Por Causa de Cristo
"Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo. Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo." (Filipenses 3:7-8)
O apóstolo Paulo é o responsável por esta tão surpreendente afirmação. Antes de sua experiência em Cristo Jesus, este homem era um implacável perseguidor da Igreja do Senhor. Com os seus próprios lábios, Paulo confessou este fato: “Persegui este Caminho até à morte, prendendo e metendo em cárceres homens e mulheres. Havendo eu recebido autorização dos principais sacerdotes, encerrei muitos dos santos nas prisões; e contra eles dava o meu voto, quando os matavam. Muitas vezes, os castiguei por todas as sinagogas, obrigando-os até a blasfemar. E, demasiadamente enfurecido contra eles, mesmo por cidades estranhas os perseguia.” Atos 22:4; 26:10-11. O que nos impressiona é o quanto um fanatismo religioso pode cegar e escravizar um homem!
Paulo, escrevendo aos irmãos em Filipos, descreve um pouco daquilo que ele conseguiu ao longo de sua vida enquanto esteve envolvido como sistema religioso chamado judaísmo. No livro de Filipenses 3:4-6 está escrito: “Bem que eu poderia confiar também na carne. Se qualquer outro pensa que pode confiar na carne, eu ainda mais: circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; quanto à lei, fariseu, quanto ao zelo, perseguidor da Igreja; quanto à justiça que há na lei, irrepreensível.”
O que aconteceu a este homem, portador de tão distinto currículo? O que fez com que ele considerasse esterco tudo aquilo que alcançou através de sua religião?
Por outro lado, como explicar a sua afirmação categórica?
“Porquanto, para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro.” Filipenses 1:21. O que motivou Paulo a registrar tão profundas palavras? “Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor para glória de Deus Pai.” Filipenses 2:9-11.
Para responder estas e outras questões, precisamos voltar para a estrada de Damasco, pois ali aconteceu um encontro já agendado pelo Senhor antes da fundação do mundo. Isto está registrado no livro de Atos 9:1-5: “Saulo, respirando ainda ameaças e morte contra os discípulos do Senhor, dirigiu-se ao sumo sacerdote e lhe pediu cartas para as sinagogas de Damasco, a fim de que, caso achasse alguns que eram do Caminho, assim homens como mulheres, os levasse presos para Jerusalém. Seguindo ele estrada fora, ao aproximar-se de Damasco, subitamente uma luz do céu brilhou ao seu redor, e, caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? Ele perguntou: Quem és tu, Senhor? E a resposta foi: Eu sou Jesus, a quem tu persegues.”
Observemos inicialmente que o ódio de Saulo era contra os discípulos do Senhor, e não propriamente contra Jesus. Para este homem furioso, Jesus era apenas um defunto. Saulo pensava que estava perseguindo apenas um grupo de fanáticos. Ele também não sabia que perseguir a Igreja é perseguir o próprio Cristo. No entanto, já bem próximo de Damasco, de maneira inesperada, uma luz vinda do céu brilhou fortemente ao seu redor, e em conseqüência disto, Saulo caiu por terra.
Segundo os estudiosos, o verbo cair, utilizado por Lucas nesta passagem, tem um significado extremamente importante, pois equivale a: cair como morto, cair em pedaços ou ter um colapso.
O quadro prossegue, e nos mostra que durante a queda uma voz ecoou dizendo: Saulo, Saulo, por que me persegues? Saulo, então, perguntou: Quem és tu, Senhor? É possível que a resposta dada pelo Senhor tenha trazido um profundo espanto no coração de Saulo: “Eu sou Jesus, a quem tu persegues.”
Devemos saber que Saulo de Tarso era um homem extremamente preparado e conhecia muito bem os Escritos da velha dispensação. O livro de Atos 22:3 confirma isto: “Eu sou
judeu, nasci em Tarso da Cicília, mas criei-me nesta cidade e aqui fui instruído aos pés de Gamaliel, segundo a exatidão da lei de nossos antepassados, sendo zeloso para com Deus.”
A expressão ‘Eu sou’ penetrou profundamente em seu ser. Saulo reconheceu perfeitamente aquela fala. Sabedor como era de toda lei, conhecia muito bem aquelas palavras. No livro de Êxodo 22:3 a está registrado: Eu sou o Senhor, teu Deus....
