A multiforme Sabedoria

 

Aqui em Efésios 3:10, nos apresenta este mistério como a Sabedoria de Deus, a multiforme Sabedoria, que agora é dada a conhecer por meio da igreja aos principados e potestades. A Sabedoria de Deus é Cristo; portanto, o que se dá a conhecer por meio da igreja é o próprio Cristo. Cada vez que a igreja se reúne, dá testemunho e expressa o Senhor Jesus Cristo.

Aqui nos diz que a Sabedoria de Deus é multiforme. Quer dizer, Cristo tem muitas formas, e se expressa de muitas maneiras. Através da igreja, Cristo é mostrado de uma maneira preciosa. Cristo é tão grande, tão precioso, que ele não pode ser expresso só por uma ou duas pessoas. Necessita de toda a igreja para fazê-lo.

Por isso existem quatro evangelhos e não um. Porque um só evangelho não podia expressar tudo o que Cristo é. O evangelho de Mateus mostra Cristo como o rei. Marcos nos mostra ele como Servo. Lucas como o Filho do Homem. E João como o Filho de Deus. Ao unir todas estas quatro diferentes visões de Cristo, podemos ter um conhecimento mais completo do que ele é. Ele é Rei, mas também é Servo. Ou, dito de outra maneira, ele é um Rei humilde. É Homem e Deus, tal como nos mostram isso em Lucas e João. Parece uma contradição, mas não é; essa é a realidade de Cristo.

Como poderia um só homem mostrar esses diferentes aspectos de Cristo? É necessária a pluralidade para expressar a Cristo. Por isso, só a igreja, em sua pluralidade, pode expressar totalmente a Cristo.

Se lermos Efésios capítulo 4: 11 encontramos cinco ministérios. Ali estão os apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres. Através deles, o Senhor capacita a igreja; mas na realidade, estes cinco ministérios são cinco expressões de Cristo. Cristo é o verdadeiro Apóstolo, o verdadeiro Profeta, o grande Evangelista, o bom Pastor, e o grande Mestre. Assim que cada um destes cinco ministérios expressa cinco aspectos da maravilhosa pessoa de Cristo.

Quando lemos o Novo Testamento, achamos especialmente a três autores: Pedro, Paulo e João. Eles são três dos maiores escritores do Novo Testamento, ao mesmo tempo que foram os três maiores apóstolos do Novo Testamento. Cada um deles tem um caráter próprio. Embora o Senhor tenha tratado com cada um deles, nunca anulou o seu caráter. Embora eles fossem transformados à semelhança de Cristo, nunca deixaram a sua peculiaridade. Cada um deles expressa a Cristo de uma maneira diferente. Pedro o expressa de uma maneira, Paulo de outra, e João de outra.

É muito importante ver que nós fomos criados de uma maneira distinta uns dos outros, que temos um caráter diferente. Deus necessita de todos os caracteres, de todo tipo de pessoas, porque assim ele vai poder expressar através de cada um deles esta multiformidade da Sabedoria de Deus.

Alguns pensam que para sermos feitos semelhantes a Cristo, temos que perder as nossas características individuais, e nos converter em algo assim como clones de Cristo. Mas se tivesse sido essa a vontade de Deus, teria sido muito fácil para Deus criar clones. Mas o longo trabalho que o Espírito Santo faz em nós hoje, um trabalho muito paciente e meticuloso, é para nos transformar na imagem de Cristo sem deixar de ser o que nós somos. Sem anular a nossa alma. Uma coisa é o quebrantamento da alma e outra é a anulação da alma.

Nós temos uma alma que expressa a nossa personalidade. E cada alma quebrantada é um dos destaques de Cristo mostrado às potestades superiores.

Iridescente

A palavra "multiforme" de Efésios 3:10, no grego, é uma palavra muito rica em significados. Não se refere simplesmente a algo que tem muitas formas, mas a algo que emite muitos brilhos de luz multicoloridos. Cristo é uma realidade iridescente.

Imediatamente isto nos leva a associá-lo com as pedras preciosas. Na natureza existem as pedras preciosas, que podem expressar o colorido e o brilho de uma maneira especial. Na Bíblia, as pedras preciosas ocupam um lugar muito importante, porque são muito ilustrativas a respeito da obra do Espírito Santo no homem.

