O príncipe de Gales significa mais para Sua Majestade do que qualquer um de seus súditos.

(Robert Govett)

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