O Filho - a Glória de Sua Pessoa

 


"Nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo. Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder." (Hebreus 1:2-3)


“Sabemos que aquilo em que o homem coloca seu coração exerce poderosa influência sobre sua vida e deixa uma marca sobre seu caráter. Aquele que corre atrás da vaidade torna-se vão. Aquele que confia em um deus criado por sua própria imaginação descobrirá que sua religião é uma ilusão. Aquele que coloca seu coração no Deus vivo descobrirá que o Deus vivo tomará posse de seu coração e o encherá. As consequências de tal fato vão muito além do que podemos mensurar. Por essa razão, não devemos ter apenas uma ideia geral acerca do Cristo por meio de quem Deus fala conosco, mas deveríamos encher nosso coração com tudo o que Deus nos revelou acerca de seu Filho. O conhecimento de sua pessoa será o alimento de nossa fé e, tal qual a nossa fé, será também nossa experiência de seu poder salvador e da comunhão com Deus para a qual o Filho conduz. Ouçamos o que nos é ensinado a respeito do Filho em quem Deus nos fala.

"A quem designou herdeiro de todas as coisas".¹ 

“A breve recomendação do Filho feita nos vv. 2-3 desvenda-nos tanto a pessoa como a obra do Filho. Na Sua pessoa, Ele é o resplendor da glória de Deus e a expressão exata da substância de Deus. Na Sua obra, Ele criou o universo e sustenta todas as coisas e fez a purificação dos nossos pecados.

Ele foi constituído o Herdeiro de todas as coisas, isto é, o Herdeiro legal, que herda tudo na economia de Deus. Visto que Ele não é apenas o Filho de Deus,mas também o Herdeiro de Deus, tudo o que Deus Pai é e possui é Dele (Jo 16:15). No passado, o Filho era o Criador (vv. 2, 10; Jo 1:3; Cl 1:16; 1 Co 8:6); no presente, Ele é Aquele que sustenta e carrega todas as coisas (v. 3); no futuro, será o Herdeiro, que herdará todas as coisas (cf. Rm 11:36).

“Pelo qual também fez o universo”, ou, as eras. As eras é uma expressão judaica que quer dizer o universo. As eras não se referem à questão do tempo, mas à criação (do universo) desvendada no tempo por eras sucessivas.”²

“O grande propósito de Deus com a criação era ter uma herança para seu Filho, na qual pudesse demonstrar sua glória e depositar sua bênção. O Filho é a Causa Final, o fim de todas as coisas.

Ele é também o início. "Por meio de quem ele também fez os mundos". Ele é a origem e a Causa Eficiente de tudo o que existe. "Sem Ele nada do que foi feito se fez". O lugar que o Filho possuía no Ser divino era tal que a relação de Deus com tudo o que era exterior a si mesmo foi realizado somente por meio do Filho. O início e o fim de tudo o que existe encontram-se no Filho.

Ele é também o meio. "Sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder". Ele sustenta todas as coisas, "todas as coisas nele subsistem". Uma vez que essas coisas não foram criadas sem ele, poderiam, porventura, existir sem ele? Ele as sustenta cada momento pela palavra do seu poder, da mesma forma como foram criadas por sua palavra. Esse é o Filho por meio de quem Deus nos fala.

O que torna o Filho digno de ocupar essa posição tão elevada entre o Criador e a criatura? Porque, como Filho, é somente nele que se manifesta a glória de Deus inacessível e totalmente incompreensível; por meio dele como mediador, o Deus não-criado e as obras de suas mãos podem entrar em contato e ter comunhão. A relação do Filho com a criação tem como base Sua relação com o Pai. "Ele é o resplendor da glória de Deus e a expressão exata do seu ser". Assim como somente podemos conhecer o sol por meio da luz que dele emana, assim é também Cristo o resplendor, a revelação da glória de Deus. Assim como a luz que emana do sol tem a mesma natureza do sol, assim também o Filho e o Pai têm a mesma natureza - Deus oriundo de Deus. Assim como um filho tem semelhança com seu pai, porque sua vida e natureza procedem do pai, assim também

o Filho de Deus é a "expressão exata do seu ser". Ele tem o mesmo ser de seu Pai "a expressão exata" -, por isso tem vida em si mesmo assim como o Pai tem vida em si mesmo.

