O Dom dos Dons

De uma feita, estava Jesus orando em certo lugar; quando terminou, um dos seus

discípulos lhe pediu: Senhor, ensina-nos a orar...(Lc 11:1)


A propósito, eles nunca pediram para Jesus lhes ensinasse como andar sobre as águas, como acalmar uma tempestade ou alimentar milhares de pessoas com um punhado de pão e peixes. Não: Senhor, ensina-nos a orar. E Jesus Cristo atende o pedido deles ao lhes ensinar “A Oração do Discípulo,” apesar de a igreja chama-la de “A Oração do Pai

Nosso.”

Após essa instrução, Jesus previu a próxima pergunta que surgiria na mente deles: será que Deus o Pai realmente responde a oração? Por isso, Jesus lhes conta uma história maravilhosa para ilustrar seu ensino. Veja os versos 5–6:

Disse-lhes ainda Jesus: Qual dentre vós, tendo um amigo, e este for procurá-lo à meia-

noite e lhe disser: Amigo, empresta-me três pães, pois um meu amigo, chegando de

viagem, procurou-me, e eu nada tenho que lhe oferecer.

Não ignore o fato de o amigo em necessidade bater à porta da casa do outro à meia-noite; essa não é a hora mais conveniente de todas para ir à casa do vizinho. Agora, nessa cultura, viajar durante à noite não era tão incomum, especialmente quando o clima estava quente. Nesse caso, você poderia acabar com um hóspede sem qualquer aviso—e isso

à meia-noite. Juntamente com esse fator, nessa cultura a hospitalidade era considerada um dever social, especialmente em Israel. Então, agora, você se vê num dilema: não tem comida alguma para dar ao seu hóspede!

Eu me lembro de aprender uma lição ou outra sobre hospitalidade. Crescendo como filho de

missionário, parecia que sempre havia alguém nos visitando em casa. Muitas noites, cedi meu quarto para algum missionário, pastor ou convidado que estava de passagem. Minha mãe parecia sempre ter refeições já pré-preparadas—comida aparecia do nada milagrosamente. Eu não sabia que ela sempre deixava comida no freezer para o próximo

convidado. Eu e minha esposa tínhamos apenas alguns meses de casados e eu ainda estava no seminário, quando num domingo à noite recebemos uma visita inesperada em nossa igreja: um casal de missionários que tinha conhecido no passado.

Então, depois do culto perguntei onde jantariam e disseram que não tinham planos. Então lhes disse: “Por que vocês não vêm jantar conosco lá em casa?”

Eles ficaram muitos felizes.

Então, o casal nos seguiu em seu carro. No caminho, minha esposa ficou olhando para frente o tempo todo, porque sabia que o casal estava logo atrás de nós e ela tinha bastante coisa para falar. Ela disse: “Querido, não temos nada para comer em casa. A despensa está vazia; meu plano era pegar algo no mercado amanhã. Não temos como oferecer jantar.” Ela ainda disse mais coisas, mas isso é o que você precisa saber! Ela foi muito bondosa comigo.

Em seguida, adicionou: “Ah, eu acho que tenho um alface em casa e queijo. Posso fazer uma bela salada.” Então servimos uma bela salada para o casal.

Após o jantar, cometi o erro de perguntar ao casal: “Então, onde vocês ficarão hospedados essa noite?” Eles responderam: “Não temos planos.”

Minha esposa até insistiu que eles ficassem em nosso apartamento de um quarto; eu e ela até improvisamos uma cama na sala. Eu ia dormir na sala de qualquer maneira, então improvisamos.

A lição para mim foi: “Não convide ninguém para jantar na sua casa sem antes perguntar para sua esposa se tem algo para oferecer.” A lição na história de Jesus é: “Você está preso com um convidado no meio da noite. Ah, mas o vizinho assou alguns pães à tarde e você sabe que sua única esperança é bater à porta dele e pedir alguns emprestados.”

Mas o dilema é o seguinte: você pode ou ser um péssimo anfitrião e mandar o convidado dormir com fome, ou ser um péssimo vizinho e acordar a família ao lado à meia-noite.9

Continue lendo Lucas 11, agora o verso 7: E o outro lhe responda lá de dentro, dizendo:

Não me importunes; a porta já está fechada, e os meus filhos comigo também já estão

deitados. Não posso levantar-me para tos dar; Ou seja, “Minha família já está na cama

dormindo.” Para eles, “cama” significava uma espécie de tapete no chão sobre o qual a família inteira dormia. Além disso, nos vilarejos dos dias de Cristo, o povo geralmente levava para dentro de casa suas galinhas e bodes para que não fossem roubados durante a noite. Então, levantar-se à meia-noite acordaria a família inteira e um bando de animais. Por isso, esse homem replica: “Vá embora!”

No verso 8, Jesus diz que esse vizinho que foi acordado finalmente se levanta e dá o pão, não porque é amigo do outro, mas porque se não o outro acordará todo mundo até receber o pão.

Infelizmente, o crente em geral pensa que essa história prova que você precisa ficar batendo à porta até que Deus responda sua oração, que Deus responde somente as orações dos insistentes.

Obviamente, Paulo ensinou sobre a constância na oração—devemos orar sem cessar (1

Tessalonicenses 5.17). Mas essa não é a lição aqui em Lucas 11. Veja o verso 9: Por isso, vos digo: Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á.

O ensino nessa história não provém de uma comparação entre Deus e o vizinho irritado que está dormindo; essa não é uma comparação, mas um contraste. Deus não se parece em nada com esse vizinho; vá até ele a qualquer hora e sua porta está aberta. Veja como Jesus reforça essa verdade nos versos 11–13:

Qual dentre vós é o pai que, se o filho lhe pedir um peixe, lhe dará em lugar de peixe uma

cobra? Ou, se lhe pedir um ovo lhe dará um escorpião? Ora, se vós, que sois maus, sabeis

dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais o Pai celestial dará o Espírito Santo [isto

é, a melhor dádiva de todas] àqueles que lho pedirem?

Parafraseado: “Se vocês que são carne e sangue, criaturas mortais, tratam seus filhos melhor do que isso, imagine como o Deus Pai imortal tratará seus filhos?”10

Mais uma vez, repito que isso não nos absolve da intensidade e disciplina na oração, mas isso significa que você não arranca às forças das mãos relutantes de Deus as coisas que realmente precisa; na verdade, quando você vai ao Pai Celestial, ele já conhece sua necessidade e sua maior necessidade acontece de ser o próprio Deus.11 A resposta pode

até não ser a que queremos ou esperamos, mas, independente do que vier, a resposta provém da mão aberta, generosa e graciosa de nosso Deus soberano, o qual nos dá também do seu Santo Espírito, a fim de que saibamos lidar com a resposta que vier dele.

Gosto muito da maneira como um autor resumiu o ensino de Jesus aqui:

• Pedimos uma dádiva e Deus o Pai nos dá o

Doador;

• Pedimos um produto e Deus nos dá a Fonte;

• Pedimos conforto e ele nos dá o

Confortador;

• Pedimos poder e Deus nos dá a fonte de

poder;

• Pedimos ajuda e ele nos dá o Auxiliador;

• Buscamos respostas e Deus nos dá o

Espírito da verdade para habitar em nosso

interior.12


(Stephen Davey)


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