Revista-se de Jesus Cristo

 Madame Guyon (1648-1717)


“Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós… Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte” (2 Coríntios 4:7; 12:9,10).


O que você deve fazer para ser fiel a Deus? Menos que nada: deixe apenas que Ele seja a sua vida! Permita tão somente que Deus o mova, sem Lhe oferecer nenhuma resistência. Continue a viver segundo o fluir natural de Sua vida dentro de você. Viva o presente momento, deixando que cada acontecimento se desenrole, sem lhe acrescentar ou subtrair nada. Aprenda a ser guiado pelas instintivas impressões da vida de Deus dentro de você, deixando que Ele dirija Seu caminho para você. Deixe também que Ele decida o que requer de você. Essa é sua tarefa, viver nesse estado.


Quando começar a agir pelas suas forças, será infiel à vida Divina dentro de você. Não deixe que a auto-suficiência se transforme num hábito. Permita-se morrer, sem buscar salvamento.


Uma pessoa que está morrendo, desiste de tudo que pode prolongar sua agonia, e nada usa como socorro, pois está resignado à sua sorte. Depois de morrer, nada mais exerce efeito sobre ele.


Quando o tempo oportuno chegar e você for privado de sua vida, submeta-se.


A partir daí tudo que lhe for deixado será fácil. Faça a vontade de Deus, do modo de Deus, por intermédio da Sua força.


Fidelidade nesse sentido não se resume a  “não fazer nada”. Fidelidade é agir mediante a inclinação da vida interior. Nesse estado a pessoa não tem nenhum ensejo para fazer com que as coisas tomem seu próprio caminho, mas anseia somente pela maneira de Deus. As suas ações emanarão de uma fonte diferente.


Não pense que a esta altura de sua caminhada você não mais cometerá faltas. Sim, as cometerá. E como nunca, as verá nitidamente. As faltas que comete provavelmente não serão pecados grosseiros, mas impulsos sutis. Você poderá ver claramente, no entanto, as suas mais insignificantes falhas. Não permita que essas imperfeições façam com que você se aprisione em um sentimento de culpa, nem faça algo para se desvencilhar delas.


Você sentirá como uma nuvem de poeira, um filme assentado sobre você, quando cometer uma falta. Nada faça para remover essa nuvem incomum. Será uma tentativa inútil, tornando mais longo o tempo da restauração. Estar extremamente preocupado com suas faltas é pior para sua condição espiritual do que a falta propriamente dita. 


Nesses momentos você não deveria sentir que deve “voltar para Deus”. Ao dizer isso, sugere que se desviou dEle. Nem tanto. Você habita nEle, permaneça ali. Algumas vezes haverá escuridão em sua experiência, contudo não devemos tentar remover essas nuvens por nós mesmos. Deixe que o sol se encarregue disso. 


Olhar em demasiado para si mesmo retarda a jornada. Quando mais você permanecer nessa contemplação, mais se perderá. Você não pode se ver como Deus o vê. Quando pensamentos egocêntricos surgem, deixe-os passar, sem tentar detê-los. Pouco a pouco eles se afastarão.


Quando o cristão deixar o túmulo da morte, então perceberá que os desejos passarão a proceder mais de Jesus Cristo do que dele mesmo. Ele não mais viverá por regras, caminhos estabelecidos por onde seguir.


Deixe que o Senhor seja a regra pela qual você vive! Você descobrirá que a natureza de Cristo provém do profundo de seu interior, sem esforço de sua parte. A natureza do cristão se desenvolve naturalmente, a partir do Espírito do Senhor dentro de seu espírito. 


Seu tesouro é SOMENTE DEUS. Aproxime sua vida da VIDA DELE, pois Ele é eterno. Revista-se de Jesus Cristo,


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