A PLENITUDE DOS TEMPOS

 De fazer convergir nele, na dispensação da plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as

do céu, como as da terra (Efésios 1.10).

Deus deu-nos a conhecer, em nossos dias, uma intenção secreta dele, a qual não foi desvendada no Antigo Testamento. O Antigo Testamento nos desvenda o colapso de um plano de Deus após outro.

Os anjos pecam, e o homem, que ele criou para governar a terra, fracassa; e a terra é devastada pelo dilúvio destruidor. Deus levanta Noé como novo líder, que também rapidamente fracassa. Em sua graça, o Senhor chama para si mesmo uma família, e Abraão é circundado por alianças de misericórdia.

Sua posteridade é testada sob Moisés, o servo de Deus; a idolatria irrompe e aquela geração e seu líder são ceifados no deserto. Israel é posto à prova em sua terra, e o sumo sacerdote fracassa e é condenado.

Um rei é estabelecido e é ceifado pela ira de Deus.

Finalmente, Israel é expulso, como transgressor, da terra da promessa. Um remanescente retorna; e estes, postos à prova pela vinda do Filho de Deus, pecam gravemente ao matá-lo. A igreja é, então, levantada, um novo corpo, e seu fracasso é tão completo como o

daqueles que a precederam.

O propósito de Deus não foi o de restaurar uma parte de seu plano quando este ruísse, mas, em sua sabedoria, o de promover um novo projeto. E agora fica claro o motivo pelo qual ele assim fez. Seu desígnio era, depois de mostrar a incompetência do homem caído em sustentar o que lhe foi confiado, submeter a uma autoridade em um dia que virá todas as porções destruídas de seu grande projeto. Aquela autoridade não falhará; mas irá restaurar ao seu devido lugar a unidade, beleza e função de todas as partes arruinadas, em uma dispensação que ainda virá.

O que é "dispensação" ou economia?

É a organização de uma família. Por ocasião do nascimento da princesa e do príncipe de Gales, ocorreram mudanças no palácio da Inglaterra.

Quando o príncipe de Gales se casou, teve início nova economia ou organização de uma família.

A dispensação aqui mencionada é a "da plenitude dos tempos" (Efésios 1.10).

1. Esta expressão parece ser geralmente considerada como o atual tempo de misericórdia. Aqueles que sustentam esta visão, apontam para Gálatas 4.4-5; "Vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, [...] a fim de que recebêssemos a adoção de filhos". Mas as duas dispensações diferem entre si, tanto em sua descrição como em sua intenção. Somente a dispensação vindoura pode convergir todas as coisas em Cristo.

O Salvador, em sua primeira vinda, não foi enviado para reunir e concentrar em si mesmo todas as partes destruídas do grande projeto de Deus. Ao contrário, nosso Senhor nos fala que ele não veio para paz, mas para espada; para dividir até as famílias, como efeito da verdade que ele trazia (Mateus 10.21; Lc 12.49).

Hoje é o dia da paciência e da graça, quando Deus está solicitando aos homens que aceitem o seu Filho.

Mas o fim deste processo é a divisão. "Não queremos que este reine sobre nós" (Lucas 19.14). Alguns se desviarão da fé. "Mas importa que primeiro ele padeça muitas coisas e seja rejeitado por esta geração" (Lucas 17.25). Israel, como resultado de sua descrença, não foi reunido, mas espalhado; e novamente expulso de sua terra.

O que é, então, a "plenitude dos tempos"? (Efésios 1.10).

2. A palavra "plenitude" em hebraico também significa o número sete. Este foi o número que Deus tão livremente usou na lei como o tempo de descansar e de se alegrar, no sétimo dia, no sétimo mês, no sétimo ano, nas sete vezes do sétimo ano do jubileu. O homem debaixo da lei estava obrigado a proporcionar para Jeová, em resposta à sua ordem, descanso e

alegria. Mas Israel não descansou em Deus, nem Deus descansou ou se alegrou em Israel. Nossa esperança está no dia em que o Senhor nos proverá o tempo de descanso e júbilo na primeira ressurreição e no reino de glória.

O governo mundial de Deus é elaborado com base em um modelo perfeito, de acordo com qual ele trabalha. Em sete dias de vinte e quatro horas cada, a criação foi gerada em sua primeira beleza. Em sete dias de mil anos cada, a obra de redenção de Deus será efetuada; depois disso vem o oitavo dia, ou o eterno de uma nova série. O sétimo será "a plenitude dos tempos".