Como deve ter ficado o coração de Saulo diante de tão grande revelação? Saulo, completamente despedaçado, percebeu que estava frente a frente com o Deus da Aliança, o Criador do universo. Certa ocasião, Jesus falou a um grupo de judeus religiosos: “Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade eu vos digo: antes que Abraão existisse, Eu Sou.” João 8:58.
Verdadeiramente, Saulo percebeu que não estava diante de um simples homem, ele estava diante do Deus Santo e Eterno.
Neste encontro verificamos o fim de Saulo de Tarso.
Este homem tremendamente religioso, mas possuidor de uma natureza caída, chegou ao fim de si mesmo, pois ninguém que tenha um encontro com o Senhor consegue permanecer o mesmo. O princípio da cruz penetrou no íntimo de Saulo. A cena seguinte envolve um homem cego sendo levado para a cidade de Damasco onde permaneceu três dias sem ver, durante os quais nada comeu, nem bebeu (Atos 9:9).
Depois disto, Ananias vai ao encontro de Saulo e intercede por ele: “Então, Ananias foi e, entrando na casa, impôs sobre ele as mãos, dizendo: Saulo, irmão, o Senhor me enviou, a saber, o próprio Jesus que te apareceu no caminho por onde vinhas, para que recuperes a vista e fiques cheio do Espírito Santo. Imediatamente, lhe caíram dos olhos como que umas escamas, e tornou a ver.” Atos 9:17-18.
O grande e cruel perseguidor da Igreja, daquele momento em diante, seria um vaso escolhido por Deus para que anunciasse o seu Filho bendito por toda a parte: “E logo pregava, nas sinagogas, a Jesus, afirmando que este é o filho de Deus.” Atos 9:20.
O que vemos em seguida é a história de um homem transformado, cujo ministério foi totalmente desenvolvido à luz da visão obtida na estrada de Damasco.
Mais tarde, preso em Cesaréia, pôde testemunhar diante de um rei: “Pelo que, ó rei Agripa, não fui desobediente à visão celestial.” Atos 26:19. Foi por causa de Cristo que Paulo considerou tudo o que obteve no judaísmo como refugo. Cristo se tornou o seu tudo.
Voltemos a nossa atenção ao texto chave onde Paulo afirmou: “Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo. Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo.” Filipenses 3:7-8. Aqui não está escrito que Paulo estava considerando tudo como perda pela causa de Cristo, mas sim por Cristo mesmo. O apóstolo não estava abrindo mão de um velho sistema religioso chamado judaísmo para adotar um novo sistema religioso chamado cristianismo.
O que é o cristianismo? Será um sistema religioso fundado por Jesus para contrapor o judaísmo? Não. Cristianismo não pode ser encarado como um sistema religioso. Cristianismo é um relacionamento com uma Pessoa. É ter a Cristo como a sua vida. É dar a Cristo Jesus toda a preeminência.
O Senhor Jesus Cristo veio a este mundo para libertar o homem de todo o jugo de escravidão. Destacamos o fato de que as maiores e mais danosas algemas encontram-se nos sistemas religiosos. O compromisso do Senhor Jesus Cristo é nos dar vida, e não nos dar um sistema para seguirmos. Está registrado em João 8:32 e 36: “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.”
A Igreja de Cristo não é um sistema de religião, mas uma reunião de santos. Pessoas que foram regeneradas pela graça de Deus, e que se reúnem por causa de Cristo, por meio de Cristo e para Cristo. A Igreja de Cristo é composta de pessoas que foram sacadas do mundo pela obra do Senhor no Calvário. Todo aquele que foi salvo pela graça faz parte do Corpo de Cristo. E nós, como participantes da Igreja do Senhor temos como cabeça o próprio Cristo. Louvamos a Deus pelo seu chamado: “Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados à comunhão de seu filho Jesus Cristo, nosso Senhor.” 1 Coríntios 1:9. É Ele quem nos chama, e nos chama para um relacionamento.
Qual tem sido a busca de nossa alma? Por regras, princípios, coisas espirituais? Será que não estamos muito agarrados nas obras da religião? Será que não estamos fazendo de Cristo apenas um coadjuvante em nossas reuniões? Creio que a maior necessidade da Igreja em nossa época é ganhar a visão de Cristo e ser dirigida por ela. Pois todas as coisas são Dele, por meio Dele e para Ele. Que Deus incline o nosso coração para uma única direção, o seu Filho Jesus Cristo, amém!
Tomaz Germanovix
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