O Filho - O Unigênito

 


"Pois a qual dos anjos disse jamais: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei? (Salmo 2:7). E outra vez.

Eu lhe serei Pai, e ele me será Filho? (2 Samuel 7:14).

E, novamente, ao introduzir o Primogênito no mundo

diz: E todos os anjos de Deus o adorem. (Salmo 97:7)."

(Hebreus 1:5)


“Os leitores judeus certamente devem ter tido alta estima pelos anjos e o escritor considera necessário demonstrar a superioridade de Cristo a estes mensageiros celestiais reverenciados. O caráter glorificado de Cristo pressupunha Sua superioridade aos anjos, mas um problema surgiria acerca da Sua humanidade. Nesta seção, o escritor leva seus leitores a reconhecer porque Jesus tinha de tomar-Se um homem verdadeiro a fim de ser eficaz como Sumo Sacerdote em prol dos homens, função esta que nenhum anjo poderia cumprir.”¹ (cf.1.5-14)

A razão por que Cristo é superior aos anjos e o Novo Testamento é muito superior ao Antigo é o fato de Cristo ser o Filho de Deus. Se quisermos compreender o ensinamento e receber a bênção da Epístola aos Hebreus e, de fato, tornar-nos participantes do poder interior e da glória que a redenção de Cristo trouxe, devemos nos deter em profunda humildade até que Deus nos revele o significado de seu único Filho ter-se tornado nosso salvador. A infinita superioridade do Filho sobre os anjos é a mesma superioridade da vida celestial que

ele traz e nos concede. Os anjos poderiam falar a respeito de Deus e de vida. O Filho, contudo, tem a vida de Deus, ele é essa vida e a concede. Quem tem o Filho tem a vida.

"Tu és meu filho; eu hoje te gerei". Essas palavras são empregadas em Atos 13:33 a respeito da ressurreição de Cristo. Assim, a palavra primogênito, empregada no próximo versículo, também é uma referência à ressurreição (Cl 1:18; Ap 1:5). O Filho foi não apenas gerado do Pai na eternidade, mas foi gerado novamente na ressurreição. Na encarnação, a união entre o divino e a natureza humana havia apenas começado, essa união teve de ser aperfeiçoada por Cristo, ele precisou exercitar sua vontade humana para se entregar à vontade de Deus mesmo até a morte. Na ressurreição (Rm 1:4), "Ele foi designado Filho de Deus com poder". A plena manifestação da humanidade em perfeita comunhão e igualdade com a Divindade estava completa; o Filho do Homem foi manifesto como o Unigênito em toda a semelhança e glória do Filho de Deus. Paulo emprega essa verdade em Atos 13:33 quando diz: "Deus ressuscitou a Jesus, como também está escrito no Salmo segundo: tu és meu Filho, eu hoje te gerei". Ele, então, tornou-se o primogênito dentre os mortos.²

“Hoje refere-se ao dia da ressurreição (At 13:33). Este capítulo nos fornece um relato de Cristo desde a eternidade passada até à eternidade futura. Ele era o próprio Deus na eternidade passada (v. 8); foi o Criador da terra e dos céus (vv. 10, 2); é o que sustenta e carrega todas as coisas (v. 3);é o Herdeiro de todas as coisas (v. 2); encarnou para cumprir a redenção ao ser crucificado (v. 3); foi gerado Filho de Deus em ressurreição para infundir vida aos muitos filhos de Deus (v. 5); é o Primogênito de Deus que virá novamente (v. 6); será o Rei que está no trono com o cetro, no reino (vv. 8-9); e permanecerá pelos séculos dos séculos na eternidade futura (vv. 11-12).”³

"E novamente, eu lhe serei Pai, e ele me será Filho". Essas palavras foram proferidas a Davi a respeito de um filho que Deus lhe concederia, mas com a clara indicação de que seu significado referia-se a algo muito além do que um mero ser humano poderia ser. No Filho do Homem, que foi levantado em poder e declarado Filho de Deus na ressurreição, essas palavras foram cabalmente cumpridas.

"E, novamente, ao introduzir o Primogênito no mundo diz:

E todos os anjos de Deus o adorem". O salmo fala de Jeová vindo para redimir seu povo; o Filho é de tal forma um com o Pai que o Pai age somente por meio dele, e somente pode ser conhecido nele, e a adoração somente pode subir a Deus também por meio dele. Os anjos adoram o libertador como Jeová.