A presente fase difere daquela em Gálatas, tanto na palavra usada para "tempos" como no uso do plural.

A referência é à conclusão dos tempos do ano, como era observado sob a lei. O sétimo mês era o tempo natural de descanso, depois do tempo de muito trabalho que Israel havia tido colhendo e armazenando a produção do ano. E Deus conectou o sétimo mês à

principal apresentação das tribos, perante ele, em riquezas, descanso e júbilo, em Jerusalém e em seu templo. Eram, ao todo, sete festas no ano, como está apresentado em Levítico 23: (1) o sábado; (2) a Páscoa; (3) os Pães Asmos; (4) as Primícias. Depois, as três festas do sétimo mês: (5) as Trombetas; (6) a Expiação; e (7) os Tabernáculos. "Porém, aos quinze dias do mês sétimo, quando tiverdes recolhido os produtos da terra, celebrareis a festa do Senhor, por sete dias; ao primeiro dia e também ao oitavo, haverá descanso solene. No primeiro dia, tomareis para vós outros frutos de árvores formosas, ramos de palmeiras, ramos de árvores frondosas e salgueiros de ribeiras; e, por sete dias, vos alegrareis perante o SENHOR, vosso Deus" (Levítico 23.39-40). "A Festa dos Tabernáculos, celebrá-la-ás por sete dias, quando houveres recolhido da tua eira e do teu lagar. Alegrar-te-ás, na tua festa" (Deuteronômio 16.13-14a).

Três vezes ao ano, eles deveriam se apresentar diante de Jeová em sua cidade eleita: (1) na Festa dos Pães Asmos; (2) na Festa da Sega, "dos primeiros frutos do trabalho"; e (3) na Festa da Colheita, "à saída do ano, quando recolheres do campo o fruto do teu trabalho" (Êxodo 23.14-16).

Este tempo ainda não chegou. Ainda é tempo de trabalhar no campo: de semear e colher. "O semeador semeia a palavra" (Marcos 4.14). "Aquilo que o homem semear, isso também ceifará" (Gálatas 6.7). A colheita de almas também está em ação, e o Mestre está enviando segadores à sua colheita (Mateus 9.37-38). O tempo de plenitude observado por Paulo é aquele de que o Salvador fala quando menciona o dia em que "se alegram tanto o semeador como o ceifeiro" (João 4.36). Então Israel será reunido ao som da trombeta

de Deus (Mateus 24.31). Depois, virá a vez das nações existentes na terra, que serão reunidas diante de Cristo; e os aprovados entrarão no reino, para eles preparado (Mateus 25.32-34). A festa não pode começar até que o último convidado esteja presente, e o rei tenha entrado para inspecionar os convidados antes que seu Filho apareça (Mateus 22).

É o dia que Deus vai convergir nele, debaixo de um único Cabeça, "todas as coisas, tanto as do céu, como as da terra" (Efésios 1.10). O primeiro cabeça da criação de Deus na terra pecou e desintegrou o plano de Deus. Mas aqui está o segundo Cabeça, que vai reunir as partes despedaçadas e divididas. Esta palavra implica na ruína e nas rupturas que ocorreram no céu e na terra. O pecado se imiscuiu entre os anjos para dividir e destruir.

O pecado dos anjos do céu desceu à terra e arruinou a beleza e a alegria da criação. Mas Cristo é o grande restaurador de Deus. Ele será o Cabeça visível e o Governante de todas as coisas.

(1) Como Filho do Homem, ele restaura o domínio perdido de Adão; sim, todas as coisas serão colocadas debaixo de seus pés. (2) Ele é o Filho de Abraão, e será o Cabeça da dupla semente de Abraão, que é como as areias do mar e as estrelas do céu. (3) Como

Filho de Davi e chefe da tribo de Judá, ele reunirá as tribos espalhadas e se mostrará como o Pastor e o Rei de Israel. O Senhor lhe dará o governo sobre todas as nações da terra (Salmo 8). O pecado do desobediente primeiro Adão arruinou tanto o reino vegetal como o animal. A justiça daquele que é obediente restaurará ambos, com a única exceção da espécie pela qual o pecado entrou: "Comerás pó todos os dias da tua vida" (Gênesis 3.14). (4) Como o primogênito dos ressurretos, e Cabeça da igreja, ele congregará para si os filhos da ressurreição, "os herdeiros de Deus". (5) Como o Arcanjo, o Anjo-Jeová do Antigo Testamento, Ele será o Senhor dos anjos eleitos, que obedecerão ao seu comando e expandirão o séquito de sua glória. O nome "Rei dos reis e Senhor dos senhores" (Apocalípse 19.16) não será, em sua mão, um título sem valor.