No peitoral do sumo sacerdote havia doze pedras preciosas, e cada pedra representava uma tribo de Israel. E cada pedra tinha uma cor e uma história diferente. Quando nós vamos ao Novo Testamento, de novo encontramos as pedras preciosas, na Nova Jerusalém, associadas aos doze apóstolos do Cordeiro.

O que na natureza pode expressar melhor o brilho e o colorido são as pedras preciosas. As pedras nas Escrituras representam o caráter que o Espírito Santo está forjando em nós.

É verdade que hoje somos pedras vivas, mas ainda não somos pedras preciosas. Somos pedras em processo de transformação. Ainda somos pedras opacas, que ainda não damos o brilho desejável. Como uma pedra do caminho, que não deixa passar a luz através de si. Não tem nenhuma transparência nem brilho. Assim somos muitos de nós ainda. Aquilo de Cristo que deveríamos mostrar ainda encontra resistência em nós.

As pedras preciosas se formam por meio das altas pressões e as altas temperaturas. Assim também, através dos diversos e numerosos tratamentos, o Espírito Santo vai transformando em pedras transparentes, para que a luz de Cristo possa passar por nós e tomar a cor que corresponde a cada um de nós.

Cada um de nós tem sido chamado a ser uma pedra preciosa; assim Cristo se expressará através de nós com cores diferentes - a cor do nosso caráter, da nossa personalidade. De modo que quando os anjos e as potestades superiores, olharem para a igreja, eles possam ver, espiritualmente falando, muitos brilhos, muitas cores, que é o que o Espírito Santo terá formado em nós. Quer dizer, o que de Cristo terá sido formado em nós, que não será o mesmo em todos, mas segundo a peculiaridade de cada caráter, segundo a expressão particular de cada um.

Por isso é que Pedro é diferente do Paulo e de João. Quando lemos as epístolas de Paulo, tocamos a Cristo, mais precisamente, ao Cristo de Paulo. E quando lemos ao Pedro, tocamos o Cristo de Pedro. Quando lemos João tocamos a Cristo de João. Não é que sejam três Cristos, é um e o mesmo, mas se expressa de três diferentes maneiras.

Assim, se nós hoje formos 25 irmãos reunidos aqui, e se tivermos sido tratados de alguma forma pelo Espírito Santo, haverá 25 expressões diferentes de Cristo. Um mostrará melhor a paciência de Cristo, outro mostrará melhor a ternura de Cristo, outro mostrará melhor a autoridade de Cristo, outro a generosidade de Cristo, a doçura de Cristo, etc. Assim, em todos nós, em conjunto, serão mostradas todas as características de Cristo.

Quando lemos Mateus capítulo 5, encontramos 9 bem-aventuranças, que são nove expressões de Cristo. E em Gálatas capítulo 5 encontramos as 9 manifestações do fruto do Espírito, que é o caráter de Cristo. Assim é expressa a multiformidade de Cristo.

Do individual ao coletivo

Nenhum de nós vai alcançar jamais toda a estatura da plenitude de Cristo. Porque a estatura da plenitude de Cristo só pode ser alcançada pela igreja em seu conjunto. É na igreja onde Cristo é mostrado em toda a sua formosura, não em um homem em particular.

Por isso o Senhor está trabalhando em nós tão fortemente, para nos tirar do nosso individualismo. Nós crescemos rodeados de um tipo de cultura, de uma espécie de educação e de uma filosofia, centradas no individualismo. Ensinaram-me que eu sou a unidade total, como se eu fosse o tudo. Entretanto, quando nós vemos a pluralidade de Cristo, quando vemos a formosura da igreja, começamos a dar-nos conta que nós em particular não somos a unidade, mas apenas uma parte da unidade. E que a unidade é todos nós em conjunto. Todos nós vamos expressar as belezas de um mesmo Cristo, mas cada um de um modo particular.

Deus está nos tirando do nosso individualismo e está nos trazendo para a pluralidade, para o sentido de corpo, à consciência do coletivo. Eu não basto para mim mesmo. Nenhum de nós se basta para si mesmo. Eu necessito de Cristo que o meu irmão tem. Há um pouco de Cristo que ele tem e que eu não tenho; portanto, eu necessito dele.

