Exortação ao ministério da oração
De todas as promessas ligadas ao mandamento "permanecei em mim" (João 15.4) não existe nenhuma maior, e nenhuma que mais rapidamente nos leve a confessar: "Não que eu o tenha já recebido ou tenha já obtido a perfeição" (Filipenses 3.12), do que esta: "Se permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes, e vos será feito" (João 15.7). Poder com Deus é a mais alta realização de uma vida de plena permanência n'Ele.
E de todas as características de uma vida semelhante à de Cristo não há nada mais sublime nem mais glorioso do que se conformar a Ele na obra a qual agora, incessantemente, Se dedica na presença do Pai - Sua poderosa e eficaz intercessão. Quanto mais permanecemos n'Ele e crescemos à Sua semelhança, mais poderosamente Sua vida sacerdotal opera em nós, e nossa vida se tornará tal qual a Sua, uma vida que sempre suplica e prevalece em favor dos homens.
"Tu nos fizestes reis e sacerdotes para Deus" (Apocalipse 1.6). Poder, influência e bênção são fatores primordiais no ofício de um rei ou de um sacerdote. O rei exerce um poder que vem de cima para baixo; o sacerdote exerce um poder que vai de baixo para cima, levando-o a prevalecer com Deus. Nosso bendito Sacerdote e Rei Jesus exerce Seu poder de rei fundamentado no de sacerdote: "Ele pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles" (Hebreus 7.25). E conosco, Seus reis e sacerdotes, não pode ser diferente: é pela intercessão que a Igreja deve exercer seu mais alto poder e que cada um de seus membros deve provar sua descendência israelita, como príncipe que luta com Deus e com os homens e prevalece. Este livro foi escrito sob uma profunda convicção de que o lugar e o poder da oração na vida cristã têm sido muito pouco compreendidos. Estou bem certo de que enquanto considerarmos a oração apenas um meio de manter nossa vida cristã, nunca alcançaremos seu pleno significado. Mas se aprendermos a considerá-la como a parte mais sublime do trabalho a nós confiado, como a raiz e a força de todo o empreendimento divino, mais nos conscientizaremos de que, acima de qualquer outra coisa, precisamos estudar e praticar a arte de orar corretamente. Se, de alguma maneira, tiver conseguido salientar o ensino progressivo de nosso Senhor em relação à oração, sua nítida indicação de que as maravilhosas promessas da última noite (João 14.16) estavam intimamente ligadas com as obras que iríamos realizar em Seu nome (obras maiores até) e com a produção de muito fruto, todos nós teremos de admitir algo seriíssimo: somente quando a Igreja se dispuser para esta divina obra de intercessão é que podemos esperar que o poder de Cristo se manifeste em seu favor. Minha oração é que Deus use este livro para tornar mais claro para alguns de Seus filhos o maravilhoso lugar de poder e influência que Ele - e também o mundo cansado - espera ver ocupado por eles. Relacionado a isso, gostaria de acrescentar outra verdade que veio a mim com surpreendente clareza à medida que meditava nos ensinamentos de Jesus sobre oração: que o Pai escuta, atentamente, cada oração de fé, a fim de nos conceder seja o que for que desejamos ou pedimos em nome de Jesus. Acostumamo-nos tanto a limitar Seu maravilhoso amor e Suas grandes promessas que não conseguimos ler as mais simples e claras afirmações de nosso Senhor sem estabelecer condições e sem levantar objeções humanas. Se há algo que a Igreja precisa aprender é que Deus quer responder às nossas orações e que ainda não penetrou no coração do homem o que Deus fará ao filho que se dispõe a crer que sua oração será respondida. Deus ouve oração; essa é uma verdade admitida pela maioria dos cristãos, mas são poucos os que entendem seu significado ou experimentam seu poder. Se o que escrevi fizer com que o leitor busque as palavras do Mestre e tome posse de Suas maravilhosas promessas, simples e literalmente como são, então meu objetivo terá sido alcançado. E só mais uma coisa. Milhares têm, nos últimos anos, alcançado uma bênção indescritível ao compreender que Cristo é completamente nossa vida e como ele se encarrega de vida e como Ele se incumbe de ser e fazer em nós tudo que precisamos. Não sei se já aprendemos a aplicar essa verdade à nossa vida de oração. Muitos alegam que não têm poder para orar com fé, para fazer a oração que "muito pode por sua eficácia" (Tiago 5.16). A mensagem que de bom grado gostaria de lhes transmitir é que nosso amado e bendito Jesus está esperando, ansioso, para lhes mostrar exatamente como fazer isso. Cristo é a nossa vida (Colossenses 3.4): no céu, Ele vive sempre a orar; Sua vida em nós é uma vida de contínua oração, se tão somente confiarmos n'Ele para isso. Cristo nos ensina a orar não apenas pelo exemplo, pela instrução, pelo mandamento ou pelas promessas, mas através de revelar-nos a Si mesmo como o Intercessor eterno, como nossa Vida. Apenas quando crermos nisso, e irmos e permanecermos n'Ele também para a nossa vida de oração, é que os nossos temores de não sermos capazes de orar corretamente desvanecerão, e alegre e triunfantemente confiaremos em nosso Senhor para nos ensinar a orar, para ser Ele mesmo a vida e o poder de nossa oração. Que Deus abra nossos olhos para ver o santo ministério de intercessão para o qual nós, como Seu sacerdócio real, fomos separados. Que Deus nos dê um coração generoso e ousado para crer na poderosa influência que nossas orações podem exercer. E que todo temor quanto à nossa capacidade de cumprir nossa vocação desapareça à medida que virmos Jesus, que vive para orar, que vive em nós para orar e oferece Sua própria garantia para nossa vida de oração.
Andrew Murray Wellirigton, 28 de outubro de 1895
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