Richard Holden

 


Este ano cumpriram-se 180 anos do nascimento do extraordinário homem de Deus que foi Richard Holden. Ninguém fica surpreso ao ouvir este nome pois ele é sobejamente conhecido pelos crentes de Portugal e Brasil, e de todos os países onde se fala o idioma português, graças aos hinos e cânticos espirituais que escreveu. O que, porém, pode constituir-se grande surpresa para a maioria dos nossos leitores, é que devemos a Holden a existência do nosso tão apreciado cancioneiro cristão HINOS E CÂNTICOS, cujo nome, até a sétima edição, era “Hinos e Cânticos Espirituais”.


     Richard Holden nasceu na Escócia, em Agosto de 1828. Embora recebendo o ensino do Evangelho desde a sua mais tenra idade, pois os seus pais eram crentes, nenhum interesse tinha em Deus e na Sua Palavra. Vivia indiferente e egoisticamente para si mesmo. Aos vinte e um anos ficou gravemente enfermo e pela primeira vez pensou na morte. Como não estava preparado, passou por grande aflição. Quando, à noite, meditava na aproximação do fim dos seus dias, ficava imensamente perturbado. Porém, mal passava o perigo, voltava à mesma situação anterior de indiferença para com Deus.Durante o Inverno, aos domingos à tarde, após o jantar, Holden costumava abrigar-se num pequeno compartimento ao lado da sua casa, onde, sentado, aquecendo-se junto ao fogo, lia um livro qualquer. Numa daquelas tardes, entre uma obra do famoso Shakespeare e um livro teológico, escolheu o último, cuja leitura levou-o à conversão.Lendo sobre a realidade da existência deste Ser Soberano e Omnipotente, o Deus vivo e verdadeiro, o Supremo Criador e Juiz, Holden sentiu profundo desejo de ser salvo. Depois descobriu como esse Deus se revelou pelo Filho, o Qual veio ao mundo para salvar os pecadores. Confiado n’Ele, nasceu de novo e passou a regozijar-se no Senhor e na Sua salvação.Ele esteve por algum tempo no Brasil em actividades comerciais e depois foi para os Estados Unidos, onde cursou Teologia na Universidade de Harvard. Em 1851 foi ordenado ministro da Igreja Episcopal da Escócia, passando a trabalhar em várias cidades da Grã Bretanha. Em 1861 voltou ao Brasil, agora como missionário episcopal, com o objectivo de evangelizar e estabelecer igrejas daquela denominação. Fez várias tentativas em Belém-PA e Salvador-BA, mas os seus esforços foram frustrados devido à grande perseguição religiosa que enfrentou.


Em 1864 desligou-se da Missão que o enviara ao Brasil e regressou à Grã-Bretanha onde passou alguns meses, no fim dos quais, em Fevereiro de 1865, chegou ao Rio de Janeiro. Em Março daquele mesmo passou a cooperar com o Dr. Robert Reid Kalley (1809-1888), o primeiro missionário evangélico a trabalhar no Brasil. Kalley iniciara o seu trabalho pioneiro em Petrópolis, em 1855, e, em 1858, organizou no Rio de Janeiro a primeira Igreja evangélica.


Além das suas actividades na referida Igreja, Holden serviu também como agente da Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira, que iniciara as suas actividades neste país em 1856.


Em Dezembro de 1868, Dr. Kalley foi à Escócia, onde permaneceu dois anos e meio e Holden continuou a exercer o seu piedoso e dedicado ministério na Igreja. O Dr. Kalley voltou em Junho de 1871 e Holden partiu no mês seguinte para Inglaterra.


Uma vez lá, entrou em contacto com o chamado “Movimento dos Irmãos”. Este movimento começara principalmente na Inglaterra e Irlanda, na década de 1820, e era formado por irmãos fiéis , os quais entristecidos e inconformados com o eclesiasticismo predominante nas suas denominações, começaram a se reunir em simplicidade, conforme o ensino bíblico, sem qualquer vinculação sectária e alheios à cúpula clerical que limitava o ministério a homens ordenados. Este movimento reunia homens de profunda piedade e extraordinária erudição como John Nelson Darby, William Kelly, Anthony Norris Groves, C. H. Mackintosh, George Muller e muitos outros servos de Deus. Darby era, provavelmente, o mais famoso entre eles, por isso o referido movimento tem sido aqui e acolá alcunhado de “Darbista”, sendo alcunhado também de “Irmãos de Plymouth”, por ter sido aquele cidade o local onde se reunia o maior grupo de “Irmãos”.


Estudando criteriosamente as doutrinas bíblicas ensinadas por Darby e os seus companheiros e praticadas nas igrejas locais autónomas e independentes que iam sendo formadas como resultado daquele ensino, Holden convenceu-se da legitimidade do movimento e aderiu ao mesmo. Em carta de 2 de Janeiro de 1872, escreveu à Igreja Evangélica Fluminense renunciando ao seu cargo de co-pastor. Isto trouxe tristeza ao Dr. Kalley e à Igreja, pois Holden era muito amado pela sua dedicação e zelo incansáveis, pela afabilidade e amor para com todos os crentes e pela sua notável cortesia para com todos.