Cristo é o Filho de Deus! O que isso significa para nós e que bênção traz à nossa fé? Primeiramente, esse fato aponta para o grande mistério de Deus ter um Filho. Esse é o mistério do amor divino e tem duplo sentido. Porque Deus é amor, ele

gera um Filho a quem ele dá tudo o que é e possui, em cuja comunhão ele encontra sua vida e prazer, por meio do qual pode revelar a si mesmo, com quem compartilha a adoração de todas as suas criaturas. E porque Deus é amor, esse Filho de Deus torna-se o Filho do Homem. E o Filho do Homem, tendo sido aperfeiçoado para sempre, entra, através da morte e ressurreição, em toda a glória que pertencia ao Filho de Deus.

E agora este Filho de Deus é para nós a revelação, o portador do amor do Ser divino. Nele, o amor de Deus habita em nós; nele entramos nesse amor e, nesse amor, descansamos. Quando Deus nos fala em seu Filho, trata-se do amor infinito sendo dado a nós, tornando-se a vida interior de nossa vida.

Se perguntarmos como isso pode ser realizado, a resposta é a segunda grande lição que nos é ensinada por meio da verdade "Cristo é o Filho de Deus"! É pelo fato de ser o Unigênito de Deus, por meio de um nascimento divino, que Cristo tornou-se o Filho. Na eternidade, foi um nascimento; na ressurreição, foi um nascimento de entre os mortos. Assim, é unicamente por meio de um nascimento divino que o Filho, que o amor de Deus, pode entrar em nós e, de nós, apossar-se. É por uma geração eterna que o Filho é Deus. Na eternidade, não existe passado; tudo o que Deus é e faz é realizado no infinito poder de um agora sempre presente. Foi no poder daquela geração eterna que o Pai nos gerou em seu Filho (1Jo 5:1-18) e gerou seu Filho em nós, que o Pai fala a Palavra eterna para nós e em nós. A Palavra de Deus é o Filho vindo do coração do Pai, falado em nosso coração e ali habitando. O Filho é amor de Deus; na pessoa do Filho, o amor de Deus é gerado em nós, tornando-nos participantes de sua própria natureza e bênção por meio de um novo nascimento.

Se quisermos aprender a lição que a Epístola aos Hebreus ensina, se quisermos experimentar em nossa vida cristã o pleno poder da redenção eterna, necessitamos, acima de tudo, aprender a conhecer melhor Jesus. O conhecimento geral que tínhamos dele antes de nossa conversão e no momento de nossa conversão não é suficiente para um crescimento forte e saudável. Deus deseja que tenhamos uma amizade íntima, um

conhecimento íntimo de seu Filho amado, para que possamos ser as testemunhas amorosas e felizes do quão completamente ele pode salvar. Façamos isso e lembremos que os anjos e os profetas poderiam somente apontar para Aquele que haveria de vir, que as palavras da Escritura, e mesmo o próprio Cristo, somente são de proveito na medida em que despertam no homem a esperança de algo mais elevado. Esperemos em Deus para que ele nos fale em seu Filho. O falar de Deus em nós será um poderoso ato de poder criador, um nascimento de seu amor dentro de nós.

Ó, Deus, ensina-nos que o segredo abençoado de uma salvação plena é sabermos que Cristo, nosso Salvador, é o Filho de Deus.

Cristo é o Filho do amor de Deus - em Seu coração e no meu.

"Que todos os anjos de Deus o adorem". Todos os servos ao redor do trono de Deus apontam para Jesus; é para ele que devemos olhar. E devemos fazê-lo em adoração; é adoração, adoração, adoração que o Filho deve receber. É para o coração que o adora que ele se dará a conhecer. Que nosso estudo da glória de Cristo na Epístola aos Hebreus seja em completa adoração, que tudo nos leve a prostrar-nos em adoração diante dele.

O Filho é um filho somente no poder de um nascimento divino. Isso não se dá apenas na eternidade e na ressurreição, mas

também em nosso coração. Este é o mistério da vida divina: que nos prostremos em completa impotência e ignorância, e esperemos no Deus Todo-Poderoso para que ele nos revele seu Filho.

O Filho é a Palavra, porque o falar divino não é senão um outro aspecto do gerar divino. Todo o falar de Deus para nós em seu Filho é realizado no poder de uma vida divina. O falar, assim como o gerar, é amor dando-se e comunicando a si mesmo em poder divino como uma vida interior. Somos gerados de Deus por meio do falar de Deus para nós no Primogênito.

(...)


(¹ Donald Guthrie; ² Andrew Murray; ³ W. Lee)


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