Alguns podem ser tentados a pensar que esses são mistérios teológicos muito profundos para o cristão comum e desnecessários para nossa fé e vida cristã. E podem ser inclinados a perguntar que importância tem para um cristão simples saber tudo isso? Irmão, não pense assim. É de extrema importância que conheçamos a glória de Jesus. Quanto mais a alma estiver cheia dessa glória e adorar a Deus nessa glória, mais experimentará a confiança no Senhor para realizar uma obra divina e sobrenatural em nós, e conduzir-nos a uma comunhão viva e real com Deus como nosso Pai. Não sejamos egoístas e mesquinhos a ponto de contentar-nos com a esperança de salvação que temos em Jesus

e negligenciarmos o conhecimento pessoal e íntimo dele. Senão para o nosso benefício, então por causa de Deus, por causa de seu infinito amor e graça, busquemos conhecer corretamente o Filho abençoado que o Pai nos concedeu. Tiremos nossos olhos desta terra, meditemos, contemplemos e adoremos o Filho até que ele, que é o resplendor da glória divina, resplandeça em nosso coração, e ele, a quem o Pai concedeu tal posição como criador e sustentador e herdeiro de todas as coisas, tome esse lugar em nós também e seja o início, o meio e o fim de todas as coisas para nós.

É nesse Filho que Deus fala conosco. Não por meio das palavras do Filho somente, pois essas palavras são também humanas e podem, assim como as palavras inspiradas dos profetas, ser de pouco proveito. É diretamente pelo Filho - o Filho vivo, poderoso, divino - que Deus fala, é unicamente por meio do contato vivo e direto com o Filho que essas palavras serão proveitosas. E o Filho, não como pensamos dele superficialmente, mas verdadeiro e real Filho divino como Deus o revelou, conhecido e adorado e aguardado como o resplendor da glória divina - é esse Filho de Deus, que entra em nosso coração e ali habita, em quem Deus falará conosco e em quem seremos levados para perto de Deus.

Quando Cristo revela o Pai, ele não o revela para nossa mente para que tenhamos mais pensamentos a respeito dele. Cristo revela-nos o Pai em nosso coração e vida para que conheçamos e experimentemos o poder no qual Deus pode habitar e operar no homem, restaurando-o para que goze daquela comunhão abençoada para que foi criado mas perdeu por causa da queda. A grande obra de Deus no céu, o principal pensamento e desejo de seu coração é alcançar nosso coração e falar-nos em seu Filho. Ó, permita que a grande obra de sua vida e o grande desejo de seu coração sejam conhecer esse Jesus; e, como um discípulo humilde e manso, prostrar-se aos seus pés e permitir que ele lhe ensine sobre Deus e a vida eterna. Sim, prostremo-nos agora mesmo diante dele, Aquele que tem uma

glória composta de quatro aspectos, como a Palavra descortina diante de nós. Ele é o herdeiro de tudo o que Deus possui. Ele é o criador. Ele é também o sustentador de todas as coisas. Ele é o resplendor da glória de Deus e a imagem perfeita de seu Ser.

Ó, meu Salvador, abandono tudo para conhecer-te melhor e permitir que Deus me fale em tua pessoa. 

"Ninguém conhece o Filho, senão o Pai. Ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar".

Como dependemos do Pai para conhecer o Filho; e do Filho para

conhecer o Pai! Possamos em profunda humildade reconhecer essa dependência, crer e aguardar em mansidão pela revelação divina.

Há momentos em que desperta na alma um profundo desejo de conhecer Deus. Ensino não satisfaz. Entesoure esses momentos como algo que Deus amorosamente desperta em você. Exercite, em

quietude, fé no poder que Jesus pode manifestar em seu coração.

Torne-se um discípulo de Jesus, um seguidor que dele aprende.

Ó, Herdeiro, Criador, Sustentador de todas as coisas, Resplendor da glória de Deus, imagem manifesta do seu ser! Meu Senhor, revela-me o Pai para eu entender que Deus fala comigo.”¹

(...)


(¹A. Murray; ²W. Lee)


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