Participantes da Cruz: A Morte de Cristo É a nossa Morte

 


Unidade com Cristo


O meu objetivo é traçar, passo a passo, o alcance deste grande princípio da participação em Cristo - medir, por assim dizer, o comprimento, a largura, a profundidade e a altura desta maravilhosa identificação do crente com o seu Salvador. Cristo e todos os verdadeiros crentes são um. Eles constituem Seu corpo.

Eles são, na linguagem de Adão, "o osso do Seu osso e carne da Sua carne". Exatamente quais são as implicações dessa unidade com Cristo - a glória esmagadora de tal posição - a maior parte dos cristãos nunca teve nem mesmo uma suspeita.

Possa o Pai das Luzes nos capacitar a não apenas entender, mas a entrar neste templo sagrado e perceber a nossa unidade com Cristo.

Esta é a única fonte que pode extinguir a nossa sede. Não há nenhum outro caminho para o cumprimento das nossas mais profundas aspirações como cristãos.

Devemos ter em mente que o ofício do Espírito Santo é enxertar o crente em Cristo, como um jardineiro enxertaria a vara de uma árvore no corpo principal de outra. "Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo..." (1 Co 12.13).

Paulo escreve longamente sobre esse processo de enxerto no décimo primeiro capítulo de Romanos, onde ele fala do corte de Israel da Raiz, Cristo, e do enxerto dos gentios, para se tornarem participantes da Raiz.

A verdadeira conversão, em seu aspecto mais profundo, é justamente isso. Se ela falha em conseguir uma verdadeira enxertadura em Cristo, é falsa e, naturalmente por causa disso,

infrutífera. De fato, precisamos nascer de novo. Precisamos ser arraigados ao mesmo Tronco da Divindade Eterna. Simplesmente não nos esforçamos para imitar um Líder divino; grandíssimas e preciosas promessas nos foram dadas, pelas quais somos feitos participantes da Natureza Divina (2 Pe 1.4). O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus, herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo (Rm 8.16-17).

Foi o Espírito que nos convenceu do pecado, criando em nós uma profunda antipatia por ele e um desejo ardente de ser liberto do seu desonrante domínio. Foi o mesmo Espírito que nos revelou Cristo como a única saída: o nosso tirador do pecado (Jo 16.7-15). É o mesmo Espírito que nos une a Cristo, arraigando a nossa vida na Sua Vida Divina e nos fazendo crescer estando n'Ele, que é a Cabeça.

A Sra. Penn-Lewis, em um dos seus livros, mostra que no grego o muito amado texto de João 3.16 transmite um significado muito diferente daquele das nossas versões. Não é simplesmente aquele que crê em Cristo, mas antes aquele que crê estar n'Ele, que terá vida eterna. Pela cooperação do Espírito (e o Espírito Santo opera de tal forma em conjunto com o nosso espírito que muitas vezes estamos completamente inconscientes da

Sua obra) cremos em Cristo. Ele Se tornou a nossa vida. "Mas aquele que se une ao Senhor é um espírito com ele" (1 Co 6.17).

Mas esse enxerto exige algum corte, naturalmente. Se não morrermos para o natural, como podemos esperar viver para o sobrenatural? Paulo expressa isso assim: "Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos" (Rm 6.8). A vara que, em desacordo com a natureza, é enxertada em uma árvore de outra espécie deve morrer para a velha vida. Ela deve lançar suas raízes em um novo tronco. Ela recebe uma nova vida. A sua relação com a velha vida é rompida tão radicalmente, tão completamente e tão continuamente, que para ela não existe mais. Ela é absorvida pela nova com uma constância que ocasiona uma verdadeira fusão das duas.


