NÃO AGORA, MAS DEPOIS

 


“Quem há entre vós que ouça isto? Que atenda e ouça o que há de ser depois?” (Isaías 42:23).


Desconsiderando o contexto das palavras do profeta, pergunto se realmente acreditamos que existe um porvir. Será que acreditamos que o porvir é um tempo maior que o agora e que o depois é mais elevado do que o presente? Será que cremos que ainda existirão outras eras e que nossa existência nessa terra é apenas um mero fragmento daquilo que ainda será, independente de sua duração? Podemos afirmar que acreditamos que nosso serviço nas eras que virão será muito mais importante do que o realizado nesta era?


Não desejo minimizar a importância desta vida, pois devemos aproveitar toda a oportunidade diante de nós, remindo o tempo que ainda nos resta. Ainda assim, devemos ter consciência que esta existência é só um breve espaço de tempo dentro daquilo que se manifestará. Algumas vezes, parece que partimos exatamente quando estamos chegando à uma maior condição de utilidade para os demais. Quando aprendemos algo de real valor para cooperar com os outros, somos chamados para partir. Que problema! Que enigma é essa vida diante de nós!


“O que há de ser depois”. Essa era a perspectiva dos apóstolos, como vemos pelas suas palavras: “esforçar-me-ei, diligentemente, por fazer que… mesmo depois da minha partida…” (2Pe 1:15). Esse é o teste supremo: medimos as coisas apenas dentro desse período da nossa breve existência ou estaremos contentes em aguardar pelos valores da eternidade?


Vamos sempre vislumbrar “o que há de ser depois” como verdadeira motivação para nossa vida. O fruto de nossas vidas nunca será visto plenamente hoje. Só vislumbraremos uma pequena parcela do seu sentido em nossos dias, pois seu valor completo só será visto depois. Precisamos viver não apenas focados no agora, pois, apesar de vivermos intensamente nossos dias, ainda assim não seremos capazes de fazer ou ser muito. Poderemos até chegar a duvidar se o resultado que obtivemos aqui valeu todo o esforço. No entanto, nosso empenho não será avaliado apenas nesta vida, pois o Senhor avalia as coisas à luz dos “séculos dos séculos”.


T. Austin-Sparks (1888-1971)


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