Dietrich Bonhoeffer dizia: "O Cristo do meu irmão é maior que o Cristo que há em mim". O que quer dizer com isso? É que há muitos Cristos? Não, não é isso. Só que eu tenho uma medida de Cristo que é insuficiente. Por isso muitas vezes estou abatido, por isso muitas vezes tropeço e caio, por isso muitas vezes perco a fé. Mas quando encontro o meu irmão, e ele ministra-me de Cristo, eu sinto que o Cristo dele é mais forte que o meu, então sou fortalecido. Cristo quer expressar-se através de muitos, e não através de uma só pessoa. Cristo quer que vivamos a sua vida corporativamente, não em forma solitária e auto-suficiente.

Agora, este caminho, que vai do individual para o coletivo, é um caminho bastante doloroso. Quando nós começamos a nossa carreira cristã, somos muito seguros de nós mesmos, e temos muitas ambições espirituais. Desejamos ser muito grandes espiritualmente: o melhor pastor, ou o melhor pregador, a irmã mais servil, etc., tudo o melhor. Queremos ser os maiores. Então nos enchemos de conhecimento, porque queremos ser o melhor. Mas à medida que vamos avançando por este caminho, o Senhor vai tocando as nossas fortalezas, e vai quebrando-nos. Assim vem quebrantamento atrás de quebrantamento.

Antes parecia que éramos mais inteligentes; agora já não somos tanto. Antes éramos muito fortes, agora já não somos tanto. Antes podíamos fazer muitas coisas sozinhos, agora não podemos fazer as coisas sozinhos. Necessitamos cada vez mais dos irmãos. E isso conduz a um profundo quebrantamento. Isso nos faz diminuir muito, até à extremos surpreendentes.

Muitas das coisas que nos acontecem diariamente são golpes do Espírito Santo à nossa vaidade, a nossa presunção, para que nós deixemos de ser cristãos individualistas, e passemos a viver só como membros do corpo de Cristo.

Uma mudança de foco

Na epístola aos Romanos, ocorre algo muito interessante. Quando lemos os primeiros capítulos até o capítulo 8, parece que vamos em um permanente aumento, que vamos crescendo espiritualmente. Somos justificados, santificados e glorificados. E quando chegamos no capítulo 8 parece que alcançamos o topo da revelação.

Entretanto, quando vamos ao capítulo 12, ali produz em nós uma tremenda mudança de foco, uma mudança de paradigma. Ali nos diz que nós temos que ser renovados em nosso entendimento para conhecer a boa, perfeita e agradável vontade de Deus. Por que temos que ser renovados em nossa mente? Porque logo, nos versículos seguintes, nos diz que nós somos membros do corpo de Cristo. Não somos a unidade, não somos o corpo completo, somos só uma parte. Por isso diz: "Ninguém tenha de si mesmo um mais alto conceito do que deve ter". O individualista tem um alto conceito de si, mas aquele que chegou à realidade de ser membro do corpo tem que diminuir. E tem que reconhecer que no corpo há outros também, que tem outras expressões de Cristo que ele não tem.

Então, a boa, agradável e perfeita vontade de Deus, é a igreja. E na igreja, cada um de nós é apenas um membro.

O que estamos vendo de Cristo neste último tempo? Estamos vendo-o nesta expressão multicolorido e multifacetado. Estamo-lo vendo nesta multiexpressão no meio da igreja. Os grandes homens já não nos assombram. Os grandes líderes já não nos cativam. Porque a vontade de Deus neste tempo é expressar-se através do conjunto, da totalidade dos membros do corpo de Cristo.

Creio que nunca antes na história da Igreja houve tanta luz em relação a este assunto. Neste tempo uma luz muito potente está vindo, em todo mundo. Deus está fazendo um precioso trabalho de revelação.

Dois trabalhos maravilhosos

Muitas das coisas que acontecem em nossa vida cotidiana, muitos fracassos, e muitas lágrimas, sobrevêm-nos por causa disto: por um lado, para nos tirar do nosso ego, quer dizer, tirar o eu do trono do coração, e assim poder "ver" os irmãos, reconhecê-los e valorizá-los; e, por outro lado, ver que o Espírito Santo está trabalhando em nós para nos fazer transparentes e luminosos - não com a nossa própria luz, que não a temos, porque nós só refletimos a luz de Cristo.

Estes dois trabalhos são maravilhosos; entretanto, ambos também são bastante dolorosos.

