Não Eu, Mas Cristo Vive em Mim



"Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum, pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo. Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço." (Romanos 7:18-19)


Nesta passagem está registrada uma profunda verdade que todo cristão deve aprender: “

em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum.” Este asunto é de difícil discernimento, contudo, ao ganharmos a revelação deste fato, começamos a contemplar um pouco do significado da caminhada cristã. O Senhor Jesus falou certa feita: “Eu sou a videira, vós os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito frutos;

porque sem mim nada podeis fazer.” (João 1515).

O projeto do Senhor para a nossa vida visa, por um lado, revelar quem nós somos, e por outro, mostrar quem Ele é.

Por desconhecermos esta verdade, o nosso viver diário é marcado por constantes fracassos. Estes fracassos ocorrem, principalmente, por desconhecermos por completo quem somos. O novo nascimento não implica simplesmente numa transformação de

vida, mas numa real substituição de vida: a nossa pela de Cristo.

No livro de Gálatas 2:19b e 20 está escrito: Estou crucificado com Cristo, logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que agora tenho na carne, vivo pela fé do filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim.

Na esfera da vida natural o viver cristão é impraticável.

É loucura e perda de tempo o homem tentar imitar a Cristo. O texto é claro: em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum. No entanto, mesmo a Bíblia nos ensinando este fato, continuamos gastando tempo e mais tempo tentando servir a Deus; tentando fazer a obra de Deus e imitar ao Senhor pela nossa própria carne.

É interessante observar que o apóstolo Paulo admitiu que nele havia um desejo de fazer o bem, contudo, foi categórico quando afirmou: em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum. Por mais que ele, mesmo regenerado, tentasse agradar a Deus com a sua vida natural, o resultado era sempre o mesmo: fracasso total. Será que é diferente conosco? Buscar agradar a Deus na força da nossa carne é insensatez.

Por que havia em Paulo este desejo de fazer o bem! De onde ele herdou este querer o bem? No livro de Gênesis 2:16-17 encontramos a resposta: “E o Senhor Deus lhe deu esta ordem: De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás.”

Observemos que a árvore proibida, da qual o cabeça federal da raça humana - Adão - tomou o fruto e se alimentou, chamava-se árvore do conhecimento do bem e do mal. Herdamos de nossos primeiros pais uma natureza caída e rebelde. Contudo,

precisamos lembrar que não só a maldade faz parte da constituição humana caída, existe uma bondade natural também. O velho homem é composto não só de incredulidade, maldade, corrupção, impureza, mentira, engano..., ele também se expressa muito

bondoso, alegre, humilde, paciencioso, generoso, cavalheiro, religioso.... Estas atitudes, por mais louváveis que sejam, partem da vida natural do homem, ou seja, é herança da árvore proibida.

Na Cruz, o nosso velho homem foi crucificado com Cristo. O mal e o bem foram cravados em Cristo, em sua morte. (Romanos 6:6). Agora sabemos de onde Paulo herdou o querer o bem!

Jamais poderemos agradar a Deus com a nossa vida natural. Nada do que a carne possa produzir será aceito por Deus.

Voltando a Paulo, concluímos que, mesmo admitindo o seu desejo em fazer o bem, ele reconheceu que havia em seu íntimo uma inclinação natural para o mal. Daí o seu grande grito de desespero: Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta

morte? Romanos 7:24.

A resposta a este clamor vem em seguida. Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. Romanos 7:25a. É bom observar que, quem liberta é uma Pessoa e não um conjunto de ensinos religiosos. Somente Cristo pode viver a vida cristã em nós. É pura presunção tentar viver a vida cristã na força carnal.

O problema é que muitos crêem que são intrinsecamente bons ou morais. Pelo menos, dizem não somos tão maus quanto os outros. Mas aqueles que foram chamados por Deus, sabem claramente que a suas justiças são abomináveis aos olhos celestiais. O profeta

maior aponta. “Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapos de imundícia; todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniqüidades, como um vento, nos arrebatam.” Isaías 64:6.

Muitos filhos de Deus pensam que podem servi-lo com as suas vidas naturais. São extremamente ativos, dedicados, zelosos e cheios de boa intenção, no entanto, o Senhor não pode aceitar nada de suas mãos, pois o que realizam são suas próprias obras, não as de Deus. Está escrito em Efésios 2:10: “Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas.”