Do mesmo modo que a transgressão começou pela desobediência, Ele, como o Obediente e o Justo, receberá de Deus um reino que nunca lhe será tirado por força nem perdido por má conduta.

Mas isso não prova que todos serão salvos? De modo nenhum! (1) Refere-se somente aos aprovados que entram no dia milenar. (2) Os anjos rebeldes serão lançados no abismo; os homens maus da humanidade são extirpados da terra por julgamentos terríveis, antes que o Salvador visivelmente tome o cetro sobre todos. O poder Dele estará em execução, não somente para recompensar os amigos, mas para punir os inimigos. O propósito singular daquela dispensação é o de subjugar todos os poderes hostis a Deus; e o último, como sabemos, é a própria morte (1 Coríntios 15.26). (3) A expressão usada "no céu e na terra" não está abrangendo os espíritos que partiram, ou aqueles que foram confinados como inimigos nas masmorras de Deus. Há uma terceira divisão de seres mencionada em Filipenses 2.10: "Ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra". Esta última divisão está omitida do texto de Efésios. Em Apocalipse 20, aqueles não encontrados no Livro da Vida são lançados no lado de fogo. Naquele dia de galardão, nem mesmo todos os salvos entre os homens irão então comparecer (Apocalipse 2.5). E acerca de uma categoria de homens é declarado: "Quanto, porém, a esses meus inimigos, que não quiseram que eu reinasse sobre eles, trazei-os aqui e executai-os na minha presença" (Lucas 19.27).

Enquanto o Salvador não voltar, aquele dia não pode chegar, pois Satanás ainda está livre, e cada vez mais poderoso, e nenhum poder, senão o de Cristo, pode arremessá-lo dos lugares celestiais, ou confiná-lo, juntamente com seus anjos, no abismo de tormento. Até então, a restauração de todas as coisas falada pelos profetas não pode ocorrer (Atos 3.21).

Este é o dia predeterminado por Deus para glorificar o Cristo, o Filho do Homem, o Filho de Deus.

Quando os reis ungidos pelo Senhor, Davi e Salomão, reinaram em Jerusalém, houve um vislumbre da glória vindoura. Jerusalém era a cidade central da terra, a eleita de Jeová, o lugar do templo, do altar e da glória, para a qual as tribos subiam para adorar, enquanto

sua fama atraía nobres e reis, que vinham visitá-la. O reino e a adoração foram, por um breve espaço de tempo, uma coisa só.

Cristo é o Cabeça escolhido de Deus e centro de todas as coisas. Leitor, ele é o seu centro? Ou você está lutando para tornar-se um centro independente? Tais tentativas são insensatas e malignas. Elas provam que uma vida inteira está errada em seus princípios; e que essa pessoa é o tempo todo um rebelde perante Deus.

"Beijai o Filho para que se não irrite, e não pereçais no caminho" (Salmo 2.12). "Este é o meu Filho amado; a ele ouvi" (Marcos 9.7).

Todas as dispensações de Deus anteriores são uma preparação para a futura. Então, os danos e a contenda vistos antes entre os judeus, gentios e a igreja de Deus se tornarão em perfeição e união, na autoridade do Senhor Jesus. Deus constituiu Cristo, Cabeça sobre todas as coisas, para ser Cabeça da igreja, que é o seu corpo (Efésios 1.22-23).

Agora é o tempo atarefado e penoso das dores de parto e do arrependimento; mas o tempo de descanso e júbilo está próximo.

Mais adiante, nesta epístola, o dia milenar é mencionado como o tempo do "reino de Cristo e de Deus", o qual se deve ter cuidado para não perder (Efésios 5.5-7). Será o tempo de Deus no governo, dando a cada um de acordo com as suas obras; o tempo da recompensa, de buscar aquilo para o que fomos chamados.


(Robert Govett - comentários de Efésios - editora: Escriba do Reino)

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