Em 1874 casou-se, na Inglaterra, encontrando em D. Catarina uma companheira dedicada, espiritual e piedosa, cuja vida foi uma bênção para o povo de Deus . O casal teve apenas um filho, que recebeu o nome de Ernest.


Em 1877, Holden foi trabalhar para Portugal, onde pouco tempo antes havia sido iniciado o trabalho de evangelização ligado ao “movimento dos Irmãos”. Ali contribuiu com o seu notável talento para a instrução dos crentes e para a disseminação do Evangelho tendo começado a Igreja Evangélica de Almada, a Sul de Lisboa, na margem Sul do Rio Tejo. Desde a sua partida do Brasil, manteve correspondência com alguns irmãos deste país, os quais, por sua influência, cremos, passaram a reunir-se sem vínculo na casa de um irmão chamado João Menesas, na rua da América, no Rio de Janeiro. E assim, em 1879, ele voltou ao Brasil e passou uma temporada cooperando com aqueles irmãos no ensino da Palavra e na pregação do Evangelho, após o que, voltou a Portugal.


Foi enquanto estava na Inglaterra, antes de ir para Portugal, que Richard Holden, em 1876 compilou e lançou a primeira edição do nosso HINOS E CÂNTICOS. Era um começo bem humilde, um livreto de 48 páginas, contendo duas secções, a primeira de Hinos, de 1 a 38, e a segunda de Cânticos Espirituais, de 1 a 8. Portanto, um total de 46 cânticos. Mas um humilde começo não é necessariamente o prenúncio de um fracasso, especialmente quando a iniciativa é tomada no temor do Senhor (Zacarias 4:10). Uma segunda edição veio a lume em 1879, já com 73 hinos e 14 cânticos, quase o dobro portanto, da primeira edição. Doze anos após a morte de Holden, saiu em 1898, a terceira edição, consideravelmente aumentada, contendo três seções com 85, 36 e 84 hinos respectivamente, totalizando 205 cânticos. Assim foram se sucedendo as edições, sempre cuidadosamente revistas e corrigidas pelos sucessores de Holden.1 A semente por ele plantada frutificou grandemente. 82 hinos são escritos por Richard Holden. Os seus hinos são notáveis pela profundidade espiritual e beleza poética. Um deles, o nº 453, segundo o seu próprio testemunho, expressa a alegria da sua alma quando, após longo luto, aprendeu que na sua contínua e total dependência estava o segredo da vitória. Eis a primeira e última estrofes do referido hino:


Tu és minha esperança;

Achou minha alma em ti

A paz e segurança

Que carecia aqui.


Tu és o meu descanso,

Pois pela fé, já vi

Que estou p’ra sempre aceito

Perante Deus em Ti.


Além de muitos hinos, Richard Holden escreveu também várias opúsculos expondo a sã doutrina, nos quais revela a sua elevada capacidade como mestre da Palavra. Os seus contemporâneos testificaram da sua profunda piedade, bem como da sua simpatia, simplicidade e humildade.


Este foi o “pai” do nosso tão apreciado livro de cânticos.


Em 18 de Julho de 1886, aos 58 anos de idade, em Lisboa, partiu para o Senhor, a Quem amou e serviu por mais de trinta anos. Somos gratos ao Senhor por aquela vida tão preciosa, embora curta, e também pelo precioso legado que nos deixou.


1 As edições foram-se sucedendo, em cada uma das quais os talentosos compiladores incluíam novos cânticos e multiplicavam correcções visando o aperfeiçoamento do texto.


Já na sétima edição, publicada em 1931, além de belíssimos hinos de Holden, Mc Nair e Wright, entre outros, também os excelentes hinos de William Anglin (1882-1965) vieram enriquecer a colecção. Ele deu a sua valiosa cooperação, em 1939, a qual coincidiu com a nona edição de palavras. Dali em diante ele teve uma participação cada vez mais activa na vida do hinário até à sua partida para a presença de Deus.


Outros servos de Deus têm cooperado cordialmente com Hinos e Cânticos no decorrer dos anos. José Ilídio Freire deu boa assistência a Mc Nair e George Howes em revisões anteriores, e desde a 6ª edição contribuiu para a colecção com vários hinos e coros da sua lavra.


Assumiram também responsabilidade por esta obra, Albert Clayton e Albert Henry Storrie, sendo este último também autor de vários hinos que constam desta colectânea de canções cristãs. Ambos já estão com o Senhor. Posteriormente, Kenneth Jones foi também escolhido para participar deste trabalho. A comissão proprietária e redactora, a partir de 1970, passou a contar também com a participação de Ricardo David Jones, James Dickie Crawford e Luiz Soares. Em 1976, a referida Comissão fundou a Associação Cristã Editora (no Brasil), que assumiu os direitos de Hinos e Cânticos, tendo em vista um melhor amparo legal.


Fonte:  http://www.iqc.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=2103:o-qpaiq-de-hinos-e-canticos&catid=92&Itemid=68

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