A vida natural é tremendamente forte em todos nós, por isso, o Pai, em sua graça, precisa soprar sobre nós os seus suaves ventos de tribulações. É o tratamento da cruz. As provações e os sofrimentos sobre os santos têm como finalidade levá-los ao fim de si mesmos. Qual é o único lugar existente neste universo capaz de lidar com o nosso ego? A cruz. Deus não está interessado no quanto podemos produzir para Ele, Ele quer contemplar o seu Filho bendito em cada regenerado.

Pense nisto: Se o Senhor Jesus "desistiu" de você lá no Calvário, por que você não faz o mesmo?

Recentemente aprendi algo muito precioso. Há quatro tipos de relações entre uma pessoa e Cristo. A primeira diz Tudo eu e nada de Cristo. A segunda: Eu e Cristo. A terceira: Cristo e eu. A quarta: Não eu, mas Cristo. É exatamente esta última que apresenta a expressão

genuína do cristianismo. O apóstolo Paulo afirmou. “Porquanto, para mim, o viver é Cristo.” (Filipenses 1:21a).

Paulo não está dizendo aqui que ele tem como alvo o ser igual a Cristo. Ele também não diz que Cristo é o seu padrão maior de imitação. Ele simplesmente afirma: Para mim, o viver é Cristo. Em outras palavras, Paulo está afirmando que Cristo é a única razão do seu viver. Se não podemos dizer: “Já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim”, não sabemos nada sobre o cristianismo.

Irmãos, Deus não está interessado no melhor que cada regenerado pode oferecer a Ele, o seu desejo é que o seu Filho cresça e nós diminuamos. Crescimento espiritual é o acréscimo de Cristo e o decréscimo de cada um de nós. O Pai celestial busca uma única

coisa nos seus santos: contemplar o seu Filho amado. O livro de Colossenses 3:11 aponta: “No qual não pode haver grego nem judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro, cita,

escravo, livre; porém Cristo é tudo em todos.” 

Ninguém que se encontra cativo pelo seu próprio ego pode ser usado por Deus. Os que vivem centrados em seu próprio eu se encastelam em suas próprias justiças, se exaltando

quando conseguem algum sucesso, ou buscando um culpado quando os fracassos batem em suas portas. Somente a operação da cruz pode tratar deste maldito ego dominador. Por sermos tão amantes de nós mesmos, Deus precisa ordenar circunstâncias especiais para tratar com o nosso eu. Deus, em sua providência, sabe como lidar conosco.

O princípio da cruz não é um assunto temporal, ele atravessa o véu do tempo e repousa na eternidade. A cruz é o único meio pelo qual o homem pode encontrar a libertação do seu pecado, do mundo, do diabo, da carne e do eu.

Precisamos da graça para compreender que a cruz é um princípio que governa a Trindade santa. Necessitamos de revelação para vermos que a Igreja só pode se expressar como

uma realidade espiritual, se a operação da cruz for um fato real no viver de cada santo. O texto de 2 Coríntios 4:10 diz: “Levando sempre no corpo o morrer de Jesus, para que

também a sua vida se manifeste em nosso corpo.” Que se frise bem: à parte da operação da cruz, é impossível tocarmos a realidade espiritual do Corpo de Cristo.

Cada regenerado foi chamado para viver para uma única Pessoa. A Igreja, o Corpo de Cristo, também tem um único chamado: viver exclusivamente para agradar ao seu

Senhor. O texto de 2 Coríntios 5:14-15 revela: “Pois o amor de Cristo nos constrange, julgando nós isto: um morreu por todos; logo, todos morreram. E Ele morreu por todos, para

que os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas para Aquele que por eles morreu e ressuscitou.” Cristianismo é poder afirmar com convicção: “Não eu, mas Cristo vive em mim.”

A melhor coisa a se fazer é: "jogar a toalha", ou seja, render-se completamente, desistir de nós mesmos. Permita que o doce Espírito Santo aplique profundamente a cruz em sua vida. O tratamento da cruz é doloroso, pois ele toca no âmago do nosso ser e mexe com todas aquelas coisas, que por nós mesmos, jamais tocaríamos. Só seremos transformados à

imagem do Filho de Deus na medida em que a cruz realizar a sua obra em nós.

Para sermos bênçãos na vida de outros, a cruz é um princípio insubstituível: “Dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me. De modo que, em nós, opera a morte, mas, em vós, a vida.” (Lucas 9:23 e 2 Coríntios 4:12).

Que Deus, em sua graça, revele a sua palavra no coração de seus santos!


(Tomaz Germanovix)

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