O Filho de Deus Superior aos Anjos
O Filho - Um Nome Mais Excelente
"Tendo se tornado tão superior aos anjos quanto herdou mais excelente nome do que eles. Pois a qual dos anjos disse jamais: Tu és meu Filho, Eu hoje te gerei. E outra vez: Eu lhe serei Pai, e ele me será Filho." (Hebreus 1:4-5)
“Este nome mais excelente é “o Filho”, um nome que é plenamente definido nos versículos subsequentes” ¹, revelando-se assim no mais glorioso nome que recebeu, bem superior a todos os anjos de Deus .²
“A excelência superior do Novo Testamento sobre o Antigo consiste em que Deus nos falou e realizou salvação a nosso favor em seu Filho. A Epístola aos Hebreus consiste no desvendar da glória da pessoa e obra do Filho. Quanto mais completamente
compreendermos essa verdade e tivermos nosso coração por ela permeado, mais apreenderemos a perfeição da salvação que Deus proveu agora para nós. Conhecer Jesus Cristo em sua glória é a grande necessidade, a única salvaguarda, é o crescimento garantido da vida cristã.
Em geral, não há melhor maneira de se conhecer algo do que contrastando-o com o que é menos perfeito.”³
“Tendo em vista tudo que já foi dito, a superioridade do Filho aos anjos não é surpresa alguma. Mas não fica tão claro por que a comparação é feita com anjos a esta altura. Pode ser que o escritor tinha meditado sobre as passagens do Antigo Testamento que passa a citar, com interesse especial pelo Salmo 8 (citado no cap. 2) e no Salmo 110, porque os considerava messiânicos. Do outro lado, é possível que a ideia da superioridade de Cristo aos anjos lhe tenha ocorrido primeiro, e que as passagens relevantes tenham, então, surgido na sua mente. Esta última sugestão é provável, tendo em vista o grande interesse que os judeus tinham pelos anjos. É compreensível que, numa época em que os anjos eram tidos em alta estima, o escritor desejasse demonstrar que Deus agora falara através do Seu Filho de uma maneira muito mais eficaz do que através deles. O homem moderno não tem tanta certeza acerca dos anjos, e a relevância desta passagem requer alguma discussão. Os anjos aparecem várias vezes nas histórias dos Evangelhos, e não se pode negar que os evangelistas consideravam estes seres sobrenaturais como seres reais. Na realidade, Jesus mesmo falou dos anjos da guarda dos filhos. Boa parte da crítica moderna dispensa os anjos ao chamá-los de seres mitológicos, i.é, algum tipo de personificação das mensagens de Deus. Se esta opinião fosse certa, haveria pouca relevância na discussão da superioridade do Filho aos anjos, a não ser para demonstrar a ineficácia dos seres mitológicos. Mas se há dimensões espirituais representadas por anjos que não podem ser consideradas no mesmo nível da experiência natural, fica sendo imediatamente relevante definir a posição do Filho nestas esferas espirituais. O homem de fé pode às vezes penetrar nas esferas que estão bloqueadas para muitos por causa da sua descrença. O “anjo” no Novo Testamento é invariavelmente um mensageiro de Deus e é este aspecto que é importante para o presente argumento do escritor. Concentra-se primeiramente no nome, que outra vez é surpreendente. O ditado moderno: “O nome não importa” certamente não era aplicável então, porque os nomes eram mais do que um meio de distinguir as pessoas; eram o meio de dizer algo acerca daquelas pessoas. O nome descrevia a natureza. Mas qual é o nome que Ele herdou? Visto que Jesus já foi introduzido como o Filho, ideia esta que é o tema das citações do Antigo Testamento que se seguem, fica claro que o nome mais excelente é o de Filho, que subentende o relacionamento mais estreito e mais íntimo. Visto que para o mundo daqueles tempos o nome de “anjo” era tão altamente honrado como símbolo de mensageiro divino, é possível que alguns estivessem chamando Jesus Cristo pelo nome de “anjo” e fazendo-O não mais alto do que os seres espirituais que, segundo se acreditavam, influenciavam os negócios dos homens. A idéia dEle como Filho é muito mais sublime.” *
A Epístola aos Hebreus ensina-nos a glória do Novo Testamento, contrastando-a com o Antigo, especialmente estabelecendo um contraste com aqueles que foram seus grandes mediadores e representantes. Ela mostrará a superioridade de Cristo em relação aos anjos, a Moisés, a Josué, a Abraão, Levi e Arão.
A epístola inicia contrastando Jesus com os anjos. Tendo se tornado tão superior aos anjos quanto herdou mais excelente nome do que eles. Apesar dessas palavras pertencerem gramaticalmente aos versículos anteriores da epístola, elas são um título para o que será mencionado a seguir. Essas palavras são a transição desde o tema até a primeira parte do argumento - a excelência de Cristo como Filho de Deus sobre os anjos.
