Porém, em que situação estamos agora, como Cristãos?
Escutemos a resposta. "Porque eu, pela lei, estou morto para a lei, para viver para Deus. Já estou crucificado com Cristo; e vivo não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne — aqui quer dizer no corpo —, "vivo-a" — como? Pela lei, como regra de vida? Não há nem uma alusão a tal coisa, mas — "na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim."
Isto, e nada mais, é Cristianismo. Compreendemo-lo? Compenetramo-nos disso? Estamos de posse do seu poder?
Existem dois males dos quais somos libertados completamente pela preciosa morte de Cristo, a saber: legalidade, por um lado, e, por outro lado, devassidão. Em vez desses terríveis males, ela introduz-nos na santa liberdade da graça — liberdade para servir a Deus, liberdade para "mortificar os nossos membros que estão sobre a terra", liberdade para renunciar à "impiedade e às concupiscências mundanas", liberdade para "viver sóbria, e justa, e piamente" (Tito 2:12), liberdade para subjugar o corpo e o reduzir à servidão (I Cor. 9:27).
Sim, prezado leitor crente, lembremos isto. Consideremos profundamente as palavras. "Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim." O velho "eu" está morto, crucificado, sepultado. O novo "eu" está vivo em Cristo. Não confundamos isto.
Não conhecemos nada mais terrível, nada mais perigoso do que o velho "eu" pretender ocupar o novo terreno; ou, por outras palavras, as gloriosas doutrinas do Cristianismo serem adotadas na carne por pessoas inconvertidas que falam de ser libertados da lei e convertem em dissolução a graça de Deus.
Confessamos que preferiríamos milhentas vezes mais a legalidade do que a dissolução. É contra esta que nós temos de estar em guarda com toda a sinceridade possível. Está aumentando em redor de nós com aterradora rapidez e calcetando o caminho para a onda tenebrosa e desoladora da infidelidade que, em breve, se estenderá sobre toda a extensão de Cristandade.
Falar de se estar libertado da lei de qualquer outro modo que não seja por se estar morto para ela e vivo para Deus, não é Cristianismo, mas dissolução, da qual a alma piedosa deve afastar-se com santo horror. Se estamos mortos para a lei, estamos também mortos para o pecado; e por isso não devemos fazer a nossa vontade, que não é mais que outro nome para designar o pecado, mas a vontade de Deus, que é verdadeira santidade prática.
Demais, recordemos que se estamos mortos para a lei, estamos mortos também para este presente século mau, e relacionados com um Cristo ressuscitado, que subiu ao céu e foi glorificado.
Por isso, não somos do mundo, assim como Cristo não é do mundo. Procurar uma posição no mundo é negar que estamos mortos para a lei; porque não podemos estar vivos para um e mortos para outra.
A morte de Cristo libertou-nos da lei, do poder do pecado, deste presente século mau, e do temor da morte. Mas todas estas coisas estão juntas, e nós não podemos ser libertados de uma sem sermos libertados de todas. Afirmar a nossa libertação da lei, e seguir uma vida carnal, de condescendência com o mundo e de mundanismo, é um dos mais sombrios e mortais males dos últimos dias.
O Cristão é chamado para demonstrar e provar na sua vida diária que a graça pode produzir resultados que a lei nunca poderia alcançar. É uma das glórias morais do Cristianismo habilitar um homem a abandonar o ego e a viver para os outros. A lei nunca poderia fazer isto. Ocupava o homem consigo mesmo. Se procurava amar o próximo, era apenas para operar justiça para si.
Sob a graça tudo está invertido de um modo bendito e glorioso. O ego é posto de lado como crucificado, morto e sepultado. O velho "eu" desaparece, e o novo "eu" está perante Deus em toda a aceitação e valor de Cristo. Ele é a nossa vida, a nossa justiça, a nossa santidade, o nosso objetivo, o nosso modelo, tudo. Está em nós e nós estamos n'Ele; e a nossa vida diária, prática, tem de ser simplesmente Cristo reproduzido em nós, pelo poder do Espírito Santo.
Por isso, nós somos chamados não apenas para amar o nosso semelhante, mas o nosso inimigo; e isto, não para operar a justiça porque temos sido feitos justiça de Deus em Cristo; é simplesmente o fluxo da vida que possuímos, que está em nós; e esta vida é Cristo.
O viver do cristão deve ser Cristo. Não é nem judeu, "debaixo da lei", nem "gentio sem lei"; mas "um homem em Cristo", permanecendo na graça, chamado ao mesmo caráter de obediência que foi manifestado pelo Senhor Jesus mesmo.
- Charles H. Mackintosh
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