Que o Senhor nos conceda a sua graça para conhecer a Cristo em toda a sua multiformidade, e que nos conceda a graça também de aceitar a preciosa obra do Espírito Santo. Porque se nós resistirmos esta obra do Espírito Santo, ele não vai poder realizá-la. Ele nunca vai violentar a nossa vontade. Às vezes nós lhe dizemos: "Por favor, não faça mais nada; não suporto mais; é muito doloroso para mim; detenha-te; espere um pouco". Então pode passar algum tempo, onde parece que os sofrimentos terminam, mas também ocorre que a obra preciosa do Espírito Santo é detida.

A Escritura diz que o Senhor Jesus "aprendeu a obediência por aquilo que padeceu", e veio a ser autor de eterna salvação, e também veio a ser sumo sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque. O que foi que capacitou o Senhor para vir a ser Salvador e Sumo Sacerdote, quer dizer, para cumprir o seu ministério terrestre e o seu ministério celestial? Os sofrimentos, as aflições. Assim também ocorre conosco. Temos que padecer aqui para que nós possamos expressar, por toda a eternidade, aquele Cristo que somos chamados a expressar. Hoje é o tempo que o Espírito Santo irá produzir em nós o seu trabalho.

O livro do projeto de Deus

No Salmo 139 diz que havia um livro no qual Deus escreveu tudo o que nós íamos chegar a ser. Quando ele nos formava no ventre da nossa mãe, ele ia formando o nosso caráter de acordo ao que estava escrito em seu livro. Cada um de nós é como é, porque estava escrito no projeto de Deus para cada um. Por outro lado, em Efésios 2:10 nos diz que Deus preparou de antemão certas obras para que andássemos nelas.

Se nós unirmos estas duas passagens, temos algo tremendamente grande: que Deus de antemão projetou a nossa personalidade e também determinou as coisas que temos que fazer. Quer dizer, o que teríamos que ser e o que teríamos que fazer foi projetado de antemão. Com que propósito? Para expressar a Cristo. Quer dizer, algum aspecto do que Cristo é; algumas obras das que Cristo faz. Isto é algo maravilhoso, porque nos mostra que a nossa vida não é fruto do acaso, mas tudo foi preparado por Deus de antemão.

Há algo que nós temos que chegar a ser, e há algo que temos que fazer. Há um pouco de Cristo que você tem que expressar, e que outro não vai expressar. Há algo que você tem que fazer e que outro não vai fazer. Cada um de nós tem um pouco de Cristo com característica própria, onde o irmão que está ao seu lado não tem. Esta é a multiforme sabedoria de Deus. Esta é a iridescência de Cristo.

Cristo é maravilhoso, e Cristo está se formando em nós. Cada um de nós é precioso para Deus. Cada um de nós tem um brilho de Cristo, uma cor de Cristo.

Que o Senhor nos socorra irmãos e nos ajude. Que nos dê ânimo. Quando estivermos decaídos: Tenhamos ânimo! Fé! Esperança! O Senhor completará a sua obra em nós. O Senhor nunca deixou a coisa pela metade, por fazer. Ele sempre nos leva mais adiante.

A necessidade do parakletos

Há alguns versículos na Escritura que dizem que o Espírito Santo é o nosso Consolador, em grego, o nosso parakletos. A palavra parakletos tem muitos significados, como Ajudador, Advogado, etc. Mas há um antecedente que é especialmente precioso. Nas antigas olimpíadas gregas, quando os atletas que corriam a maratona caíam pelo caminho, existia uma pessoa que se chamavam parakletos. Ele estava autorizado a levantar o cansado, animá-lo e torná-lo a pô-lo na corrida.

Isso é o que faz o Espírito Santo como nosso parakletos. Quando estamos cansados, quando tropeçamos, quando estamos desanimados, quando parece que não há esperança para nós, então o Espírito Santo nos levanta, e nos diz: Vá adiante!

Que o Senhor nos conceda a sua graça para chegar até o final, e para que aquilo que é de Cristo a qual fomos chamados a expressar seja expresso, e aquilo que é de Cristo que fomos chamados a fazer seja feito. Amém.


Elizeo Apablaza

(Transcrição de uma mensagem ministrada em Macaé, Brasil, em fevereiro de 2008.)

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