O Perdoado Perdoa

"Por isso, o reino dos céus é semelhante a um rei que resolveu ajustar contas com os seus servos. E, passando a fazê-lo, trouxeram-lhe  um que lhe devia dez mil talentos. E o senhor daquele servo, compadecendo-se, mandou-o embora e perdoou-lhe  a dívida."

(Mateus 18:23-24, 27)


Prisioneiros não são somente aqueles que estão detidos atrás das grades de aço de

uma penitenciária. Há muitos que, mesmo não estando presos em uma cadeia pública,

estão detidos atrás de grades invisíveis. São pessoas que, ainda que caminhem livremente

pelas ruas, andam acorrentadas no passado curtindo a fossa de suas mágoas. Vítimas de

sentimentos de amargura, culpa e autocomiseração vivem entoando o cântico das lamúrias. Encontram-se tão centralizadas em seus próprios sentimentos amargos que se vêem sempre como vítimas de tudo e de todos. São muitos os sentimentos que paralisam as pessoas e as mantêm imobilizadas.

Porém o que se percebe é que a falta de perdão está envolvida com quase todos eles. Quando o perdão não é aplicado, seja qual for a situação, a pessoa entra num processo de

tortura interior. Seu humor será afetado, possivelmente sua saúde sofrerá danos, sua

alma ficará amarga, e, por fim, poderá experimentar o esmagamento provocado pelo

sentimento de culpa.

O quadro é pesado, porém muitos são os que entram por este caminho e se atolam

em seus próprios sentimentos pecaminosos.

A palavra de Deus nos mostra no livro de Salmo 32:3 a seguinte verdade: “Enquanto

calei os meus pecados, envelheceram os meus ossos pelos meus constantes gemidos todo o dia.” Devemos encarar os fatos. Os sentimentos que destroem os outros e envenenam a nossa própria alma nunca fizeram parte do plano original de Deus para o homem. Eles acompanham o homem desde a queda no jardim do Éden. O pecado trouxe essa herança terrível. Imediatamente após a queda já percebemos a ação do pecado nos sentimentos do homem. No livro de Gênesis 3:9-12 lemos: “E chamou o Senhor Deus ao homem e lhe perguntou: Onde estás? Ele respondeu: Ouvi a Tua voz no jardim, e, porque estava nu, tive medo e me escondi. Perguntou-lhe Deus: Quem te fez saber que estavas nu? Comeste da árvore de que te ordenei que não comesses? Então disse o homem: A mulher que me deste por esposa, ela me deu da árvore, e eu comi.”

Neste trecho podemos enumerar os vários tipos de sentimentos que Adão experimentou.

Sentimento de culpa, medo e vazio. Numa tentativa de se justificar, transferiu a sua

responsabilidade ou culpa ao próprio Deus e à sua mulher. Também demonstrou que nele

havia um problema em relação à compreensão do perdão. O pecado trouxe conseqüências

graves ao homem. É por isso que muitas pessoas se tornam escravas de seus próprios sentimentos. Billy Graham coloca que a inveja é um dos primeiros sentimentos que brotou no coração do homem. É um sentimento que não veio como consequência da queda, mas que teve participação ativa no seu processo.

Diante deste diagnóstico tão pesado, a primeira coisa que devemos saber é que não existe remédio algum neste mundo capaz de curar alguém nestas condições. O máximo que se pode conseguir são “pílulas paliativas" para aliviar o sofrimento. A solução não vem deste mundo, mas do Criador do universo. O que precisamos entender é que não poderemos acertar as nossas contas com os homens enquanto não encararmos o Juiz eterno para acertar as nossas diante Dele.

O nosso texto base nos apresenta uma das mais profundas manifestações da graça de Deus em relação ao homem pecador. Diante de um rei foi colocado um homem que lhe devia dez mil talentos. Para termos uma idéia do montante deste valor precisamos pensar um pouco nas comparações que se seguem:

Um denário = Um dia de serviço.

Um talento = Seis mil denários = Seis mil dias de serviço.

Dez mil talentos = Sessenta milhões de denários = Sessenta milhões de dias de serviço.

Todos os impostos anuais somados dos estados da Iduméia, Judéia e Samaria perfaziam o valor de seiscentos talentos.

O Senhor Jesus usou este exemplo para mostrar que, apesar da nossa dívida ser impossível de ser paga a Deus, Ele nos concedeu um perdão eterno. Toda a culpa do nosso pecado e todas as nossas transgressões foram levadas por Cristo Jesus na cruz. A obra de Cristo na cruz foi absolutamente perfeita, não havendo necessidade alguma de muletas humanas para ajudar o homem na sua libertação. No livro de Colossenses 2:14 está escrito: “Tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz.” Satanás tenta de todos os modos cegar-nos para toda esta maravilhosa verdade. Hal Lindsey no seu livreto "A viagem da culpa" escreveu: O motivo número um por que o poder de Deus sofre curto-circuito em nossas vidas é que realmente nunca aprendemos o que significa a cruz de Cristo numa base cotidiana. A cruz é a base contínua de Deus aceitar-nos e perdoar-nos.” A graça nos conquistou em Cristo Jesus deixando-nos totalmente livres, isentos de qualquer culpa ou dívida diante do Deus eterno.

Uma vez que já fui redimido em Cristo Jesus, então devo crer e tomar posse deste perdão pleno para a minha vida. Sendo um perdoado, agora posso perdoar. Não sou mais um escravo de meus sentimentos, pois Cristo já me libertou. “Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.” (João 8:36).

Os que nasceram de novo já têm um parâmetro para trabalharem na questão do perdão em suas vidas. No livro de Efésios 4:32 está escrito: Antes, sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus, em Cristo, vos perdoou. Esta verdade também pode ser constatada em Colossenses 3:13: “Suportai-vos uns aos outros, Perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós.”

Uma vez que fomos libertos em Cristo Jesus, podemos perfeitamente perdoar a todo aquele que nos ofende. Quando não perdoamos, mas temos um sentimento estranho agindo em nós, devemos encarar isto como um pecado sério diante de Deus. Precisamos confessar este sentimento como um pecado. Em seguida, devemos tomar posse do perdão que já nos foi outorgado por Cristo Jesus. Infelizmente, muitos, por não conhecerem a graça plena de Deus na questão do perdão, sofrem, ora sendo acusados pelo diabo, ora por suas próprias consciências. Esquecem-se de que nós não temos mais dívida alguma para acertar, pois tudo já foi pago completamente pelo Senhor Jesus. O escrito de dívida já foi rasgado, e o próprio sangue de Jesus é o selo da nossa libertação. Não precisamos mais viver escravizados por sentimentos pecaminosos, pois Cristo Jesus já nos deu a vitória. Alguém, acertadamente, disse: A Bíblia nunca diz a um crente, depois da cruz, que peça perdão. Já é um fato acertado com Deus, e Ele simplesmente quer que reivindiquemos o que já é verdadeiro. Não Precisamos implorar algo que já nos foi dado em Cristo Jesus. Precisamos tomar posse.

O Senhor nos convida a termos uma vida totalmente liberta. Já fomos perdoados em Cristo, por isso podemos perdoar plenamente.


Tomaz Germanovix


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