O Pecado da Individualidade


Um estudo da biografia dos cristãos revela o fato de que os grandes santos da Igreja (e uso esse termo em seu sentido bíblico, como descritivo de todos aqueles que viveram realmente em e para Cristo) experimentaram, com poucas exceções, o que alguns chamaram de "uma segunda obra da graça". Chegou um momento em que eles almejaram uma participação mais plena na vida de Deus. Podemos chamar isso de santificação; outros deram ênfase ao aspecto do descanso, e chamam de "descanso da fé". A ênfase moderna parece ser sobre os aspectos vitoriosos - é a Vida Vitoriosa. Ou poderíamos chamar isso de Vida Abundante. Seja o que for, a experiência cristã não estará presa a terminologias -, o fato é que, mais cedo ou mais tarde o cristão é despertado para um sentido do pecado da "individualidade". Não há nenhuma razão, bíblica ou outra qualquer, para que os cristãos não devessem, imediatamente depois da conversão, ser conduzidos a essa etapa, mas os fatos indicam que eles normalmente vagam durante alguns anos no deserto de uma afeição dividida antes de entrar na terra que mana leite e mel.

Mais uma vez, é o Espírito Santo que opera no crente a convicção do pecado de um coração dividido. Ele mostra ao crente quão tragicamente a vontade própria frustrou o propósito de Cristo de conduzi-lo à plena união com Ele. Ele revela com torturante precisão e clareza esmagadora as consequências terríveis da "vida do ego" em sua inimizade com Cristo e o seu poder para abafar a vida do espírito. Ele mostra ao crente a duplicidade do seu caminhar, a vergonha de uma piedade vazia, o escárnio de uma devoção superficial a Cristo. O crente passa a perceber que está de novo crucificando a Cristo pela sua avidez ao prazer, pela sua ganância pela excitação e sua paixão por si mesmo. Ele vê que, embora tenha sido arraigado em Cristo, ainda está extraindo muito das velhas raízes. Ele vê quão turva é a corrente da sua vida, o quanto manchou as águas, o quanto o mau cheiro da "vida do ego" arruinou o perfume das flores que cresceram ao seu lado. Ele começa a entender Romanos 7. Ele também poderia ser liberto. O clamor secreto do seu coração também se torna: "Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?".

Isso marca uma crise. Chegou a hora de uma nova revelação do alcance e da eficácia da obra redentora de Cristo. Os olhos do crente precisam ser agora abertos para o significado dos aspectos mais profundos da cruz de Cristo.


Reveladas as Verdades Mais Profundas


A cruz é revelada. O Espírito Santo revela Cristo, desta vez não como Aquele que tira o pecado (embora o crente nunca fique além da necessidade de uma apropriação constante da eficácia do sacrifício de Cristo pelo pecado), mas como o escape para essa coisa repugnante que chamamos de "ego". É uma visão de si mesmo como alguém unido a Cristo em Sua morte - crucificado com Cristo -, visão que agora o Espírito concede ao crente. Ele é levado a ver que também morreu para o pecado na morte do Salvador e foi eticamente entregue a uma posição de morte para que pudesse ser levado pela ação cataclísmica a uma participação corporativa da cruz e da sepultura do Filho do Homem, para sair do domínio da "vida do ego" para uma nova vida de poder divino.

Ele começa a ver que, sem essa participação na morte do Filho do Homem, o pecado, como um princípio (aquela mesma coisa que precipitou o drama abominável do Calvário), continua a operar nele e colocá-lo, de certo modo, em uma posição de cumplicidade com os próprios assassinos do Salvador. Ele percebe que se não conseguir assinar a sentença de morte do "ego", a sua posição como um crente fica completamente insuportável, o ápice das contradições.

Ele começa a perceber que Cristo não apenas morreu por ele como um pecador, mas que ele, como um pecador, potencialmente morreu em Cristo para o pecado e que o primeiro sem o último o envolverá em contradições morais profundamente repugnantes e infames. A lógica de tudo isso abate sobre ele com a força de um demônio e o impelem da sua posição de duplicidade (inconscientemente mantida, sem dúvida). Ele precisa morrer com Cristo para o pecado ou continuar crucificando Cristo - a mente carnal é inimizade contra Deus (Rm 8.7). Ele percebe que, a não ser que o ego seja crucificado, Cristo é crucificado.

