O Impostor Entre os Santos
Preste atenção nisto: enquanto lidamos com pessoas queridas, há um impostor sagaz nos bastidores. Encontrando o mínimo de orgulho, ele pode dividir casais e famílias inteiras, infiltrar-se na mesa da comunhão dos santos e até falar entre eles enquanto eles falam.
Esse impostor é ardiloso em criar mal-entendidos e levar os santos a desconfiarem uns dos outros e da própria bondade de Deus.
Ele odeia quando um santo responde ao chamado da graça para servir a Deus. Por isso, ele instiga os autoritários a esmagar a cana quebrada e apagar o pavio que fumega. Ele atiça os justiceiros a desenterrarem defuntos e os tagarelas a trazerem a público os antigos pecados que Deus perdoou e dos quais disse que não Se lembraria mais (Hb 10.16-17).
Ele é perito em dispersar santos que trilham o caminho seguro da comunhão e do companheirismo, empurrando-os pelos atalhos vulneráveis do isolamento e individualismo. O solitário é uma presa fácil às mandíbulas do predador.
O impostor induz os santos a usarem seus dons dados por Deus para lutarem entre si, no lugar de edificar Seu reino.
Ele labuta por anos para se infiltrar entre obreiros e dividi-los. Ele celebra com seus comparsas quando consegue transformar amigos em inimigos e, assim, desbaratar a obra de Deus.
Você se lembra de como começou a história de Jó? Um dia, quando os anjos foram prestar contas a Deus, Satanás, o impostor, se infiltrou no meio deles.
Você se lembra de quando Pedro chamou Jesus à parte e começou a repreendê-lo por dizer que cumpriria Sua missão?
Você se lembra de como Jesus repreendeu Pedro? “Afaste-se de mim, Satanás!”
Não é sem motivo que Lucas relata por duas vezes que surgiu entre os discípulos uma discussão sobre qual deles seria o maior (Lucas 9.46 e 22.24).
Por longo tempo o impostor lançou as sementes da ambição no coração dos discípulos. Ele bem sabe que a carne é um solo fértil para sua lavoura.
Foi após Pedro saber que receberia as chaves do Reino que ele tentou controlar Jesus. A ambição do impostor pelo trono do Universo achou caminho por meio da ambição que cultivou na alma de Pedro.
O Senhor permite a sutil ação do impostor entre os santos para expelir suas sementes enraizadas no porão de nossa alma.
Por experiência própria, o impostor sabe que aquele que galga a montanha procurando conquistar o topo entre os santos será deposto das alturas do orgulho espiritual.
Decerto, todo mundo é humilde e bom até ter dinheiro e poder. O sucesso sem profunda humildade e sujeição é o trampolim para a queda. O impostor pavimenta o caminho do pináculo do poder para o ambicioso escalar e, depois, o empurra no abismo de Saul: “O Espírito do Senhor se retirou de Saul e um espírito mau o atormentava” (1 Sm 16.14).
Para manter o impostor distante, ocupe-se em ser um servo e não lute por ser líder, pois é na arena do poder que o orgulho aflora e príncipes de Deus sucumbiram no precipício da vaidade.
Andrew Murray estava certo ao denunciar[1] que o orgulho é a raiz de todo pecado e mal, a porta, o nascimento e a maldição do inferno, a explicação de toda decadência e fracasso, tanto na vida de um filho de Deus como na Igreja.
O orgulho da “santidade”, diz Murray, é “o mais sutil de todos os males”, enquanto “a humildade é o único solo fértil no qual a graça de Deus pode produzir abundante fruto” (…). “O que você tem de orgulho dentro de você é o que tem de anjo caído vivendo em você; o que você tem de verdadeira humildade é o que você tem do Cordeiro de Deus dentro de você”.
“O mal não pode ter início a não ser pelo orgulho, e não ter fim a não ser pela humildade. A verdade é esta: o orgulho tem de morrer em você, ou nada dos céus poderá viver em você. Sob a bandeira da verdade, desista de si mesmo para o manso e humilde espírito de Cristo. A humildade tem de lançar a semente, ou não pode haver colheita nos céus.”
Tenhamos bom ânimo! É na fornalha das provações e nas crises dos relacionamentos que nossas impurezas são queimadas e o impostor é discernido e expulso.
Sempre adore a Deus e seja grato. Não permita que as críticas lancem você no inferno do desânimo, nem que os elogios o elevem ao céu da vaidade.
Fique firme nas provações! Embora haja um impostor entre os santos, Deus o mantém como a um cão raivoso preso em sua corrente. Como disse Lutero: “O diabo é o diabo de Deus!”. De forma misteriosa, ele está prestando um serviço a Deus sendo um sparring[2] dos santos, treinando-os para serem vencedores no reino vindouro.
[1] Em sua obra clássica Humildade, a Beleza da Santidade, publicada pela Editora dos Clássicos.
[2] Designa a pessoa que auxilia no preparo de um lutador, participando das lutas como adversário.
Comentários
Postar um comentário