Os judeus contavam como um de seus grandes privilégios o fato da lei haver-lhes sido dada por meio da ministração de anjos, espíritos celestiais, vindos diretamente do trono de Deus (Hb 2:1; At 7: 38; 53; Gl 3:19). Frequentemente Deus se manifestou na forma de anjo: "o Anjo do Senhor" foi lider de Israel. Contudo, apesar de um privilégio tão grande, isso é como nada comparado ao privilégio da nova revelação. Anjos não passavam de criaturas; eles poderiam demonstrar sinais de poder celestial e falar palavras de verdade celestial, mas, como criaturas, não poderiam trazer a vida do próprio Deus nem alcançar verdadeiramente a vida do homem. No Antigo Testamento, como um título de honra, os anjos são chamados "filhos de Deus" (Sl 29:1; 79:6); mas há somente um de quem é dito "Tu és meu filho, eu hoje te gerei". Somente Jesus, tornando-nos participantes da vida de Deus, poderia de fato aproximar Deus de nós e levar-nos para perto de Deus.
O escritor provará neste primeiro capítulo da epistola a superioridade do Filho em relação aos anjos empregando uma série de citações do Antigo Testamento. Mas não devemos considerar esses textos somente como prova da divindade de nosso Salvador, mas uma revelação divina da glória dessa divindade em seus vários aspectos. Desde o inicio de sua argumentação, o escritor provará como, ao longo de todo o Antigo Testamento, esse testemunhou da glória do Filho de Deus como o grande pensamento que sempre ocupou o primeiro lugar no coração de Deus em sua revelação para o homem.
Antes de prosseguirmos para o estudo dos textos propriamente ditos, é importante observar como o escritor os emprega. Quando nosso Senhor ou o apóstolo Paulo citam o
Antigo Testamento, eles dizem: "Moisés diz", ou "Davi diz", ou "os profetas dizem". A Epístola aos Hebreus, contudo, cita as palavras como provenientes dos lábios de Deus: "Ele diz". Nas sete citações presentes no capítulo que ora estudamos, vemos sempre a expressão "Ele diz". Mais adiante, encontramos mais de uma vez a expressão: "O Espírito Santo diz". A Escritura tem dois aspectos, o humano e o divino. O conhecimento de todas as passagens que poderiam demonstrar que as Escrituras foram compostas por mãos humanas tem seu grande valor.
Mas é ainda mais importante nunca esquecer o aspecto divino e ter firme convicção de que a Escritura é, de fato, palavra de Deus, que o próprio Deus falou nos profetas por meio de seu Espírito, e que o poder de Deus habita nessa Escritura.
Quando temos essa convicção, aprendemos dois aspectos absolutamente necessários para o estudo proveitoso da Epístola aos Hebreus. Primeiramente, aprendemos que essas palavras de Deus têm profundo significado divino, significado esse que a mente humana jamais poderia compreender ou interpretar. A maravilhosa exposição do Salmo 2 e o Filho de Deus; do Salmo 8 e a natureza humana de Jesus; do Salmo 95 e o descanso de Deus; do Salmo 110 e o sacerdócio de Melquisedeque comprovam que essas palavras foram sopradas pelo Espírito de Cristo, que sabia o que estava por vir, e também demonstra
que somente o mesmo Espírito poderia ter ensinado o escritor desta epístola a apreender e desvendar seu significado divino.
A outra lição que aprendemos a partir da convicção mencionada acima é que os pensamentos divinos, depositados pelo Espírito Santo no Antigo Testamento como uma semente e desvendados por esse mesmo Espírito no Novo Testamento, ainda necessitam do ensinamento do Espírito para torná-los vida e verdade para nós. Deus deve resplandecer em nosso coração para nos dar a conhecer sua glória na face de Cristo.
Cristo é a Palavra, "que era Deus", que fala conosco com palavras vindas do profundo do coração de Deus, uma pessoa viva. Somente o coração que se entrega para ser guiado pelo Espírito Santo pode ter proveito do ensinamento da Palavra e conhecer verdadeiramente Cristo em seu poder de salvação divino. As verdades sobre a filiação e divindade, sacerdócio, e redenção de Cristo foram entregues ao Espírito Santo. Ele as revelou de tempos em tempos; somente ele as pode revelar.
Todos têm livre acesso às palavras escritas; nossa mente pode entender seu significado, mas sua vida e poder e bênção, a glória do Filho de Deus como um poder de salvação, não são dados para nenhum outro, senão àqueles que aguardam humildemente que o Espírito de Deus os ensine.
No Antigo Testamento, os anjos foram portadores de maravilhosas mensagens de Deus; mas ele agora achega-se mais próximo de você e deseja falar-lhe de forma muito mais maravilhosa e abençoada, revelando a Palavra eterna em seu coração.
Esses anjos podiam trazer palavras e milagres. Mas trazer a
vida e o amor de Deus e revelá-los ao coração é algo que somente
o Filho pode fazer. E ele o faz. Cristo é a natureza divina que se
manifesta e comunica a si mesma. Não posso ter qualquer contato
com Cristo ou com Deus nele, senão quando O recebo como a
natureza divina que se comunica a si mesma, como manifestada em sua vida, vontade e caráter humanos.
Que privilégio se um anjo hoje me agraciasse com sua visita!
Mas Cristo, o Filho que está à direita de Deus, não somente me visitará, mas fará morada em mim. Levanta-te, minh'alma, e recebe os privilégios que te foram concedidos: Deus te fala em seu Filho.
(...)
(¹W.Nee; ² J.B.Phillips; ³ Andrew Murray; * Donald Guthrie)
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