Tudo isso é obra do Espírito Santo. Não é natural para um homem virar-se contra si mesmo e começar a odiar aquilo que pela natureza ama mais que qualquer outra coisa sob o sol, ou seja, o "ego".

O Espírito Santo, conforme escreve o doutor A. B. Simpson no livro Dias de céu na terra², é o grande Empreiteiro que finalmente nos conduz ao lugar para o qual Deus nos destinou, isto é, para um compartilhamento da sepultura de Cristo. Mas Ele não pode nos conduzir à participação na vida de crucificado - nos conduzir ao lugar chamado Calvário sem o nosso consentimento. Devemos consentir na morte.

Tudo o que a cruz significa de dor e vergonha, ignomínia e morte - o partir do Coração de Cristo não é nada mais nada menos do que o modo infinitamente delicado e moral de Deus para nos conduzir a uma disposição para morrer. Isso não seria um exagero se Ele pudesse apenas nos persuadir de nós mesmos e alcançar o nosso consentimento para morrermos.

É por isso que a cruz salva. Não é pela magia divina. Não é simplesmente que Cristo tomou o nosso pecado. Ele fez isso, mas o propósito do Calvário vai infinitamente além disso. De certo modo, concordo com Lord Beaconsfield³, que difama a doutrina da expiação e diz que ela é positivamente imoral. Como concebida por muitos, é imoral. Se o mérito da morte substitutiva de Cristo para que eu esteja diante de Deus é apenas algo que pode ser-me imputado simplesmente porque aceito o sacrifício do Salvador e não tem efeito na minha maneira de viver - se ele deixa a erva venenosa, que chamamos de pecado, crescer em mim - então, por tudo que é razoável, eu digo que a cruz é imoral. 

Mas esta não é a cruz de Cristo. É a cruz mutilada dos cristãos modernos. A cruz de Cristo é substitutiva porque "o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos", mas é mais do que isso. A própria natureza da obra redentora de Cristo consumada no Calvário é tal que você não pode receber os seus benefícios penais sem participar dos seus benefícios morais. Isto é, se você olhou para o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo sem chegar a uma profunda vontade de ser separado do ego - desarticulado do falso centro, o ego, para ser articulado ao verdadeiro, que é Deus -, então é seguro dizer que o propósito

real de Deus naquele indescritível evento, que um escritor chamou de o momento mais sublime na história moral de Deus, simplesmente não foi alcançado. O Espírito Santo nunca teve uma chance de operar em você para conduzí-lo a uma participação espiritual na morte do Filho de Deus, que na economia divina foi corporativa - o Corpo, a Igreja, morrendo em seu divino Cabeça.

O principal dos apóstolos viu isso tão claramente que dá um grito, como se tivesse sido apunhalado, quando o assustador pensamento da possibilidade de continuar em pecado, depois da fé em Cristo, é sugerido - uma doutrina que até na Igreja primitiva teve a sua aceitação. "Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que seja a graça mais abundante?".

Por que não, se, no final das contas a salvação, como tantos estão acostumados a pensar nela, é simplesmente uma libertação das consequências penais do pecado? "Ah!", diz o apóstolo, "como viveremos ainda no pecado, nós os que para ele morremos?

Ou, porventura, ignorais que todos nós que fomos batizados em Cristo Jesus fomos batizados na Sua morte? Fomos, pois, sepultados com Ele na morte... fomos unidos com Ele na semelhança da Sua morte... foi crucificado com Ele o nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja destruído... quanto a ter morrido, de uma vez para sempre morreu para o pecado... considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus" (Rm 6.1-11).

A verdade fora de proporção, foi muito apropriadamente dito, se torna um erro. A verdade sobre a morte substitutiva de Cristo sem o que encontramos em Romanos 6 - isto é, o fato, no bom julgamento de Deus, da nossa participação na cruz, da nossa união com Cristo na Sua morte para o pecado, da nossa voluntariedade, numa palavra, para que o Espírito termine com a velha vida do "ego", a vida carnal, que é inimizade contra Deus, separando-nos do "ego" e nos centrando em Deus, a verdade, repito, do primeiro afirmada sem a verdade do último conduz a uma confusão que o erro sempre acarreta; é um Evangelho decapitado, o qual pode causar, em alguns casos, mais dano do que bem.


