Eulatria

O "eu" no centro da vida é a causa final de toda miséria e tristeza humanas. A batalha mais terrível que enfrentamos é a luta contra a preocupação e interesses do próprio "eu". Quanto mais apegados somos a nós mesmos, mais sofremos. A auto-suficiência do homem é o seu pecado maior. Segundo a Bíblia, pecado é a independência de Deus. Alguém disse que o invejoso não tem vizinho, o irascível não tem a si próprio, mas o egoísta não tem a Deus. O egoísta é aquele que num raio que ocupa "apenas" o universo, consegue enxergar somente a sua justiça. É alguém que está cercado de si mesmo por todos os lados. O coração do ególatra é tão estreito que nada cabe aí dentro, a não ser ele mesmo. Jó tinha um conceito assoberbado em relação a si próprio. Parte de sua experiência foi vivenciada contendendo com Deus. Ele era tão satisfeito com a sua vida de justiça própria que afirmou: Estou limpo, sem transgressão; puro sou e não tenho iniquidade. Eis que Deus procura pretextos contra mim e me considera como seu inimigo. Jó 33:9-10. Que terrível engano é alguém pensar que a sua própria justiça o justifica diante de Deus.



Um dos maiores impedimentos para alguém alcançar a graça divina é a justiça própria. Como poderá alguém receber a graça que foi revelada em Cristo, sem antes reconhecer que é um miserável e indigno pecador? No livro de Tiago 4:6, está escrito: Antes, ele dá maior graça; pelo que diz: Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes. Há muitos que estão mergulhados na escuridão de seu próprio "eu". Lemos em Provérbios 30:12: Há daqueles que são puros aos próprios olhos e que jamais foram lavados da sua imundícia. A soberbia no coração do homem é tão perversa quanto enganosa. A auto-exaltação e a autocomiseração, uma e outra, procedem de um mesmo coração inchado de si mesmo. O egoísmo tem várias máscaras, umas evidentes, outras porém, conseguem nos enganar. É a falsa humildade, a falsa espiritualidade, a falsa esmola, etc. De maneira velada, gostamos do reconhecimento daqueles que nos cercam. Por trás disto está uma satisfação demoníaca de prazer próprio. Tomás a Kempis disse: Muitos, no que fazem, buscam secretamente a si mesmos, sem o saber.


Jesus Cristo veio a este mundo para tratar com o mal do homem, o seu próprio "eu". No livro de 2Coríntios 5:14-15, está registrado: Pois o amor de Cristo nos constrange, julgando nós isto: um morreu por todos; logo, todos morreram. E ele morreu por todos, para os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou. O cristão não vive mais para si mesmo, mas para o seu Senhor. O novo nascimento é: não vivo mais para os meus próprios interesses egoístas, mas sim, para o meu Senhor Jesus, que deu a sua vida por mim. No caso de Jó, ninguém pode questionar a sua justiça em relação aos homens, porém, aos olhos de Deus, ela exalava o aroma de peixe podre. No livro de Isaías 64:6, lemos: Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo da imundícia; todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniquidades, como um vento, nos arrebatam. Por mais elevada que seja a justiça humana, aos olhos de Deus ela não passa de pano apodrecido pela lepra. Depois de muita luta, Jó se rendeu ao Senhor e disse: Na verdade, falei do que não entendia; coisas maravilhosas demais para mim, coisas que eu não conhecia. Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te vêem. Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza. Jó 42:3b, 5-6. O velho Jó, cheio de justiça, já não existe mais, agora é um outro homem, totalmente humilhado, que está falando com o Senhor do universo. Deus nos regenera em Cristo para que vivamos para a sua glória.

Alguém poderia pensar: Morri em Cristo. De agora em diante não terei mais problemas com o meu ego! Este pensamento é falso. Eis uma verdade: Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. Gálatas 2:19b-20a. Eis outra verdade: Levando sempre no corpo o morrer de Jesus, para que também a sua vida se manifeste em nosso corpo. Dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me. 2Coríntios 4:10 e Lucas 9:23. A operação da cruz exerce um poder de ação contínuo em nossa vida. Deus, por sua graça, quer que reflitamos o caráter de Cristo em nosso viver diário. O Senhor é especialista em ajeitar as circunstâncias que envolvem o nosso dia-a-dia para atingir o seu intento. Ele sabe como lidar com cada um de nós. As provações não são aleatórias, elas são encomendas enviadas a nós pelo próprio Pai. A fim de que ninguém se inquiete com estas tribulações. Porque vós mesmos sabeis que estamos designados para isto. 1Tessalonicenses 3:3. As provações mostram, de maneira clara, o quanto vivemos pelos nossos próprios interesses e justiça. Toda expressão de mágoa, rancor, falta de perdão, sensibilidade mórbida, vitimismo... em realidade, denunciam abertamente a nossa egolatria. Rosaly Apleby afirmava: O esvaziamento na vida, do egoísmo, da vaidade, do orgulho, e de todas as ciladas do eu é tão custoso que poucos chegam a ser vasos de bênçãos, jarros de cristal, para refletir seu Mestre. Somente pela graça podemos ser livres de nós mesmos.

Temos uma tendência natural de protegermos todos os interesses do ego. Ficamos sempre em estado de alerta contra ataques ou insultos. Ao menor sinal de uma agressão, nos armamos com todas as nossas defesas. Quando nos sentimos atingidos, rapidamente, atribuímos o nosso estado de miséria física, emocional ou espiritual aos outros. Dr. Martin Lloyd-Jones escreveu: Faça um retrospecto da última semana, considere em sua mente e recapitule os momentos ou períodos de infelicidade e tensão, sua irritabilidade, mau gênio, as coisas que disse e fez e de que agora se envergonha, as coisas que realmente o perturbaram e fizeram com que perdesse o equilíbrio. Observe tudo isso, ponto por ponto, e ficará surpreso ao descobrir como em quase todos os casos tudo se prende a esta questão do ego, esta sensibilidade ao "eu", esta preocupação consigo mesmo. Não há dúvidas a respeito. O "eu" é a causa principal da infelicidade. O autor continua: Sempre que estamos infelizes, isso significa que de alguma forma estamos olhando para nós mesmos e pensando a respeito de nossa própria pessoa, em lugar de comungar com Deus. O homem, segundo as Escrituras, foi feito para viver inteiramente para a glória de Deus. Foi feito para amar o Senhor Deus de todo o coração, de toda a sua alma, sua mente e força... portanto, qualquer desejo de auto-glorificação ou de proteger os próprios interesses é necessariamente um pecado, porque estarei então olhando para mim mesmo em lugar de olhar para Deus. Dr. Jones enfatiza que não importa no quanto o "outro" concorreu para que você ficasse neste estado de miséria, em última instância, você é culpado. O argumento bíblico é: Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus. Pois ele, quando ultrajado, não revidava com ultraje; quando maltratado, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga retamente. Filipenses 2:5 e 1 Pedro 2:23. A vida de Cristo nos livra de toda a autodefesa ou sensibilidade excessiva. Ele morreu e ressuscitou para ser a nossa vida. Não é de se admirar que cristianismo é uma substituição de vida. A nossa, egoísta, pela de Cristo, santa.

Tomaz Germanovix

Fonte:http://www.betel.com.br/

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