A União do Crente com Cristo
Um homem deve pouco aos seus conhecidos, além das cortesias da vida comum. Mas aos seus amigos, ele deve muito, porque a intimidade e união são adquiridas por um alto preço. Meu amigo tem o direito de esperar de mim e cobrar de mim um particular ciúme por sua reputação, devoção especial ao seu bem-estar e felicidade e uma particular integridade em guardar aquilo que ele me confia. Mas quando chegamos ao casamento, a união é tão íntima que estreita o círculo, de modo a abranger apenas dois dentro dele e não pode admitir mais ninguém. Mais ainda, a ideia de admitir outro é destruidora da sua pureza e perfeição. Aqui a obrigação é tanta que um morreria pelo outro, colocando o corpo entre o outro a qualquer ameaça de perigo.
Agora, vamos lembrar que a relação do crente com o Senhor Jesus é conjugal, e suas obrigações assim como seus privilégios são conjugais. A relação é tão íntima que é exclusiva, fecha em duas partes e exclui todos as outras. Nenhum homem pode servir a dois senhores; mas muito menos pode uma esposa se entregar a dois maridos. Qualquer amor por outro é deslealdade com o legítimo cônjuge e é conhecido por uma das palavras da língua humana mais ofensivas: adultério. Esta palavra quando usada na Escritura e aplicada ao crente geralmente não tem referência ao sétimo mandamento como tal, e sim ao primeiro.
Quando Tiago repreende os adúlteros e as adúlteras, ele está se referindo àqueles que, mesmo casados com Cristo, estão flertando com o mundo, que é inimigo Dele; e ele diz: “A amizade do mundo é inimizade contra Deus”. (Tg 4:4) Esta passagem da Escritura, que nos eleva ao ápice do privilégio exaltado, nos confronta com os trovões e relâmpagos da advertência Divina. Você tem permissão para se considerar a noiva de Cristo, mas lembre-se que porque você foi aceito na união nupcial, todo ato de pecado atinge o próprio fundamento dessa união, assim como o adultério atinge a própria base do casamento.
O que você pensaria de uma esposa que, ao chamar um homem de seu marido, aventura-se para ver até onde ela poderia brincar, flertar e galantear com um traidor, sem perder totalmente o seu marido? E o que se deve pensar de um crente que se aventura para ver até onde ele pode flertar com os prazeres proibidos deste mundo, e os desejos da carne e não perder totalmente o seu Salvador? “Vocês acham”, continua Tiago, “que a Escritura diz em vão: O Espírito que habita em nós tem intenso ciúmes?”. (Tg 4:5)
Eu suponho que essa passagem um pouco obscura significa que: o Noivo Celestial, agora assentado no trono do Seu Pai, reivindica Sua noiva para Si mesmo e zelosamente a deseja inteiramente para Si! Pense nisso! Deus exige e deseja você exclusivamente para o Seu próprio amor, uso e prazer. Esse pensamento deve tornar o pecado impossível, e, na medida em que ele nos possuiu e realmente nos controla, tornará o pecado tão antinatural quanto a impureza é para uma esposa fiel.
O aviso pode explicar o que se segue neste capítulo. Nós temos duas uniões contrastadas aqui: uma com a lei, que nos deixa à mercê da cobiça e que produz apenas o pecado; e a outra com Cristo, que estabelece o amor como a paixão controladora e que produz fruto em novidade de vida. Agora, se não nos enganarmos, esta passagem tão discutida de Romanos 7.7-25 nos mostra o crente em sua experiência com os dois princípios conflitantes em operação: o Amor de Deus por um lado e a cobiça da carne por outro lado, contrários um ao outro. No entanto, mesmo a vontade regenerada não é forte o suficiente para vencer, e então Paulo clama: “Eu aprovo a lei como justa, santa, perfeita, boa e espiritual”; mas ele não está praticamente liberto do poder do mal; e sempre que ele pensa na sua escravidão ainda existente aos velhos hábitos e tendências da natureza carnal, ele só pode gritar: “Ó miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte?” Mas não é um grito sem esperança, ele responde: “Eu dou graças a Deus, por meio de Jesus Cristo, nosso Senhor!” Todos nós já proferimos esse mesmo clamor de desespero. Quantos de nós podemos usar com tanta confiança o seu grito de vitória?
A relação de tudo isso com a santidade é perfeitamente clara. O casamento é o segredo da paternidade – a união com Jesus será em todos os casos o segredo da frutificação santa. Enquanto, e até onde, nós estivermos unidos vitalmente a Cristo, nós temos poder para amar, servir e obedecer a Deus.
Uma ilustração curiosa desta verdade, em outra esfera, me foi dada pelo Rev. Sr. Devins. Em Northfield, no Auditório, o repórter da Tribuna de Nova Iorque buscava transmitir ao jornal, por meio de um telégrafo, um dos endereços ali entregues. Ele descobriu que por alguma causa desconhecida a corrente e o circuito foram quebrados, e os fios não funcionariam. Assim foi necessário enviar para South Vernon e transmitir de uma nova estação. O eletricista descobriu que o fio em um ponto próximo da mesa do operador havia perdido sua capa isolante e estava tocando o solo e descarregando o seu poder elétrico na terra.
Que parábola de vida! Havia homens e mulheres naquele auditório que estavam em tal contato com o mundo que não podiam nem conter, nem reter, nem transmitir bênçãos. Se você deseja que a vida de Cristo se torne o poder de Cristo, você deve manter-se separado para Deus. O toque do pecado é fatal para o poder.
Comentários
Postar um comentário