Crucificada a "Vida do Ego"


Nas memórias da Sra. Penn-Lewis, há uma história estranha conectada a sua visita à Índia, que encaixa de forma muito bela nessa linha de pensamento. Um missionário, que mais tarde, com o zelo de um apóstolo, se entregou à tarefa de propagar os escritos da Sra. Penn-Lewis, os quais na sua maioria versam sobre a identificação do crente com Cristo em Sua morte e ressurreição, teve um sonho que muito o impressionou. Foi da cruz de Cristo. Contudo, não foi a aparência sangrenta do Salvador que chamou sua atenção. Era algo excessivamente feio, indescritivelmente repugnante, cuja natureza ele não pôde decifrar. O

que era isso que tanto o horrorizou? Mais tarde, quando ouviu a mensagem da identificação e compreendeu que tinha sido crucificado com Cristo, o Espírito revelou a ele que aquela coisa repugnante que tinha visto em seu sonho não era nada senão ele mesmo.

Que a Igreja possa alcançar uma nova visão do Calvário e venha a apreciar o significado dos aspectos mais profundos da cruz! Que os cristãos possam perceber que o objetivo de Cristo foi o de acabar, por assim dizer, com a "velha criação", levando o homem (Cristo era o Filho do Homem) para a sepultura para destruir o "corpo do pecado", pondo fim à "velha vida", e então gerá-lo no poder da ressurreição, impregnado com a dinâmica da vida celestial! Falando dos judeus e gentios, Paulo diz: "...[Cristo] aboliu, na sua carne, a inimizade... para que dos dois criasse, em si mesmo, um novo homem... por intermédio da cruz" (Ef 2.15-16). Que revolução espiritual isso operaria na vida da Igreja! Uma onda de vida divina passaria impetuosamente por ela, revitalizando os membros do corpo de Cristo, muitos deles enfraquecidos no pântano do desgaste espiritual, com uma alegria renovada e os incendiando com uma vida celestial - a Vida das Eras.

A Igreja, como disse o grande pregador francês Lacordaire, nasceu crucificada; e a menos que, como a sua divina Cabeça, caia na terra e morra, permanece só, os rios vivificantes não podem jorrar do seu seio. Não é, como um dos nossos irmãos britânicos disse, um grande mover no campo da realização carnal, mas um morrer divino, que trará a Igreja de novo para um flamejante zelo apostólico e uma frutificação comparável com aquela dos cristãos primitivos.

Deus nos concede a graça de sermos esclarecidos sobre uma coisa: Cristo não entra na nossa vida para remendar o "velho homem". É aqui onde as inumeráveis multidões de cristãos têm estado "penduradas". Elas pensam que a missão de Cristo foi de "torná-las melhor". Não há absolutamente nenhuma base bíblica para tal ideia. Jesus disse que não tinha nenhuma intenção de derramar Seu vinho novo em odres velhos. Ele disse que não tinha vindo para trazer a paz, mas uma espada. Ele disse que a menos que um homem renunciasse completamente a si mesmo, não poderia ser Seu discípulo. Cristo não vem a nós para simplesmente arrumar a "velha vida". Ele nunca prometeu nos tornar melhores. Toda a Sua obra redentora consumada na cruz descansa sobre a suposição (é mais que uma suposição - Deus diz que é um fato) que a condição do homem é tal que somente uma morte e um nascer de novo podem possivelmente satisfazer as exigências neste caso. Em vez de tentar remendar o homem e então deixar que ele imite da melhor forma que puder o modelo dado na Judéia há dois mil anos, Cristo o leva para a sepultura, onde a "velha vida" é totalmente acabada, e então o faz participante da Sua ressurreição. Cristo, o nosso Senhor, nos une a Ele e nos comunica uma "vida" inteiramente "nova".

Mas temos a nova sobre a base da nossa recusa da velha.


Cristo é a Videira, nós somos os ramos. Ele é a Cabeça, nós formamos o corpo.


