Melquisedeque Superior a Arão e à Lei

 

“Se, portanto, a perfeição houvera sido mediante o sacerdócio levítico (pois nele baseado

o povo recebeu a lei), que necessidade haveria ainda de que se levantasse outro sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque, e que não fosse contado segundo a ordem de Arão? Pois, quando se muda o sacerdócio, necessariamente há também mudança de lei. Porque aquele de quem são ditas estas coisas pertence a outra tribo, da qual ninguém prestou

serviço ao altar; pois é evidente que nosso Senhor procedeu de Judá, tribo à qual Moisés nunca atribuiu sacerdotes.” (Hebreus 7:11-14)


No Salmo 100, Deus falou empregando o juramento de um sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque. Essa foi uma profecia com um profundo significado espiritual. Por que deveria a ordem de Arão, a qual o próprio Deus chamou, cujo serviço ocupou um lugar tão proeminente no propósito de Deus e nas Escrituras, ser substituída pela ordem de outro sobre o qual conhecemos um único ato apenas? "que necessidade haveria ainda de que se levantasse outro sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque, e que não fosse contado segundo a ordem de Arão?" A resposta é porque a ordem de Arão era somente uma figura da obra de Jesus sobre a terra; para o sacerdócio eterno e poderoso do Senhor nos céus era necessário algo mais.

Detenhamo-nos um pouco sobre esse assunto para que possamos entendê-lo. A obra de Arão era a sombra da obra de Cristo sobre a terra, do sacrifício e derramamento de sangue, da expiação e reconciliação com Deus. Arão entrou, de fato, dentro do véu com o sangue como um símbolo da aceitação de Deus da expiação e também do povo. Mas ele não poderia demorar-se dentro do Santuário, deveria sair imediatamente.

Sua entrada somente uma vez ao ano, e por poucos minutos, servia principalmente, como vemos em Hebreus 9:7 e 8, para ensinar ao povo que o caminho até o Santo dos Santos não estava aberto ainda e que, para obter acesso ao Santuário, eles deveriam esperar até que viesse outra dispensação. Não havia ainda o conceito a respeito de uma vida dentro do Santo dos Santos, de habitar na presença de Deus e ter comunhão com ele lá dentro, de transmitir para o povo o poder de uma vida além do véu. A glória do sacerdócio de Cristo consiste no fato de ele ter rasgado o véu e ter entrado além do véu por nós; de seu assentar-se à direita de Deus para receber e transmitir o Espírito de Deus e os poderes da vida celestial; de ser capaz de levar-nos para dentro do Santo dos Santos de forma que nós também podemos nos achegar a Deus; de manter em nós a vida do céu por meio de sua incessante intercessão e ministério no poder de uma vida sem fim. O ministério de Arão era incapaz de conceder qualquer promessa a esse respeito.

Foi com respeito a tudo isso que Melquisedeque foi feito semelhante ao Filho de Deus. 

Como sacerdote do Deus Altíssimo, ele era também rei, revestido de honra e poder.

Como tal, sua bênção foi concedida em poder. A Escritura nada menciona a respeito da morte de Melquisedeque e do fim de seu sacerdócio, mas o apresenta como aquele que permanece perpetuamente; desse modo, Melquisedeque é a imagem do sacerdócio eterno, ministrado no céu, na eternidade, no poder de uma vida eterna.

A revelação do mistério da glória do sacerdócio de nosso Senhor Jesus segundo a ordem de Melquisedeque é o grande tema da Epístola aos Hebreus. Recomendo fortemente ao

leitor que procure entender a diferença entre as duas ordens, ou ministérios, de Arão e de Melquisedeque. A pergunta aparentemente simples: "que necessidade haveria ainda de que se levantasse outro sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque, e que não fosse contado segundo a ordem de Arão?" está mais intimamente relacionada com nossa vida espiritual do que imaginamos.

Nos versículos iniciais da Epístola aos Hebreus, encontramos a obra de Cristo apresentada em duas partes. "depois de ter feito a purificação dos pecados" (segundo a ordem de Arão),

"assentou-se à direita da Majestade, nas alturas" (segundo a ordem de Melquisedeque). Há muitos cristãos que vêem em Cristo somente o cumprimento daquilo que Arão tipificava.

A morte e o sangue de Cristo são muito preciosos para eles; eles procuram descansar sua fé sobre isso. Contudo, eles se admiram que tenham tão pouco da paz e alegria, da pureza e do poder que o Salvador concede e que a fé nele deveria trazer. A razão é simples: Cristo é somente seu Arão, não seu Melquisedeque. Eles, de fato, creem que Jesus ascendeu ao céu e está assentado à direita de Deus, contudo não enxergaram a conexão direta disso com sua vida espiritual diária. Eles não contam com Jesus operando neles no poder da vida celestial e concedendo-lhes essa vida. Eles desconhecem que seu chamamento celestial tem toda a provisão suficiente para ser cumprimento neles e que isso foi assegurado na vida celestial de seu Rei-Sacerdote. Consequentemente, eles são incapazes de ver a necessidade de abandonar o mundo para ter sua vida e andar no céu.

A obra de redenção foi realizada na terra em fraqueza (2 Co 13:4), mas é transmitida desde o céu no poder da ressurreição e da ascensão. A cruz proclama o perdão de pecados; o trono concede o poder sobre o pecado. A cruz com o aspergir do sangue é a libertação do Egito; o trono com o seu Rei-Sacerdote vivente leva-nos para o descanso de Deus e de sua vitória. Com Arão não há nada além de expiação e aceitação; nada do governo e poder real; é com Melquisedeque que vem a plenitude do poder e a bênção que permanece continuamente.

A alma será liberta de sua fraqueza e conhecerá o poder da vida celestial quando nunca mais procurar pelo fundamento, mas descansar somente nele e construir sobre esse fundamento para Cristo Jesus, que foi aperfeiçoado e exaltado. Quanto mais consideramos e adoramos nosso Sacerdote-Rei, nosso Melquisedeque, mais forte será nossa confiança de que a partir de seu trono no céu, ele, em seu divino poder, concederá a nós todos os benditos frutos de sua expiação e tornará nossa experiência diária uma vida na presença e proximidade de Deus.

1. "depois de ter feito a purificação dos pecados"- louvado seja Deus por nosso Arão! Glória ao Cordeiro que foi imolado! - "assentou-se à direita da Majestade, nas alturas" - louvado seja Deus por nosso Melquisedeque! Glória ao Cordeiro que se encontra em meio ao trono! O Santo dos Santos está agora aberto, e nosso Sumo Sacerdote encontra-se lá para levar-nos até lá e manter-nos lá dentro. 

2. A purificação dos pecados realizada por Jesus precedeu o assentar-se no trono. Mas a aplicação disso em nós foi realizada após ele ter-se assentado no trono. Essa é a razão por que nesta epístola somos primeiramente ensinados a respeito do Sumo Sacerdote no céu e depois, no capítulo 8, sobre o santuário celestial e, logo após, no capítulo 9, sobre o poder do sangue no céu e desde o céu em nós. Somente conhecendo Jesus no céu poderemos conhecer o poder pleno do sangue purificador.

3. Portanto, santos irmãos, que participais da vocação celestial, considerem Jesus no trono do céu! A adoração e a comunhão com o Cristo celestial produzem cristãos celestiais. 



(Por Andrew Murray - fragmento de "The Holiest of All: An Exposition of the Epistle to the Hebrews": em domínio público - tradução livre)  


FONTE: https://library.mibckerala.org/lms_frame/eBook/The%20Holiest%20of%20All%20-%20Andrew%20Murray.pdf

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