As epístolas de Paulo são entremeadas por um significativo "se", que muitas vezes nos aponta para o Calvário e nos choca com uma imperativa demanda - devemos consentir em sermos co-crucificados. "Se já morremos com ele, também viveremos com ele..." (2 Tm 2.11). "Porque, se fomos unidos com ele na semelhança da sua morte, certamente, o seremos também na semelhança da sua ressurreição. (Rm 6.5). ".. se perseveramos, também com ele reinaremos. " (2 Tm 2.12).



O Rádio do Calvário


Há pouco tempo, estava lendo sobre a estranha sina de certas jovens que são empregadas em um laboratório onde o contato com o rádio é inevitável. Essas jovens sabem que, após ingressarem nessa fábrica, o destino delas está selado. Elas morrerão. Depois de alguns meses, ou anos, não me recordo o tempo exato, elas são liberadas do seu trabalho com um belo cheque de dez mil dólares. Algumas vivem um ano, outras dois, outras três, mas todas morrem pelos efeitos do rádio. Essa é a razão da abundante remuneração. Os médicos examinaram meninas que estiveram em contato com o rádio e descobriram, por meio de raios X, que um fogo estranho, que lentamente consumia a vida, queimava em seus ossos. O rádio mata. Ele é a força mais altamente concentrada conhecida pelos cientistas.

Há dois mil anos, ali na manjedoura em Belém, Deus deu ao mundo Seu Filho Unigênito. N'Ele estava concentrado o amor infinito do Pai. Mas toda a força daquele amor redentor não foi liberada para um mundo abatido pelo pecado até que ali no Calvário o coração flamejante do Amado quebrou. Foi então que Rádio Celestial foi focado sobre o grande câncer do pecado e vergonha da humanidade. O rádio mata. Não há nenhum poder

debaixo do céu que possa resistir a sua concentrada dinâmica.

A cruz mata. O homem que se expõe ao Calvário logo descobre que um fogo escondido queima dentro dos seus ossos. A velha "vida do ego", tão ressentida, tão atarantada, tão gananciosa e tão sensível, tão arrogante e tão vã, tão cega para tudo, menos para a sua própria concupiscência particular, tão pronta para sacrificar o bem de muitos se apenas a sua própria honra puder ser assegurada - a velha "vida do ego" não pode resistir ao impacto do Calvário mais do que um frágil barco a investida de uma grande onda.

O Doutor Mabie, em sua notável obra A cruz, fala da morte do Salvador como "Imortal morte". Ela gerou uma força - a força moral destrutiva do pecado - perto da qual todas as éticas frias das eras, todos os preceitos dos moralistas, sim, todas as leis das nações são como o cintilar de uma estrela comparado ao brilho do sol em seu apogeu. De fato, não foi uma mera morte.

As rochas foram fendidas e a terra tremeu quando naquela hora de triunfo o Filho do Homem clamou (os evangelistas insistem que foi com "grande voz") "está consumado". A vida não se esgotou simplesmente. A sua força aumentou. Por isso na hora final o grande Clamor de Consumação sacudiu a própria terra. "O centurião que estava em frente dele, vendo que assim expirara, disse: Verdadeiramente, este homem era o Filho de Deus" (Mc 15.39). Corretamente o doutor Mabie fala do "processo intermediário da morte e ressurreição". A ressurreição estava na morte, e a morte está na ressurreição. Agora este Rádio Moral concentrado, se posso assim dizer, é liberado no espírito do crente quando ele se rende ao Cristo da cruz. A "velha vida" dominada pela dinâmica da cruz é condenada à morte. A vida de ressurreição toma o seu lugar. Não é à toa que o apóstolo dos gentios clamou: “Mas longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu, para o mundo" (Gl 6.14).

“... mas nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios; mas para os que foram chamados, tanto judeus como gregos, pregamos a Cristo, poder de Deus..." (1 Co 1.23-24). (Poder, no grego, dunamis, de onde provém a palavra dinamite.)


              F. J. Huegel


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